Não somos árvores! Sempre o ouvi e sempre acreditei que assim é. Mas temos uma tendência natural para criar raízes, porque ao início faz sentido, faz parte da integração, porque depois nos vamos ligando às pessoas, às tarefas. Porque os dias passam e acabam por passar tão rápido. E no princípio faz sentido, mas mesmo quando deixa de fazer já temos uma vida feita em torno daquela função, uma realidade quase inamovível. Passam 5, 10, 15 ui… 20 anos. Agora já não vale a pena. Mudar para quê? 

Sempre com o sentimento associado que… pelo menos isto já conheço. Mesmo que não goste tanto assim, mesmo que o brilho tenha desaparecido, mesmo que muitas das pessoas que conheço tenham mudado. 

O sentimento de perda associado a qualquer mudança , embora aqui me foque na mudança profissional, faz com que possamos perder a noção de mobilidade. De que é possível alterar a nossa realidade permitindo evolução. De que podemos não estar sempre no mesmo papel e mesmo assim, conseguirmos fazer a diferença porque o que ganhámos ao longo dos anos não se perde, transforma-se.

Num mundo em constante mudança (onde é que já ouvi esta frase?), o mudança não se pode “matar”, como alegoricamente referia Ken Blanchard. Ela entra-nos pela porta dentro, mesmo sem ser convidada. Por vezes dá-nos a oportunidade de conhecer dentro do que já nos é familiar, outras vezes, força-nos a sair para o desconhecido. E aí, os anos pesam se os deixarmos pesar.

É importante que celebremos as antiguidades mas não devemos recear promover a mudança. A mobilidade interna é uma prática que permite mudar dentro do que já nos é conhecido e mesmo assim, durante algum tempo, foi olhada com alguma desconfiança. Porque mais uma vez, está entranhado no nosso subconsciente, mudar = perder.

Nos últimos anos, os processos de mobilidade interna aumentaram e fazem parte do dia a dia de muitos colaboradores, que podem ser permanentes ou podem ser temporários. “preciso de um reforço de equipa durante o período do verão, há alguém que possa fazer esta mobilidade temporária?” E há, há sempre. Assim potenciamos o apoio entre equipas e a visibilidade clara que quando mudo, não começo do zero, porque já trago tanto comigo.

Mas também podemos mudar dentro uma função, porque afinal, uma função não não nos definem, somos nós que definimos a função que desempenhamos. Áreas que são reinventadas, funções que se mantêm com a mesma designação mas mudam responsabilidades, lideranças que alteram e com cada liderança, um novo estilo.

Falamos de pessoas, sempre de pessoas, e são as pessoas que constroem, desenvolvem, criam, inovam. Mas também são as pessoas que fecham, duvidam, reservam , desconfiam. 

A rapidez com que vivemos não nos permite, por vezes, ver, que mesmo sem nos apercebermos , estamos a mudar. 

As novas gerações, que chegam hoje ao mercado de trabalho, trazem consigo, embrenhado no seu ADN, o conceito de mudança. Mudam se o projecto não satisfaz, se não têm feedback ou simplesmente porque surgiu algo mais desafiante. Não olham para a mudança com o mesmo sentimento de perda de quem foi “criando raízes”. Podemos até pensar que “quando tiverem a sua família irão olhar para a mudança de outra forma, vão precisar de estabilidade”, mas a estabilidade que procuramos pode, sim, mudar de um dia para o outro.

Em 2019, tínhamos uma realidade, em muitas zonas do nosso país, de desemprego zero. Querem melhor estabilidade? Quem mudava fazia-o porque era convidado para algo melhor. 

Em 2020, uma pandemia que começa do outro lado do mundo, numa realidade tão distinta da nossa, chega sem aviso prévio e instala-se. E muda a nossa vida, talvez para sempre. A forma como trabalhamos muda, a forma como contactamos a equipa muda, a forma como lideramos muda, a forma como comunicamos… muda. A incerteza sobre como será o dia de amanhã chega. E somos postos à prova, como indivíduos, como sociedade, como humanidade. Somos “forçados” a mudar. 

Talvez estejamos a ter uma das maiores lições sobre mudança na nossa vida, daquelas que irão fazer parte dos livros de história dos nossos netos daqui a uns anos. Que nos irão perguntar como lidámos com esta mudança. E o que iremos nós dizer?

Acredito que possamos reforçar que tudo muda de um dia para o outro e que nos temos que nos reinventar a cada momento. A nível profissional poderá ser através de novas formas de construir a função que desempenhamos, ou através de mobilidades internas, ou da construção de novas funções face à realidade que atravessamos. 

As organizações, essas entidades de que falamos por vezes de forma abstracta, não são mais que conjuntos organizados de pessoas que trabalham para um mesmo fim, com um mesmo propósito, de acordo com uma mesma visão. Respiram porque nós respiramos e mudam porque nós mudamos, são organismos vivos porque são compostos por pessoas e evoluem se nós não pararmos de evoluir.

Que 2021 nos permita, dentro do que controlamos, aprender com os erros, evoluir e aceitar a mudança como uma força, apostando no auto-conhecimento e potenciando a transformação, analisando todas as ferramentas que nos permitam mover, mudar, alterar… evoluir!

sobre o autor
Paula Lampreia
Paula Lampreia

Paula Lampreia

learning, development & culture manager, randstad portugal