O estudo «Remote Work em Portugal», da JLL, revela que, até à actual pandemia, 66% dos profissionais portugueses não tinha experiência de trabalho remoto. Este regime está a ser muito bem aceite pelos portugueses e há vontade de o manter no futuro. 

De acordo com o inquérito – que reuniu contributos de cerca de 1100 profissionais –, 95% dos profissionais considera que, após o desconfinamento, o melhor é passar a trabalhar a partir de casa pelo menos um dia por semana. Dois a três dias é considerado o tempo ideal, sendo uma opção indicada por 57% dos inquiridos.



Apesar da forma abrupta como o teletrabalho teve que ser implementado, também as empresas estavam preparadas. É isso que afirma 86% dos inquiridos, reconhecendo que as suas empresas se adaptaram totalmente ao teletrabalho. A capacidade tecnológica e digital de que as empresas já dispunham, disponibilizando ferramentas eficazes de trabalho remoto e colaboração em equipa foi identificada como determinante. 



Maria Empis, head of Strategic Solutions da JLL Portugal, comenta: «O facto de uma realidade imposta de forma disruptiva e abrupta ter sido facilmente integrada e aceite por empresas e colaboradores em poucos dias, prova que o teletrabalho já estava em marcha, que as empresas estavam preparadas tecnologicamente e que o recurso generalizado a este tipo de trabalho não aconteceu antes por questões sobretudo culturais. A pandemia veio acabar com alguns estigmas que existiam e acelerar a massificação do teletrabalho, uma realidade que mais cedo ou mais tarde acabaria por acontecer. A transformação digital é a chave essencial para esta mudança. A pandemia veio “apenas” acelerar a mudança de mentalidade», acredita. 



Entre as principais vantagens do teletrabalho apontadas pelos profissionais estão não ter que perder tempo nas deslocações (32%), não ter as interrupções constantes do escritório (27%) e ter uma agenda flexível (25%), além de ter mais tempo para a família (13%). Estas vantagens traduzem não só ganhos de produtividade, como também redução da pegada ambiental, melhor gestão do tempo e uma vida mais sustentável, valores alinhados com as novas gerações. De tal forma que o estudo mostra ainda que para 83% dos profissionais é relevante que uma proposta de trabalho passe a considerar o teletrabalho associado a uma agenda flexível, mostrando que estes podem ser importantes pontos para a captação e retenção de talentos.

Vantagens e desvantagens



O estudo destaca ainda que os portugueses consideraram que esta forma de trabalho remoto pode contribuir para uma melhoria no desempenho profissional (71%), que não impede a progressão na carreira (69%) e que reduz o stress (57%). 

Ainda assim, e apesar de todas estas vantagens, os inquiridos reconhecem algumas dificuldades neste conceito, apontando como inconveniente as tentações da casa (31%), a dificuldade de concentração devido à estrutura familiar (23%) e não ter um espaço adequado em casa (19%). A tecnologia como impedimento foi apenas apontado por 13% dos inquiridos. 



A estes respeito, Maria Empis faz notar que, «num ambiente de trabalho em casa, com reuniões em videoconferência, leitura e resposta de variadíssimos emails, chamadas telefónicas hora sim, hora não, não esquecendo a necessidade de tempo de concentração para pensar, estruturar e implementar novas ideias, a maior dificuldade é traçar a linha entre a vida profissional e a vida pessoal, onde entram as relações familiares e sociais, a gestão do dia-a-dia e o lazer. Em consequência, se estas duas “vidas” são confundidas sem uma separação visível, existe o risco de se cair em isolamento profissional ou isolamento social», alerta.



A questão do espaço físico será também determinante no escritório, uma vez que a pesquisa da JLL vem mostrar que a massificação do teletrabalho vai revolucionar o conceito de escritório físico e obrigará a uma reorganização do espaço. Dada a perceção positiva desta forma de trabalho e a sua valorização pelos profissionais, para atrair a reter talento as empresas deverão ter que criar conforto com espaços adequados ao trabalho desempenhado, reorganizando o escritório com estratégias que combinem espaços, pessoas e tecnologia, «uma vez que a tendência futura é de uma maior atenção à qualidade do espaço social. O escritório do futuro terá assim de apostar em espaços mais flexíveis, com partilha de postos de trabalho, fortemente preparados para a colaboração, devido ao aumento do teletrabalho e dos avanços na mobilidade da tecnologia», defende-se.