Este mês estivemos à conversa com Carla Oliveira, Head of HR & Organizational Development Portugal da Enercon. Descreve-se como pragmática, simples e de sorriso fácil e acredita que o bom humor é chave para relativizar os problemas. Em criança queria ser juíza mas o seu percurso acabou por ser em gestão. Nesta entrevista, revelou-nos de que forma a Inteligência Artificial está a impactar o negócio e quais os temas que considera prioritários no que toca à gestão de pessoas.

Entrevista a Carla Oliveira, Head of HR & Organizational Development Portugal da Enercon.

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O que queria ser quando fosse grande?

Em pequena dizia que quando crescesse queria ser juíza e é uma área que ainda hoje em dia me desperta efetivamente muito interesse, aplicando ao laboral. Tinha a (inocente) ideia que desta forma podia ajudar e resolver todos os problemas, opinião que se foi diluindo com o passar dos anos. Para felicidade do meu pai não foi a área que segui, acabei em gestão mas trabalho muito diariamente com questões de direito, o que ajuda um pouco neste sonho de criança.

 

O que destaca como as experiências mais marcantes do seu percurso profissional? Quer pela positiva, quer pela negativa.

Começando pela negativa, há um momento que não esqueço apesar de já terem passado 2 décadas depois de ter acontecido: a primeira vez que tive de comunicar a um colaborador que não iria continuar a trabalhar na organização. Foi literalmente o primeiro despedimento que fiz e marcou-me pela intensidade e mistura de sentimentos do momento. Se por um lado representava a organização, por outro estava perante uma pessoa que igualmente tinha os seus objetivos e vida. Podem passar os anos que passarem que vou com toda a certeza recordar (o momento, os sentimentos, o local, as expressões faciais e verbais….). 

Passando ao momento positivo, felizmente tenho muitos mas escolho o que me mudou enquanto humana e profissional:  1,5 anos de expatriamento, num país muçulmano, há mais de uma década atrás. Profissionalmente foi um desafio estupendo que igualmente fez com que enquanto pessoa sem dúvida alguma fez muito do que sou hoje.

 

Quais são os principais valores e princípios que guiam a estratégia de recursos humanos da Enercon? E com quais se identifica mais?

Em termos de Recursos Humanos primamos pela comunicação, proximidade e rigor e identifico-me em pleno com eles, não podendo escolher apenas um. A comunicação, apesar de ainda termos um caminho a percorrer, é uma forma de estarmos perto dos nossos colaboradores e isso leva à proximidade que tentamos ter (ajustando à dimensão e dispersão geográfica). Se não falarmos entre nós, ouvirmos e sermos ouvidos, não se cria esta relação de parceria que temos de ter na organização. Por outro lado, rigor no trabalho desenvolvido pela equipa é uma forma de pensar nossa, e se formos confiáveis com este valor a ser praticado, conseguimos igualmente que sejamos próximos. Na prática vejo estes 3 valores como um triângulo “mágico” para o sucesso interno da equipa.

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Que tendências e desafios espera para o futuro do setor?

A falta de mão de obra tem sido um problema já há alguns anos e nem refiro a especializada porque aí será pior ainda. Temos efetivamente uma enorme falta de pessoas para trabalhar em todas as áreas e que apenas tem sido colmatado pela vaga de emigração que temos sentido nestes últimos anos. No nosso caso já sentimos esta falta desde 2019 e continua a ser um tema com o qual ainda não nos habituamos a trabalhar. Em termos de tendências para o setor, que tem estado muito em voga dados os mais recentes acontecimentos energéticos mundiais, o nosso ramo virou uma trend no mercado. Quero com isto dizer que apesar da falta de mão de obra já mencionada há interesse no setor, mas a procura e a oferta não estão alinhadas o que chega a ser irónico. O que precisamos efetivamente é difícil de conseguir, o que o mercado oferece nem sempre é para o que precisamos.

 

Desde o início da sua carreira até aos dias de hoje, o que acha que mudou mais?

Escolho 2 pontos de melhoria: a comunicação (na sua velocidade e meios) e a agilidade. É uma verdade óbvia que pelo menos na ultima década a forma de conseguir comunicar e chegar aos nossos públicos mudou drasticamente, hoje é muito imediato e até “fácil”. Ainda sou do tempo do fax e da carta em papel… Hoje em dia muitos dos colegas que trabalham connosco diariamente nem sabem o que é um fax! Tem as suas vantagens óbvias mas devemos olhar igualmente com algum cuidado porque aumentou muito a responsabilidade de quem emite a comunicação. Por outro lado, tornamo-nos muito mais ágeis e práticos, o que aprecio particularmente pela minha veia pragmática. Há efetivamente uma tendência, ainda com muito a desenvolver, de criar esquemas mais simples, de tornar a vida de trabalho prática. Igualmente temos de ter algum cuidado de não chegar ao ponto demasiado “simples”.

 

Segundo a última edição do nosso estudo Workmonitor, o work-life balance tem agora uma importância tão grande quanto o salário na lista das prioridades dos profissionais. A Enercon promove algum tipo de iniciativas para promover o bem-estar dos colaboradores? Se sim, quais?

Diria que a importância não é ainda tão grande como o salário especialmente com os níveis de inflação que sentimos recentemente e a crise imobiliária, mas efetivamente tem subido bastante. O melhor exemplo que posso dar neste ponto é o regime de trabalho remoto que temos em vigor, para as funções que é possível aplicar naturalmente. Desde Março 2020 que temos as equipas possíveis a trabalhar em remoto, nunca tendo efetivamente acontecido um regresso ao 100% presencial. Temos implementado um sistema de 8 dias mínimo de regra geral para trabalho no escritório, que pode passar a 4 dias ou mesmo a 1 dia em casos excecionais. Este sistema, juntamente com alguma flexibilidade horária que temos especialmente por termos trabalho internacional e vários fusos horários, tem contribuído muito para que os nossos colegas tenham reportado sucesso de medidas.

this is a man and a woman using a computer
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A Inteligência Artificial é um dos grandes temas do momento, podendo trazer tanto desafios como oportunidades para as organizações. A Enercon já sente o seu impacto? Como é que a empresa tira partido das novas tecnologias e inovações?

Já começamos a sentir esta “presença” na área de Recursos Humanos em 2 formas: por um lado a preocupação partilhada por alguns dos colaboradores sobre os impactos possíveis na continuidade dos seus postos de trabalho, por outro há um conjunto crescente de ajuda e simplificação no trabalho do departamento que pode acontecer. Começando pela abordagem interna sobre “substituição” revela muito desconhecimento do que é efetivamente a Inteligência Artificial e o que pode fazer.  É importante que tenhamos todos em mente que neste processo não há troca de pessoas por máquinas (ou robots) mas sim um apoio às funções – os inteligentes neste processo temos de ser nós, as pessoas (os inteligentes naturais) e que coloca à disposição formas, métodos, processos e outros para que possamos ser mais produtivos, rápidos, centrar no que efetivamente interessa (a parte artificial da inteligência). Quem tem de ser inteligente são os humanos que programam esta artificialidade a gerar os resultados que queremos e não nos fornece o que quer. Entendo uma grande confusão nestes conceitos todos. Por outro lado, especificamente no trabalho do departamento, temos toda uma possibilidade de criar mecanismos que simplifiquem o nosso trabalho e nos deixem o espaço e tempo disponíveis para os temas humanos. O mais desenvolvido de N/parte prende-se com aplicar IA no recrutamento, para tratamento de grande volume de dados de candidatos e de funções. Aí temos alguns projetos piloto a decorrer e que aguardamos o feedback para que possam (ou não) ser implementados. Por outro lado, a área de reporte de dados é onde temos igualmente muito espaço de trabalho e onde desenvolver. Falo dos dados dos colaboradores para uma série de necessidades internas mas igualmente todos os outros que se geram à sua volta. Muito que fazer!

 

Quais são os temas que considera prioritários na vossa Gestão de Pessoas?

Felizmente não nos faltam temas de trabalho, o que torna efetivamente aliciante o caminho que percorremos. Vou eleger os 3 mais “quentes” no ranking interno. O recrutamento tradicionalmente é um dos temas que vai estar em cima da mesa nos próximos tempos, porque continuamos a crescer em Portugal, não só em volume como em complexidade de funções a preencher. Obriga a equipa de recrutamento a ser cada vez mais imaginativa e inovadora na divulgação da empresa, da procura destes candidatos. Por outro lado, a comunicação (interna e externa) há um grande caminho a percorrer e a tratar. Temos efetivamente um caminho de melhoria já percorrido mas longe do que pretendemos. Um terceiro tema que começamos a trabalhar intensivamente tem a ver com a politica de benefícios. O mercado pede por este desenvolvimento se queremos efetivamente ter sucesso no recrutamento e na manutenção de colaboradores internos. Hoje em dia a marca da entidade empregadora é efetivamente importante, mas temos de olhar para toda esta experiência como um todo e não numa versão mais limitante.

 

Como se descreve, para lá da profissional que é?

A profissional que está no dia-a-dia nas operações é muito da pessoa que é na essência, não conseguindo separar as características e todas acabam por se tocar entre si. Genericamente descrevo-me como pragmática, simples e bem humorada. Na vida tento sempre simplificar as situações e as pessoas, numa perspetiva de ajuda e de tentar chegar ao objetivo de forma eficaz e eficiente. Uma coisa que não pode faltar é o bom humor – há sempre a piada que se aplica, ainda por cima porque sou de sorriso fácil e acredito que algum humor na vida ajuda à simplicidade e pragmatismo que igualmente me caracterizam.

entrevista a:
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carla oliveira

head of hr & organizational development portugal, enercon