É inegável. O sector está a ficar atrás de outros em termos de atractividade. À medida que a digitalização, a automatização e a globalização continuam a acelerar, os empregadores do sector de serviços financeiros estão a reavaliar o talento de que precisarão a curto e longo prazo. É mais importante do que nunca para bancos, empresas de investimentos e outras no sector financeiro atrair o talento mais inteligente e motivado que se encontra hoje no mercado.

 

A atravessar os anos mais transformacionais da sua história recente, as empresas do sector financeiro precisam de compreender o que as tornará realmente atractivas entre os melhores e mais promissores talentos. A remuneração e os benefícios continuam a ser as principais razões para muitos colaboradores que entram no sector – os salários de Wall Street estão no ponto mais alto dos últimos 10 anos. Mas quando se compete por grande talento, um pacote de remunerações atractivo só servirá para dar início às conversações (ainda assim, surge em primeiro, com 62%, percentagem mais elevado do que a registada nos colaboradores globais – 59%)

De acordo com o Randstad Employer Brand Research 2019, para ganharem corações e mentes, os empregadores terão de dar ênfase a factores intangíveis, como um bom equilíbrio entre a vida profissional e pessoal e a estabilidade profissional. Uma década depois da crise financeira global, o nosso inquérito a mais de 200 mil colaboradores adultos em 32 países indica que as pessoas continuam a valorizar um emprego estável e algum tempo pessoal para gozarem a vida.

A estabilidade profissional (surge em terceiro, com 46%, logo depois do equilíbrio profissional/ pessoal, com 47%) tornar-se-á um factor crescente na atracção de talento no sector por várias razões. À medida que se avizinham sinais de abrandamento económico – exacerbados pelo recorrente drama do Brexit, pela crescente guerra comercial norte-americana e por uma recessão já esperada – muitos profissionais irão certamente preferir manter os empregos em vez de receberem prémios mais altos. Além disso, com muitos negócios a recorrem à Inteligência Artificial (IA) e a modelos de pagamento digitais, alguns colaboradores que trabalham no sector há bastante tempo podem ser deslocados por causa destas inovações. Como resultado, o sector fica preso entre a pressão da tecnologia para evoluir mais depressa e a sua natureza conservadora para mudar a uma velocidade mais discreta.

 

Atractividade por sector

Apesar da promessa de remunerações e benefícios lucrativos, as empresas de serviços financeiros não são vistas como empregadores particularmente atractivas. O sector foi considerado o sexto mais atractivo (com 45%), atrás de sectores como Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC – 55%), bens de consumo (52%), sector automóvel (51%), Ciências da Vida (50%) e Emgenharia (48%). É provável que muitos colaboradores ainda estejam ressentidos com os bancos e as empresas de investimento após a crise financeira de há uma década. Adicionalmente, a falta de liderança diversificada do sector faz também com que as empresas tenham mais dificuldade em expandir o seu apelo para lá da base de colaboradores do sector.

Contudo, à medida que o sector continua a sua transformação digital, terá de mudar a percepção de possíveis colaboradores. Como revelou um inquérito recente, apenas uma minoria de consumidores tem confiança nos bancos e nos executivos que os gerem. Esta falta de confiança é um obstáculo significativo para os colaboradores millennials e para a geração Z, que procuram significado e não apenas remuneração nas suas escolhas profissionais. E embora os que trabalham no sector tenham menos probabilidade de se preocuparem com questões como devolver às comunidades (o inquérito da Randstad descobriu que apenas 14% afirmam que isto é importante para eles, em comparação com os 16% dos colaboradores de todos os sectores), os empregadores dos serviços financeiros terão de melhorar os seus esforços de responsabilidade social de forma a atraírem novos colaboradores ou colaboradores de outros sectores.

Conseguir atrair talento do sector das TIC será fundamental para alguns bancos e empresas de investimento, que cada vez competem pelas mesmas aptidões que as empresas de tecnologia.

Cargos como engenheiros de sistemas, programadores de aplicações, cientistas de IA e dados, profissionais de cibersegurança e especialistas em blockchain são agora muito procurados, enquanto bancos e instituições financeiras se transformam. À medida que a automatização e a banca móvel prolifera, as empresas enfrentam mais pressão para apresentarem inovações aos seus clientes institucionais e consumidores com mais celeridade, ou arriscam-se a perder quota de mercado. Isto coloca uma enorme pressão nos líderes de Recursos Humanos e de aquisição de talento, para que procurem e envolvam talento de todo o mundo.

Ao mesmo tempo, o sector enfrenta igualmente desafios na retenção, mostra o estudo da Randstad. Mais de um quarto dos colaboradores no sector mudará de empregador nos próximos 12 meses, enquanto 20% afirmaram tê-lo feito nos últimos 12 meses. Entre as principais razões para mudarem de emprego estão as remunerações baixas (referidas por 44%), uma progressão de carreira limitada (42%), um mau equilíbrio profissional/pessoal (32%) e desafios insuficientes (28%).

Em todos os sectores, um quinto dos inquiridos afirmou ter mudado de empregador nos últimos 12 meses, enquanto um terço tenciona fazê-lo no próximo ano. Isto mostra que embora os colaboradores dos serviços financeiros tenham estado mais dispostos a permanecer no mesmo local no último ano, estão mais ansiosos do que os outros no que toca a mudanças num futuro próximo.