• SOFIA CANSADO

Olá! Sejam bem-vindos ao podcast #EVERYDAYHERO. Hoje vamos falar sobre diversidade e inclusão, como promover práticas de diversidade nas empresas. Mas, apesar de falarmos de empresas, este podcast é para todos os que têm interesse sobre o tema. Comigo, eu tenho a Sónia Gonçalves. A Sónia é Social Impact Manager na Randstad e, na verdade, a melhor pessoa para falar sobre este assunto.

Olá Sónia!

 

  • SÓNIA GONÇALVES

Olá Sofia! Muito boa tarde! Aqui a todos e todas que nos vão escutar desse lado. Muito boa tarde e sejam muito bem-vindos.

 

  • SOFIA CANSADO

Sê também muito bem-vinda a este podcast, que eu acho que é a segunda vez que tu cá estás ou a primeira, na verdade.

 

  • SÓNIA GONÇALVES

É a primeira vez, Sofia.

 

  • SOFIA CANSADO

É a primeira vez, estás a estrear.

 

  • SÓNIA GONÇALVES

Mesmo.

 

  • SOFIA CANSADO

Sónia, então, eu acho que a primeira coisa era mesmo apresentares-te para quem nos ouve, para ficarem-te a conhecer um bocadinho melhor.

 

  • SÓNIA GONÇALVES

Muito bem. Então, Sofia, como tu disseste e bem, eu neste momento estou na Randstad como Gestora de Impacto Social. O que é isso? No fundo, para quem possa ter mais dúvidas sobre o que é que pode desempenhar uma gestora de  impacto social trata dos temas de sustentabilidade, social e ambiental. E aqui também tudo o que envolve a igualdade, a diversidade, a inclusão e o sentido de pertença que depois nós também na Randstad acrescentamos, mas que faz todo o sentido também que esteja ligado a estes temas e depois podemos desenvolver. Relativamente àquilo que foi o meu percurso, eu estudei Engenharia Agrícola e Psicologia. Acabei por exercer a minha função sempre em gestão. Na Randstad, como consultora comecei, fiz todo o percurso como consultora, fui gestora de unidade de negócios, gestora de ligação, de conceito, portanto, passei e agora estando como gestora de impacto social. Passei aqui por as várias áreas da empresa, fiz coisas muito diferentes, trabalhei com clientes muito diferentes, de áreas mais generalistas, áreas de logística, de restauração coletiva e pública. Fiz muitos eventos, estive em grandes eventos, como o Rock in Rio e outros. Não quero aqui também deixar outros lado, mas, portanto, para perceberem aqui um bocadinho o percurso. Estive ligada a áreas muito diferentes, a área comercial, áreas transversais e agora abraço esta área com muito carinho e com muita devoção.

 

  • SOFIA CANSADO

Muito bem. Acho que só faltou o teu Fun Fact.

 

  • SÓNIA GONÇALVES

É verdade, Sofia. Eu escolhi aqui como tema. Era este. Eu escolhi aqui um que envolve a Randstad e envolve também, de alguma forma, alguns parceiros nossos e que pode ser aqui também realmente um exemplo de como tudo isto se conjuga. E quando digo parceiros nossos, parceiros nossos na área social, precisamente num grande evento que tivemos que realizar em Lisboa. Tínhamos aqui o grande desafio de ter várias pessoas precisamente para a área da logística, várias pessoas que fizessem a montagem e a desmontagem de toda aquela arquitetura que, como devem imaginar, é gigantesca. E estávamos a horas de começar o evento e estávamos com uma grande dificuldade em arranjar pessoas, porque na altura já estava a gerir uma equipa de recrutamento muito grande e a equipa não estava a conseguir. Não estávamos a conseguir arranjar pessoas para aquela urgência que apareceu. Também temos aqui que dizer foi uma urgência quase de um dia para o outro, mas quem está na área de eventos também sabe que isso acontece e, portanto, precisávamos de 100 pessoas. Aliás eram um pouco mais de 100, mas vamos aqui pôr este número. E foi assim de no espaço de 3h, na verdade, eu contactei as associações, as entidades sociais com os quais eu já trabalhava, enfim, em parceria. Estamos aqui falar de pessoas que vêm de bairros sociais, da zona de Chelas, do Bairro do Armador, de também da Zona J, de também da Amadora, de alguns bairros problemáticos e foram essas pessoas que nos salvaram verdadeiramente naquele evento. Que vieram e que realmente fizeram com que pudesse acontecer aquele momento e que tudo pudesse ser montado em tempo recorde. E aqui a parte engraçada é que realmente eu quando chego com aquelas,  estamos a imaginar, era tudo homens na verdade, e quando eu subo, tínhamos que subir, aquilo ficava no cimo, ainda tínhamos que andar aqui bastante tempo. E quando eu chego mesmo ao cimo com aqueles rapazes, atrás de mim, é verdadeiramente uma multidão atrás de mim, que sou pequena, quem não sabe, sabe que eu sou pequenina e portanto, o senhor que me recebeu disse "Ah!". Assim, com um grande ar de espanto: "eu pensava que era um homem a coordenar isto tudo". Portanto, ele fez um ar muito espantado. Uma mulher. Tem a ver também com a questão que hoje estamos aqui a abordar, da igualdade também, também sabemos entre homens e mulheres. Portanto, a expetativa dele é que a comandar aqueles 100 homens tivesse um homem também, se calhar enorme, grande, gigante. E aparece-lhe uma mulher pequenina com 100 homens atrás. E portanto, essa foi aqui um momento que eu acho que faz todo sentido aqui partilhar convosco.

 

  • SOFIA CANSADO

Muito bom. De repente, num evento que não tinha nada a ver já temos aqui assuntos de igualdade de género e de também esta parte das associações. Portanto, sempre tiveste esta parte muito presente no teu trabalho, na verdade.

 

  • SÓNIA GONÇALVES

Sim, Sofia. É verdade, sim. Eu achei sempre que era importante, de alguma forma, eu acho que a resposta que nós temos que dar e a parte de cada um de nós também, se podemos ter a nossa ação, seja ela qual for. E naquele momento tinha essa possibilidade e ao mesmo tempo acreditei sempre, aliás antes disso, isso a tua pergunta tem muita razão de ser. Desde sempre que fiz, eu desde que me lembro, podemos ir aqui mais atrás na minha vida pessoal, mas desde pequenina e depois já na minha vida, já mais crescida, fiz sempre aqui trabalho também voluntário na área de responsabilidade social, com pessoas em condição de sem abrigo e, portanto, isso depois trouxe esse lado meu para dentro das organizações e assim que tive essa possibilidade de conjugar também o fiz.

 

  • SOFIA CANSADO

Sempre trouxeste estes valores, muito bem. Sónia, eu acho que lá está, e por isso é que eu disse no início do episódio, que eras a melhor pessoa para explorar este tema comigo. Eu acho que a primeira parte que eu gostava de abordar contigo, até é uma frase que ficou muito famosa nos últimos anos, não sei quem é que a disse, na verdade. Só sei que está muito, muito utilizada em diversos contextos. Esta é a expressão que diz "Diversidade é convidar para a festa, mas inclusão é chamar para dançar". O que é que esta frase significa, na verdade, e o que é que tem a ver com o tema de hoje.

 

  • SÓNIA GONÇALVES

Olha, Sofia, na verdade eu também confesso, com toda a humildade, que não sei mesmo quem o disse, portanto, não sei. E até já pode ter passado por mim, desculpem-me se alguém já me explicou, mas eu confesso que também não me recordo quem é que é o autor ou a autora da frase, mas tem muito a ver, Sofia. E trouxeste muito bem para o tema. Porque realmente, quando nós falamos, nós queremos ter aqui uma empresa, uma instituição que seja com muita diversidade e hoje até muitas vezes por razão da própria globalização nós já temos isso mesmo. Acontece que temos aqui muitas instituições, empresas que têm já essa diversidade. Mas inclusão é ir mais além, é realmente garantir que essas pessoas se sentem seguras, se sentem... Lembras-te no início falar no sentido de pertença, precisamente que sentem que fazem parte daquele universo, que são tratadas de igual forma, que são ouvidas da mesma maneira, que têm a possibilidade de viver as suas, vamos imaginar, tem uma crença religiosa distinta daquele país, daquela empresa onde estão inseridos. Ter ali esse respeito, sentem que há esse respeito, que há um momento. Eu conheço até alguns exemplos, em que na altura do Ramadão há espaços para que essas pessoas possam...

 

  • SOFIA CANSADO

Temos vários colegas, sim. No contexto global.

 

  • SÓNIA GONÇALVES

Exactamente, Sofia. Exatamente, isso mesmo. Mesmo quem é católico que tem, que viva a sua religião, a sua crença de uma forma mais intensa, há momentos também que precisam desse espaço de oração. Portanto, nós conseguirmos ir de encontro a essa diferença, essa diversidade. No fundo, é aceitar o incluir, é aceitar-te aqui Sofia, tal como tu és. Obviamente, com as regras que tivermos nessa empresa, obviamente que com certeza temos que pensar como é que podemos conjugar isso tudo com aquilo que também são as normas da empresa. Não estamos aqui a dizer para quem nos possa estar a ouvir e, de repente, ficar um pouco mais assustado. Não fique porque estamos aqui a falar, é precisamente de conseguir dialogar, conversar, encontrar espaços de reflexão, de encontro a meio caminho, onde a cultura da empresa se possa também fundir com a cultura daquela pessoa. Porque é isso também que queremos atender. Que essa pessoa se sinta plena, sentindo-se plena, vai conseguir dar mais também à organização.

 

  • SOFIA CANSADO

Exatamente. Acaba por ser aqui o win-win no final do dia.

 

  • SÓNIA GONÇALVES

Isso mesmo, Sofia. É isso mesmo.

 

  • SOFIA CANSADO

Pensando neste contexto que tu acabaste de explicar. No papel parece fácil. Desculpa-me a expressão, mas como é que, no sentido prático, podem as empresas promover a diversidade e a inclusão? Como é que há aqui um plano prático para começar? 

 

  • SÓNIA GONÇALVES

Muito bem. Sofia, eu creio que nós estamos aqui a falar sempre, e eu tenho sempre esse cuidado, porque há aqui todo o universo das grandes empresas e depois há também as pequenas e médias empresas. E eu não me quero esquecer porque a verdade é que eu mesmo em alguns grupos em que estou presente e em que temos felizmente e ainda bem, temos essa boa prática de ter presentes grandes empresas, que até são também nossos clientes e que me enche de alegria tê-los lá. Mas realmente a verdade é que temos ainda muito trabalho aqui também a fazer, chegar às pequenas e médias empresas, que não nos podemos esquecer que são grande parte do nosso tecido empresarial português. E essas, eu não queria deixar aqui também de parte. Por isso, vou aqui dividir em dois pontos. Eu acho que para as grandes empresas há aqui toda a possibilidade e serem um exemplo de serem realmente por serem maiores, poderem puxar este sistema para frente, para a agenda, dando-lhe aqui algum mediatismo, mas depois obviamente concretizando. Não é só, como tu dizias também, às vezes ter um papel, ter uma grande, escolher uma política espetacular nesta área e depois não executar. Era o que tu dizias, não é?

 

  • SÓNIA GONÇALVES

É preciso garantir que isso vai acontecer e não há uma forma de o fazer se não for pelo investimento. E eu acho que novamente aqui as empresas, eu sei que muitas poderão dizer "mas também o Estado tem aqui uma importância". Sim, o Estado tem uma importância, sem dúvida. Deve ser o primeiro a criar políticas para que, obviamente, se crie o espaço necessário para as empresas atuarem. Mas as empresas também se querem a sua grandiosidade também se pode unir, por aí. Cada vez mais hoje, eu sei que vou aqui falar de temas que se tocam, mas não é possível, não tenho aqui nenhum guião escrito. As empresas hoje cada vez mais têm aqui o grande desafio e as empresas grandes e as pequenas também, mas as grandes volto a dizer como grande exemplo de que os resultados não vão ser só medidos a nível financeiro, tem aqui uma componente social e ambiental. E ainda bem, porque todos nós sabemos que hoje não é possível avançar se não olharmos para estes dois lados. E olhando para aqui tem que haver um investimento, Sofia, respondendo-te assim de uma forma muito direta.

 

  • SÓNIA GONÇALVES

Não há outra forma. E eu, como disse isso aqui no início, fui gestora de muitas áreas de negócio, sei o que é que é ter que viver com a questão de ter as vendas, de assegurar vendas no final do mês, ter uma margem, termos as exigências, passei muito tempo a fazer isso. Mas é possível e uso precisamente essa minha experiência e que dei há bocado esse exemplo também ter incluído pessoas diferentes, situações diferentes, é possível, ainda assim, alcançarmos os nossos resultados. Agora tem que haver investimento e isso tem que haver aqui um plano nas grandes empresas. E temos aqui já bons exemplos que criaram áreas, inclusivamente que estão dedicadas à área de diversidade e inclusão com equipas específicas. Eu não quero estar aqui a ser, a mencionar, até porque alguns são nossos clientes e alguns concorrentes entre si e sentirem aqui que estou a falar aqui para algum objetivo específico...

 

  • SOFIA CANSADO

Sim. Pensando no geral, não é.

 

  • SÓNIA GONÇALVES

No geral. Exactamente, Sofia. De empresas que criaram, eu lembro-me agora na questão das pessoas com deficiência, bons exemplos daqueles que criaram escolas, unidades específicas para trabalharem, para formarem estas pessoas com deficiência e depois para as integrarem nos seus quadros. E quando nós pensamos mas foram, estão a trabalhar com instituições, estão a trabalhar com instituições sociais, é verdade. Mas também investiram o seu próprio dinheiro em projetos e foram buscar pessoas para fazer parte dessas equipas e têm hoje unidades só dedicadas à diversidade e inclusão. E eu acho que isto as grandes empresas podem fazer de uma forma diferente, marcando aqui o passo e fazendo esse investimento, claro, mostrando de facto o que é que estão a fazer. As empresas pequenas podem também fazer várias coisas, poderão não poder ter enfim uma equipa dedicada, podem se calhar ter uma pessoa mais dedicada. Podem aqui pensar também em ter parcerias, porque com as parcerias também lhes podem trazer aqui conhecimento sobre os temas e há várias instituições e várias até, organismos oficiais que têm também aqui boas práticas, que podem partilhar com estas pequenas empresas. E, sobretudo, eu diria que terem aqui a postura, terem aqui também a vontade. E eu acho que a vontade começa por aí e depois poderem também, lá está, aprenderem. Porque eu acho que aqui em tudo, como tudo na vida, nós não sabemos tudo, não somos donos da verdade. E ter aqui a humildade de procurar. E a grande mensagem assim, em geral, Sofia que eu diria, era pensarmos que o mundo mudou. Se tínhamos dúvidas disso, com o que aconteceu em 2019, com a pandemia 19, 20. Peço perdão, em 20. Com a pandemia, portanto, mudou claramente. E a guerra que infelizmente está a acontecer nos nossos dias, que estamos ainda aqui a entrevistar, quem me dera que quando isto fosse para o ar  já não fosse verdade. Mas sendo verdade, vai...Sendo verdade ou... Na verdade, aconteça o que acontecer, já marcou definitivamente estes acontecimentos. Trouxe-nos também aqui mudanças na forma como as pessoas também gerem toda esta, este tema e inclusivamente toca aqui numa situação, na paz. E a paz só se constrói com pontes e constrói-se muito com a igualdade, a diversidade e a inclusão e sentido de pertença. Isso é absolutamente verdade, não é uma teoria minha. Está provado que assim é.

 

  • SOFIA CANSADO

Há uma coisa muito interessante nós vermos no Work Monitor. Nós vimos que, por um lado 61%, penso eu, das pessoas que foram aqui inquiridas sentem que os valores e propósitos da empresa vão ao encontro dos seus, ou seja, tudo ok neste sentido, sentem-se identificadas com os valores das empresas. Mas, por outro lado, 43% não aceitaria trabalhar numa empresa que não defendesse os mesmos valores que o profissional a nível social e ambiental. Isto mostra que aquilo exatamente que tu estavas a dizer, a parte da diversidade e equidade está cada vez mais a ganhar uma importância que não tinha. Eu agora como profissional, olho muito mais para esta parte, como se calhar também olho para os benefícios que a empresa me vai, se calhar.

 

  • SÓNIA GONÇALVES

É verdade, Sofia. Sem dúvida. E eu acho que acontece, e tu focaste isso, lá está esse estudo é uma evidência daquilo que estamos aqui a falar. Portanto, não são só ideias de alguém que apesar da sua experiência podia ter, mas enfim podia ser por várias circunstâncias poder ser uma experiência enviesada, é hoje claramente uma evidência e, aquilo que tu acabaste de mencionar, o nosso estudo revela precisamente esses dados e temos esse lado, por um lado as novas gerações, claramente tem que sentir que há um propósito que está a ser desenhado com o seu próprio propósito. E, sem dúvida, estamos aqui a falar sempre na questão ambiental e na questão social, que são dois temas dos nossos xyz???, que ainda bem que estão hoje na ordem do dia. E depois, por outro lado, também, eu sei que há um bocadinho esse sentimento das gerações, eu acho que também é um tema de, nem a propósito, de inclusão, porque eu acho que depende e é importante, claro que há gerações diferentes. Isto é como tudo, nós claro que temos que encontrar sempre aqui sistemas para catalogar algumas coisas. Mas eu acho que cada vez mais também é um tema que está a conquistar outras gerações que estão no mercado de trabalho e que também, mais que não seja pela força dos dados e cada vez mais nós não devíamos aqui há o tempo e depois há também escassez de talento. E se nós aqui há um tempo víamos claramente que se calhar isto é uma preocupação dos mais novos, as outras gerações a seguir também estão verdadeiramente preocupadas e começam também a se movimentar no sentido se a sua própria organização também não tiver estes valores a revelar aqui algum desconforto e também querer eventualmente procurar outras oportunidades numa outra empresa que mostre de forma clara que tem estas preocupações. Há claramente, como dizes e bem, aqui não só o movimento podia acontecer por si só, mas o movimento social que as empresas não podem ignorar.

 

  • SOFIA CANSADO

Sim, sem dúvida. Qual é que tu achas e pensando que as empresas de facto não podem ignorar, já percebemos que isto é mais do que sabido, comprovado por dados. Portanto, qual é que é aquela prática que tu dizes que pode já ser implementada hoje numa empresa?



 

  • SÓNIA GONÇALVES

Então, Sofia, eu diria o seguinte, acho que falamos sempre aqui na questão de investimento, eu acho que isso é importante sempre que exista. Eu gosto de dar exemplos que tenham investimento e outros não. E eu falo sempre nisto, porque muitas vezes eu acho que enfim, temos coisas absolutamente, eu sou uma profunda crente no nosso país. Gosto muito de Portugal, por isso é que aqui mantenho, apesar de ter até família em muitos países diferentes do mundo e países enfim que pelo menos assim são catalogados por estarem em rankings  muito mais distanciados Portugal. Mas mantive-me sempre aqui, porque acredito profundamente nas capacidades do nosso país e eu acho que então, porque é que eu estou a fazer aqui este parênteses, porque acho que é importante nós não nos esquecermos do investimento que eu referi e eu vejo essa às vezes diferença face a outros países em que realmente há investimento nas áreas que tem que haver e, portanto, nós muitas vezes tentamos aqui encontrar alternativas para não haver esse investimento, portanto, não deixando esse lado, esse dado de parte. Uma coisa que se pode fazer sem investimento nenhum é precisamente começar logo a ter aqui uma abertura para receber pessoas que sejam diferentes.

 

  • SÓNIA GONÇALVES

Nós falamos aqui, Sofia, e quando falamos deste tema, estamos a falar e vou dar aqui alguns exemplos: de pessoas com necessidades especiais, pessoas em condição de sem abrigo. Já falámos nas pessoas de bairros sociais mais problemáticos, mas falamos também de migrantes e de refugiados. Estamos aqui a falar de duas coisas diferentes, pessoas que tenham feito enfim o seu próprio percurso para mudar de país, mas que é importante que sintam que também estão num país que as inclui, que as aceite e que lhes dá liberdade de expressão, seja a que nível for. Aqui a questão dos refugiados, que é um tema que nos está a entrar pela casa e que nos entra em todos os minutos neste momento pela questão da Ucrânia, mas também...

 

  • SOFIA CANSADO

Mas que na verdade nunca irá parar por questões sociais, ambientais, não é.

 

  • SÓNIA GONÇALVES

Isso, Sofia. E tu focaste aqui um ponto muito importante, muito. Nós sabemos hoje que infelizmente, por aquilo que está a acontecer no nosso planeta, nós vamos ter zonas onde não vai mesmo existir possibilidade das pessoas estarem lá a viver e ???? aos seus produtos, portanto vão ter que se movimentar. Não é só uma questão de guerra. A guerra sim, mas depois por questões ambientais também, infelizmente. E é importante nós compreendemos todos que é mesmo urgente fazermos alguma coisa, porque se isso não acontecer, vai haver grande parte do planeta que não vai ser possível estar habitado. E estas pessoas vão ter que se movimentar, por onde há água, por onde há comida, porque isso tem a ver só com a própria subsistência do ser humano. Portanto, é um direito natural. Quanto mais nós conseguirmos ter justiça social e ambiental. As duas, aliás, estão juntas. Portanto, se não houver justiça ambiental, não haverá claramente justiça social, mais vamos conseguir contribuir para a paz e a para essa harmonização. E para que estes fluxos migratórios, mesmo neste sentido muitos forçados, muitos de facto trazem muita pobreza e muita, eu nem vou falar porque hoje é... Eu não quero aqui também estar aqui a focar em coisas muito tristes. Mas sabemos o que é que acontece infelizmente a muitas pessoas que estão com um desfecho muito pouco felizes dos sítios onde saem e, portanto, isto é uma responsabilidade de todos nós pensarmos sobre estes temas e agirmos, não é. Como tu dizias, passar do papel para a prática, agirmos. Portanto, eu diria que olharmos para esta inclusão logo ao princípio, ou seja, abrindo a nossa consciência, tendo o espírito de abertura para aceitar nos nossos processos de recrutamento, pessoas que venham, e eu estou a falar para empresas, portanto, aceitarem nos seus processos pessoas que venham de origens diferentes, que tenham, que à partida não seriam as pessoas tradicionais que iriam recrutar para dar a essa possibilidade realmente que até sejam surpreendidos. Porque, às vezes, há pessoas que verdadeiramente, eu dei aquele exemplo no início, se não fossem aquelas pessoas, aquele evento e aquele dia, não tinha acontecido, não tinha mesmo. Não havia hipótese. Estamos aqui a falar, por muito boa vontade que 10 pessoas tivessem, que se arranjassem, não fariam o trabalho de 100. E, portanto, é conseguirmos encontrar essa esperança também. E depois de uma forma factual, porque sei que poderão haver pessoas que dizem "Ah, isso é muito bonito, eu já dei muita oportunidade a muitas pessoas e não correu nada bem, as pessoas acabaram por desistir". Também pensarmos duas coisas. Primeiro, não podemos desistir à primeira porque estamos a falar sempre de condições muito difíceis. Estamos a falar de pessoas que durante muitos anos sofreram essa exclusão. Foram realmente vítimas de alguma ostracização da parte da sociedade e, portanto, também têm as defesas, enfim, muito ferozes, no sentido de não aceitarem qualquer coisa, e depois também não foram educadas para o trabalho e esse é um trabalho que começa e que tem que haver uma oportunidade também das empresas não desistirem na primeira pessoa e também procurarem, lá está, fazer este trabalho de uma forma, se calhar, associando-se a quem já saiba fazer este trabalho, procurando as associações. Se calhar, se nunca experimentaram tentarem fazer em parceria, porque essas associações têm experiência e vão dar também o suporte para a integração dessas pessoas.

 

  • SOFIA CANSADO

Muito bem. Eu acho que se calhar, até este primeiro passo que tu falas para as empresas também se pode traduzir em formação para os profissionais. E até vem um bocadinho em linha com o que eu te ia perguntar. Se os profissionais acabam por ter também um papel ativo nestas práticas de diversidade, se calhar, expondo todos os profissionais ao que pode acontecer, às infinitas possibilidades de implementar práticas de diversidade e inclusão. Também pode ser um passo?

 

  • SÓNIA GONÇALVES

Claramente. Sofia, eu acho que o processo que está por trás de tudo isto tem muito a ver com a educação. Com aquilo que nós, com a formação, com aquilo que nós podemos, também nós próprios, cada um de nós aprender, pela própria formação que as empresas, sejam grandes, que sejam pequenas, podem também facultar e há muitas formações já gratuitas, também. E, às vezes, não precisa de ser uma coisa, e eu acho que às vezes nós procuramos coisas muito elaboradas e muito complexas, é próprio do ser humano. Coisas com, enfim, que tenham realmente um carimbo. Enfim, fantástico, depois estamos sempre à procura de qualquer coisa assim um bocadinho que nos dê aqui alguma luz adicional e, às vezes, há coisas pequeninas, que simples, pequenas formações que se podem fazer e que podem fornecer a estes profissionais ferramentas também para lidarem com as suas próprias fragilidades, porque aqui quem recebe e as profissionais que tu falavas são pessoas como tu e como eu, que têm as suas próprias fragilidades e eu própria estando nesta área, e tu mencionavas isso, por paixão pura. Eu acho que faz parte de mim, desde sempre. A verdade é que mesmo assim também tenho os meus processos e também há momentos em que preciso de encontrar novas energias, nova formação. Não sei tudo, longe disso. Tenho consciência que tenho que saber muito mais. Mas para aquelas pessoas que nunca tiveram nenhum contacto porque não tiveram, não temos que ter tido, é ter a possibilidade de lhes dar essa possibilidade de frequentar. E, às vezes, passa por isso irem a uma formação, a um debate, a uma que lá está, que existem muitos sem grandes custos, podendo é estar atento. Depois para quem tiver interessado, hoje eu não quero aqui esgotar nem focar muita coisa, mas nós próprios da Randstad temos, enfim, até alguns, algumas associações, alguns eventos que nós próprios fazemos, eu própria também desenvolvo alguns, em que se pode dar esse insights. Como eu digo coisas pequenas, curtas, focadas, que ajudem o próprio profissional a refletir sobre si, quem eu sou, em que momento é que estou e que preconceitos é que eu tenho.

 

  • SÓNIA GONÇALVES

Porque a nossa educação muitas vezes também foi gerada a partir de preconceitos, que se foram criando, a sociedade é mesmo assim. Nós somos seres sociais e temos esses mesmos preconceitos e nem temos noção de que com uma frase, com a questão como nós falamos, como nós e eu lembro-me disto, às vezes, pequenas brincadeiras em dizer, sei lá, aquela pessoa é mais gordinha ou tem, enfim, é mais moreninha. Ou catalogarmos as pessoas com algumas, alguns nomes. Não temos noção que estamos a magoar a outra pessoa. Podemos estar de facto magoada e a mexer ali em qualquer coisa que não está resolvida e não fizemos por mal. Mas precisamos de ter formação para perceber o porquê de alguém se poder sentir magoado com isso. E como é que podemos evitar este tipo de dispersões. E isso é todo um tema que nos traz a todos como sociedade para grande reflexão. Como eu dizia, Sofia, para sermos melhores pessoas, para conseguirmos propiciar a paz, porque, na verdade, nenhuma empresa vai florescer num mundo que esteja em guerra, nem num mundo que esteja sedento de fome, de água, em que as pessoas andem a lutar pela sua sobrevivência. Isso pode parecer uma coisa distante mas, infelizmente, não o é. Infelizmente, não é. Portanto, era isto. Diz, diz. Sofia, diz.

 

  • SOFIA CANSADO

Exacto, era isso. Eu ia resumir basicamente o que estavas a expor. Portanto, eu acho que começa tudo pela parte da receptividade das próprias pessoas em aprenderem mais sobre diversidade e inclusão e também começarem por algum primeiro passo, por mais pequeno que seja, porque acaba por ser também uma prática que pode ser depois envolvida na empresa.

 

  • SÓNIA GONÇALVES

Isso. É isso mesmo, Sofia. São, às vezes, coisas pequeninas, espaços pequenos. Não precisamos de todos. E aqui nós temos sempre que nos lembrar de uma coisa que é muito importante, nós vamos ter sempre pessoas muito diferentes, não é. Pessoas e quem está obviamente depois a coordenar tudo isto e eu na experiência que tive com pessoas muito diferentes e sei os dois lados muito bem. Tive a felicidade de ter aqui percurso numa empresa, nas organizações e depois tenho aqui a felicidade de ter um percurso também social e os dois conhecer muito bem os dois mundos. Mas eu acho que é aqui também importante percebermos que estas situações têm que ser sempre muito bem, também quem está a comunicar, muito bem comunicadas porque vamos ter sempre pessoas diferentes, lá está, pessoas que são muito mais factuais, com números e nós precisamos de chegar a essas pessoas e explicar-lhes, não é. Como é que nesse seu mundo podem trazer esta diversidade e inclusão. Não estamos aqui a dizer que todas as pessoas têm agora que ter aqui. Por isso é que, eu dizia, estamos aqui à procura de grandes informações, coisas muito complexas, quando podem ser coisas simples, que devem ser direccionadas também consoante, lá está, atendendo à diversidade da outra pessoa que está do outro lado. Portanto, como é que aquela pessoa vai receber aquela mensagem e também prepararmos aqui, se calhar, formações mais de encontro a determinado tipo de perfis, pessoas que são mais de gestão, pessoas que sejam um pouco já mais destas áreas. Naturalmente, são pessoas que já vão ter uma maior abertura para os temas sociais e ambientais. Pessoas que sejam de áreas diferentes, terão aqui que ser criadas, e que se calhar no seu dia-a-dia, não os utilizem da mesma forma. Portanto, temos que encontrar espaço para todos e formas de comunicar e aqui o ponto a comunicação com estes diversos públicos.

 

  • SOFIA CANSADO

Claro que sim. Sónia, acho que acabaste por resumir na prática, como é que se pode começar esta festa e lançar os convites, não é? Pegando na frase do início. Obrigada por teres estado aqui falar sobre este tema comigo.

 

  • SÓNIA GONÇALVES

Muito obrigada, Sofia. Agradeço a todos e a todas que estiveram desse lado a ouvir-nos. É um tempo muito curto porque haveria muita coisa a dizer. Peço desculpa, senão não toquei em todos os pontos, porque há aqui muitos pontos para abordar. E deixei aqui naturalmente de fora alguns aspectos, como a questão dos nossos seniores e dum tema e deixo-te, fecho com isto, com um tema que fica aqui também para não nos esquecermos em termos... Nós temos de facto alguma dificuldade em encontrar talentos, mas a verdade é que deixamos de fora pessoas com 50 ou mais anos. No caso da realidade portuguesa, infelizmente, até às vezes é um pouco antes e é um tema que também devemos refletir a todos e portanto, porque de facto deixamos aqui, achamos que as pessoas a partir de uma certa idade são muito caras e são pouco produtivas. E é também outro preconceito. Mas, como vês, este é um tema que nos levaria a tantos outros. E não vou adiantar mais porque sei que temos um tempo para cumprir.

 

  • SÓNIA GONÇALVES

Agradeço profundamente esta oportunidade e até breve. Muito obrigada, Sofia, a ti e a todos os que nos ouvem e a todas. Obrigada.

 

  • SOFIA CANSADO

Obrigada, Sónia. Obrigada também a quem nos ouve. Já sabem que este é um tema que provavelmente vai voltar, porque temos muito para falar. Já sabem que também temos os nossos episódios quinzenais, portanto estejam atentos e voltamos em breve. E acompanhem-nos nas redes sociais Instagram, Facebook e LinkedIn. Obrigada.

 

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