No final de cada dia, que valor acrescentamos? O que de diferente fazemos? Qual é de facto o nosso contributo? Mergulhados na velocidade do nosso tempo, e na urgência dos nossos dias, muitos são aqueles em que a resposta não nos é óbvia e, quando é, fica aquém daquilo que gostaríamos.

Hoje dá-se mais valor aos números nas pautas dos nossos jovens do que às atitudes que tomam. Valorizam-se "quadros de honra" quando o foco deveriam ser tantos outros "quadros" que reconhecem valores maiores.

O que queremos ou esperamos das novas gerações? Mais e melhor do que temos hoje nas nossas empresas, nas escolas, em cada uma das pessoas com que nos cruzamos. Na realidade queremos aquilo em que tanto procuramos investir pessoal e profissionalmente: um capital humano com conhecimento, ambição, focado nos objectivos, com o coração no sítio certo e um propósito. E é aqui que se calhar o desalinho começa: no propósito, ou na falta dele.

Cada vez mais o foco deve estar no todo, e não só na parte que somos cada um de nós, ou nos nossos resultados, nas nossas conquistas, nas nossas batalhas. Temos a obrigação de orientar as novas gerações para um propósito comum. Permitir-lhes serem criativos, conscientes do que os rodeia, ambiciosos, e crentes e focados nas suas capacidades, mas com um olhar longe do seu umbigo. 

Porque preparamos os nossos jovens para encaixarem em moldes, em ideologias, em grupos, em formas de pensar, quando o que queremos é que se destaquem e que façam diferente?

Defendemos hoje a inclusão, o olhar para o outro, o sermos empáticos, solidários e disponíveis; ao mesmo tempo que se torna incontornável a capacidade de nos mantermos focados na carreira e na família, não nos esquecendo de nós próprios.

Pensando bem, é um tremendo malabarismo digno das pinturas dos túmulos do antigo Egipto. O que me leva a pensar que malabarismos já se fazem há um punhado de anos, pelo que se calhar precisamos somente de ajustar e aperfeiçoar técnicas, face àquilo que tentamos equilibrar.

"A educação vem do berço" é uma frase que já todos nós ouvimos ou lemos.

Que responsabilidade temos nós no contrapeso daquilo que a actualidade nos exige em temas como a igualdade de géneros, a equidade nas oportunidades, lideranças conscientes entre outros chavões com que lidamos diariamente?

Temos a obrigação moral e social de investir nas nossas pessoas, e cada vez mais isso se vê já no seio das empresas, mas este é um caminho que começa no "tal" berço, numa busca de que o propósito seja o bem comum. E aqui o resultado pode bem ser a soma das partes (Aristóteles que me desculpe a ousadia). O propósito de cada um de nós pode e deve ser algo com que nos identificamos e complementares entre si, seja ele a inclusão, a defesa das minorias, a igualdade, o equilíbrio entre vida familiar e profissional. Cada um de nós investindo no mundo que existe para além de nós próprios, pode fazer desalinhar o que temos hoje, criando algo melhor e maior.

No final de cada dia devemos ter conseguido ser educadores ambiciosos e sabedores de que os nossos não estarão sempre protegidos e que terão de "enfrentar" o Mundo com coragem (mas com medos conscientes). Não podemos assumir que "quando for, será" e que na altura eles serão capazes. Somos parte integrante, com responsabilidades bem vincadas, na sociedade do futuro. Há que procurar aliar essa responsabilidade, à assunção da necessidade de nos questionarmos e desafiarmos constantemente, e ao dever que temos de continuar o legado deixado por aqueles que nos antecederam. 

Temos de ter feito o exercício de não deixarmos cair no esquecimento que mesmo numa sociedade deficitária em alguns temas acutilantes, temos também uma história de conquistas: da liberdade de expressão que me dá acesso a este espaço; à igualdade de direitos que me permite enquanto mãe e mulher traçar e trilhar uma progressão de carreira, à possibilidade de educar um filho segundo os meus ideais, com uma visão no futuro e na liberdade que sei que irá respeitar, deixando, à passagem, a sua impressão digital, o seu cunho pessoal.

Termino este desabafo (ou artigo de opinião se quiserem assim chamar) com uma frase na qual já tropecei diversas vezes nos últimos anos, e que diz "There is no greater agony than bearing an untold story inside you"

Não podemos deixar de fazer história com a nossa passagem por aqui. Começa com os nossos, e transpõem-se rapidamente para o Mundo.

autora
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luísa cardoso

business unit manager, staffing, randstad portugal