Num contexto cada vez mais competitivo pelos melhores talentos, a proposta de valor das empresas hoje em dia tem de ir muito para além da componente remuneratória. No Montepio, para além da aposta no bem-estar, o investimento na formação dos colaboradores é visto como essencial para fomentar o desenvolvimento das suas competências, adaptadas também à visão de banca do futuro. 

Entrevista a Sandra Brito Pereira, directora de Recursos Humanos do Banco Montepio

 

 

Actuando num sector que vem sofrendo uma forte disrupção, que transformações destacaria como mais relevantes no passado recente do Montepio?

A digitalização dos nossos serviços e a aproximação a um perfil mais digital dos nossos clientes, a necessidade de maior agilidade e simplicidade nos processos tendo em conta os novos players do mercado como as fintechs e os bancos digitais, e um incremento da aposta na dimensão do ESG – Environment, Sustainability & Governance que, no caso do Banco Montepio, já faz parte do nosso acervo cultural, da nossa história, dos nossos valores e do nosso posicionamento no mercado.

Que mudanças foram aceleradas ou surgiram como consequência da pandemia?

A pandemia veio demonstrar que os novos modelos de trabalho mais flexíveis são igualmente produtivos, porventura até mais, e que a proposta de valor que fazemos aos nossos colaboradores ao incluir o tema da flexibilidade nos aporta uma vantagem competitiva. A Banca vai ter de saber fazer esse caminho sob pena de ficar em desvantagem face a outros sectores e indústrias. 

As equipas de trabalho têm progressivamente constatado que as lideranças mais assentes na autonomia e responsabilização impactam positivamente na colaboração, criatividade e co-construção de soluções para problemas complexos, intricados e interdependentes – estas dinâmicas de trabalho já provaram ser eficientes e eficazes na entrega de melhores resultados – e por esse motivo serão para manter.

O actual contexto veio comprometer a estratégia definida? 

A estratégia de RH não ficou comprometida – de facto, no actual contexto de intensa alavancagem tecnológica – terá até sido beneficiada no sentido de potenciar a optimização de recursos e procedimentos e gerar uma mentalidade mais ágil e adaptável, pronta para responder aos desafios resultantes das constantes mudanças.

 

O que assumem agora como prioritário, actualmente?

As prioridades passam, essencialmente, por promover um sentimento de pertença e alinhamento com os valores do Banco, apostar na análise de dados para melhor sustentar os nossos business cases, proporcionar uma jornada do colaborador gratificante e adaptada a todas as fases da sua vida e continuar a atrair e reter as pessoas certas, com os valores ajustados à nossa proposta de valor, de forma a estarem continuamente envolvidos e comprometidos com a nossa missão.

 

Quais são agora os principais desafios, ao nível do negócio?

O negócio está muito focado em entregar ao cliente um bom serviço, cuidado e personalizado como é nosso apanágio, mas concomitantemente em apostar na transformação digital que nos aportará muita eficiência na gestão e alinhamento com as novas tendências de mercado. Continuaremos conscientes do privilégio da nossa vocação de impactar positivamente a sociedade e as comunidades envolventes e de contribuir com os nossos resultados para uma sociedade mais humana, justa e equitativa. 

 

E ao nível da Gestão de Pessoas, a área que lidera no Montepio, quais os grandes desafios?

Estamos muito focados na valorização e retenção das nossas pessoas. Temos investido muito em encontrar equações equilibradas para dar resposta a soluções customizadas que acompanhem o colaborador em toda a sua jornada e que sejam economicamente comportáveis e operacionalmente exequíveis, porque, acima de tudo, estamos a gerir um negócio de pessoas para pessoas. A dimensão do bem-estar e da saúde também tem assumido uma importância primordial e passou a ser nevrálgica para a harmonia das nossas equipas, de forma a que possam almejar resultados de elevado retorno.

 

Pode dar alguns exemplos concretos?

Destaco três projectos: Primeiro, a continuidade dos programas de atracção de talento – Programa de Trainees, Programa de Estágios de Verão, Parcerias com Universidades –, mesmo em contexto de pandemia. 

Depois, a nossa Academia Montepio foi totalmente redesenhada e reformulada, sendo que este ano lançou programas novos para todas as funções comerciais, no âmbito da Escola de Banca e Negócio e para todos os líderes do Banco Montepio com parcerias com as universidades de gestão mais prestigiadas do país no âmbito da nossa Escola de Liderança. 

De destacar ainda o lançamento de um programa de Apoio Psicossocial, com a intervenção de um conjunto de técnicos diversificados, incluindo a equipa médica, um psicólogo e um assistente social, totalmente disponíveis para os nossos colaboradores.

 

Quais são, hoje, os grandes temas no âmbito da Gestão de Pessoas? Tem-se falado muito nos novos modelos de trabalho, eu também já referiu, mas serão de facto o tema mais nevrálgico neste âmbito?

Os novos modelos de trabalho são um tema incontornável – a nossa equipa interna tem estudado muito esta matéria – e creio que conseguimos encontrar soluções ajustadas às especificidades do nosso negócio bancário e efectivamente desenhar e estruturar um Programa de Flexibilidade no trabalho para o Banco Montepio.

 

No que respeita à relação com o cliente, é inegável que a banca sofreu profundas alterações. Acredita que o presencial vai definitivamente assumir um "papel  secundário" face ao digital?

Acredito que vamos manter a nossa relação com o cliente de forma presencial. Somos reconhecidos pelo nosso serviço de excelência no atendimento ao cliente e temos muito orgulho nas relações de confiança, estáveis e duradouras, que mantemos com eles – na maior parte dos casos acompanhamo-los durante toda a sua vida. 

Paralelamente, apostaremos nos meios digitais e na automatização de muitos processos, que são efectivamente muito time consuming. Conhecemos bem os nossos clientes e pretendemos ir ao seu encontro – de forma presencial e digital –, tendo em conta a sua tipologia, preferências e até a densidade ou complexidade das operações em causa. 

Também na relação com o cliente externo, a customização apela à implementação de modelos híbridos.

 

Nesta necessária reestruturação, estão a conseguir requalificar as vossas pessoas? Tem havido um esforço de reskilling e upskliing?

Sim, sem dúvida, e mesmo durante a pandemia, o propósito de qualificar os nossos colaboradores foi considerado prioritário. Estabelecemos uma importante pareceria com a Microsoft, que nos tem permitido incrementar os níveis de proficiência tecnológica em todas as funções e grupos etários. 

Temos a consciência de que o investimento na formação dos colaboradores é essencial para fomentar, continuamente, o desenvolvimento das suas competências, adaptadas à nossa visão de banca do futuro, de forma a que possamos optimizar o seu desempenho – upskilling – e reajustar as suas funções – reskilling. 

 

O perfil de colaboradores de que necessitam tem vindo a mudar significativamente? Sobretudo que perfis procuram?

Procuramos pessoas talentosas, com valores e com atitude! Temos contratado mais para as áreas digitais, de data analitics, mas também para as áreas de controlo interno (Risco, Compliance, Auditoria). 

Vamos lançar no início do próximo ano um Programa de trainees só para funções comerciais – queremos enaltecer os perfis eminentemente comerciais, elevando o prestígio sócio-profissional de competências específicas do nosso negócio bancário.

 

Têm dificuldade em encontrar esses perfis no mercado? Sobretudo onde e como recrutam?

Felizmente não temos tido dificuldade. Posso referir que no nosso último programa de trainees, tivemos cerca de 3000 candidatos para 20 vagas. Temos apostado muito na diferenciação dos nossos programas e no nosso employer branding. 

Temos também a vantagem do nosso propósito organizacional, que vai ao encontro das aspirações de muitos jovens que querem contribuir, através do seu trabalho, para um mundo melhor. Nós também acreditamos que o trabalho é uma das formas mais nobres de impactar positivamente a vida dos outros.

 

Contratar profissionais por projecto, ou que possam estar 100% remotos, até noutra localização geográfica, é algo a que recorrem ou equacionem vir a recorrer?

A actual conjuntura provou às empresas e às suas lideranças que o trabalho remoto é uma possibilidade e que pode responder a necessidades de recrutamento ou mobilidade de profissionais. No Banco Montepio já foram contratados várias vezes profissionais com competências específicas para integrarem equipas de projecto que se encontram a trabalhar de forma muito focada em determinadas áreas importantes para o Banco que com este expertise e experiência acrescidas podem encontrar ecossistemas muito dinâmicos e de integração acelerada para desenvolvimento de novos domínios.

 

Diria que a banca continua a ser um sector atractivo para trabalhar? Quais os "argumentos" que tem na competição, por exemplo, por perfis tecnológicos ou com as fintech?

Eu diria que sim e falo também por mim, que vim do retalho alimentar, e acho este negócio verdadeiramente desafiante e motivador. Temos o privilégio de estar num dos sectores onde mais transformações vão surgir nos próximos 10 anos. Estamos numa indústria em profunda reconversão, com a necessidade de encontrar novas formas de trabalho e de ajustamento ao mercado, e isso não podia ser mais empolgante, porque nos “obriga” a ser criativos e a encontrar novas soluções. 

Estamos num negócio profundamente crítico para todas as famílias e empresas portuguesas. O que seria de todos nós sem o apoio da Banca, em várias fases da nossa vida. 

Por outro lado, para quem já trabalhou numa grande diversidade de sectores, a Banca continua a ter condições de trabalho muito atractivas em várias dimensões e sobretudo na área da saúde, de importância acrescida nos nossos dias. 

No caso específico do Banco Montepio ainda temos a nosso favor uma narrativa muito inspiradora, a nossa história centenária, a forma e as razões que levaram à nossa criação, a nossa missão e propósito e o nosso ADN, profundamente centrado na dignidade da pessoa humana e assente em valores de solidariedade, humanismo e entreajuda.

 

O que acredita que os profissionais mais valorizam hoje em dia? 

Tenho sentido nestas novas gerações a procura de essencialmente três dimensões: uma organização onde se possam sentir iguais a si próprios, uma organização que tenha impacto positivo na sociedade e uma organização onde se sintam a aprender e a desenvolver, próximos da tomada de decisão e desafiados para saírem da sua zona de conforto. 

De facto, a proposta de valor hoje em dia vai muito para além da componente remuneratória, que deve ser justa e ajustada, mas que desalinhada destes elementos intangíveis não será suficiente para reter os jovens que estão agora a entrar no mercado de trabalho.

 

Que tendências perspectiva, a curto/médio prazo, para o vosso sector e para o mercado de trabalho? 

Os últimos dois anos foram muito desafiantes para o sector bancário, por vários motivos, entre outros, a desaceleração económica e o aumento do risco de crédito. Na verdade, este sector, confrontado com novos modelos económicos e novos incumbentes, terá necessariamente de se reinventar e adaptar tecnologicamente para agilizar processos, reduzir a burocracia, manter a segurança e exigente conformidade regulatória e poder responder melhor e de forma mais célere às necessidades dos clientes, reais e potenciais. 

Se é desafiante e complexo? É, sem dúvida, mas como costumamos dizer às nossas equipas: “Se fosse fácil, não era para nós!”

 

entrevista a
Sandra Brito Pereira, DRH Montepio
Sandra Brito Pereira, DRH Montepio

Sandra Brito Pereira

directora de recursos humanos do banco montepio