<p>A mulher e o gado. A mulher, a força, a família, a vida. O gado, a sobrevivência, a alimentação, a vida. Neste momento, estático, vemos a mulher e o gado. Mas o que está para além desta imagem? O que representa? O que implica? Este é um dia, mais um dia de trabalho, de sustento da família. A imagem representa um padrão, uma cultura, um modo de subsistência. O pormenor faz a a diferença. O voluntário deve estar atento ao pormenor. Como se vai adaptar a essa realidade, a esse contexto. Diferente do que são os nossos padrões de referências. Todos nos preparam para o choque cultural. Tudo é diferente. A cidade, a vila ou aldeia, a escola, o trabalho, o dia-a-dia, a vida! Mas o que é afinal essa diferença? O que se espera de mim? Como posso marcar a diferença?</p>
<p>Há diferenças, claro, mas afinal quais são? Quando passo a fronteira para o país vizinho, também vejo diferenças. Afinal, o que distingue os países de terceiro mundo? O que pode ser expectável do trabalho de voluntários? É estar atenta ao pormenor, como eu, pessoa diferente neste contexto, poderei realmente enquadrar-me. O mundo não muda completamente, mas claramente pode evoluir. Através da troca de experiências, da compreensão, da atenção. Como se garante a sustentabilidade e a passagem de conhecimento? Acredito que a comunicação, aprender como são os demais e a troca de ideias, são pontos críticos nessa evolução. </p>
<p>O voluntariado está na imagem da mulher e do gado. O tempo, o ritmo, a passagem. O ponto fixo, sujo, desfocado. O voluntariado não é ajustar a luz ou a paisagem, para conseguir captar a melhor imagem. A melhor imagem fica em nós, aquilo que nos é passado, aquilo que nos é permitido ver e tocar. Coloca-se a questão da intromissão, da superiorização, do exemplo. Afinal, porque o voluntário é o exemplo ou, pelo menos, é assumido como tal? O voluntário tem a coragem. A coragem de olhar para esse detalhe, adaptar-se a ele. A tal diferença esperada de mudança do mundo. Mas essa mudança é lenta, é dura e dói. Os optimistas podem chamar-lhe dor de crescimento. Qualquer mudança, por mais acertada que possa ser, terá sempre uma consequência. Algo que se ganha, mas também algo que se perde. É necessário atentar a esse pormenor, do que se perde, e perceber efectivamente se a mudança tem um impacto positivo.<br>O desafio está aí. A coragem de romper com a zona de conforto, o conhecido, a protecção, o sentimento de segurança. A coragem de romper com o monotonia, a bolha do comodismo. Arriscar para o “mundo novo”. Chegar e aprender. Olhar, mas ver. Olhos bem abertos e absorver a energia, o ritmo, a vida. Lidar com o sujo, o desconfortável, o que incomoda. Porque no final do dia ganhei mais, ganhei tanto. As pessoas, as vidas, as vivências, as formas de encarar os problemas. Ser crú, na essência.</p>
<p>Obrigada Randstad pela oportunidade. Obrigada VSO pelo voto de confiança. </p>
<p>E desse lado? Há coragem?</p>
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<p>Isabel Relvas Ferreira, Senior Manager na área Sales & Marketing, Randstad Portugal</p>