À esquerda, à direita, ao centro ou mesmo com uma posição indefinida. A palavra salário é uma das mais repetidas durante a campanha política, seja em debates seja em verdadeiras conversas, onde é difícil perceber onde está a oposição. Partidos e líderes à parte, um facto é indiscutível, a constante subida do salário mínimo em Portugal não teve o impacto desejado na subida do salário médio e tornou-se não um valor de entrada mas um valor de referência que atingia mesmo mais de 60% dos trabalhadores no primeiro semestre deste ano. E enquanto uns continuam a focar o seu discurso disparando números e datas para mais aumentos do mínimo, outros reconhecem a polarização dos salários mas não apresentam medidas concretas de  como resolver esta assimetria.

Não critico a subida do salário mínimo, nem tenho uma solução imediata para esta tendência mas precisamos de uma estratégia salarial para garantir a competitividade e a atratividade do nosso país para trabalhar. Precisamos de garantir ações que tenham impacto no salário médio e precisamos acima de tudo de transparência salarial.

O salário pela forma como é estruturado e pelos complementos que pode ter torna-se um verdadeiro enigma e um dos segredos mais bem guardados. Sabem-se intervalos de valores mas os esquemas que alegadamente beneficiam (ou contam com o acordo) das duas partes, trabalhadores e empresas, levam a que haja excessiva “criatividade” na remuneração de alguns trabalhadores. Recibos de vencimento que chocam o país quando se tornam virais revelando ajudas de custo muito superiores ao valor base, como aconteceu durante a greve dos motoristas de matérias perigosas. Mas não são os únicos, quem recruta talentos consegue fazer uma divisão setorial e funcional, reconhecer as práticas mais cinzentas ou mesmo ilegais que criam um mercado paralelo entre quem cumpre e quem não cumpre e não é penalizado. Sabemos o que é perder um negócio por cumprir a lei, reconhecemos na expressão do cliente que ele admira a nossa atitude mas não é suficiente para alterar a sua, para acabar com complementos que são valores fixos de retribuição. Da mesma forma é preciso reconhecer e recompensar. Todos os dias demonstramos que as competências têm um valor e que não pagar este preço resulta em custos de aquisição mais elevados, aumento de turnover ou mesmo uma vaga que fica por preencher.

O salário é um fator inerente à relação laboral e a sua valorização nunca é nula. Temos de o tornar transparente, garantir retribuições dentro da lei e trabalhar junto das empresas para que o reconhecimento não seja apenas uma “pancadinha nas costas”.

(Artigo publicado no Expresso, 21 setembro de 2019).

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José Miguel Leonardo
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