Numa altura em que as empresas estão num “leilão” competitivo para atrair talento, está provado que a flexibilidade horária, o teletrabalho e um plano de benefícios flexível e personalizado são os elementos diferenciadores e decisivos para “inclinar a balança”.

 

Entrevista a Borja Aranguren, CEO & Co-Founder da Cobee

 

Borja Aranguren, CEO & Co-Founder da Cobee, que iniciou actividade em Portugal este ano, considera que «o sector dos benefícios está ainda bastante desactualizado em relação às tendências actuais – tanto em Portugal como em Espanha, e em muitos outros países. Foi precisamente para mudar esta realidade que criámos a Cobee», diz.

 

A Cobee iniciou a sua actividade em Portugal em Janeiro. Porquê esta aposta no nosso país?

Começar a operar em Portugal era algo que queríamos fazer desde o início, mas estávamos à espera do momento mais adequado. Vemos muitas semelhanças entre os dois países ibéricos, tanto em termos de condições como de necessidades, na área de gestão dos benefícios para os colaboradores. 

Por outro lado, também detectamos uma profunda sinergia comercial entre os dois territórios, começando por muitos dos nossos clientes, que também operam em Portugal e que nos pediam que nos internacionalizássemos o mais rapidamente possível. Por tudo isto, foi sempre um passo lógico na nossa estratégia.

 

O que vêm trazer ao mercado nacional? O que vos diferencia na vossa área de actuação?

A Cobee é a única plataforma que reúne todos os benefícios num só lugar, sem necessidade de fornecedores e de forma 100% digital, o que, por si só, nos distingue. 

Por outro lado, o nosso principal objectivo é trazer ao país um pacote de benefícios personalizado e totalmente flexível, que oferece controlo total ao colaborador, e que para além disso também reduz consideravelmente a carga administrativa para as equipas de Recursos Humanos (RH). A estratégia que aplicamos inclui conhecer e compreender muito bem o mercado português, de modo a adaptar a nossa proposta de valor às necessidades das empresas.

 

Que benefícios os colaboradores mais valorizam actualmente? E que novos benefícios estão a surgir?

A pandemia mudou muito o cenário dos benefícios, uma vez que as ofertas mais tradicionais das empresas, tais como os cartões de refeição, transporte, jardins de infância, etc., foram limitados pela situação que enfrentamos. Agora os colaboradores querem planos de benefícios digitais que se ajustem à situação actual e que possam consumir, independentemente de o seu trabalho ser presencial ou não. 

Neste momento, a saúde, tanto física como mental, é sem dúvida a prioridade número um para os colaboradores portugueses; as pessoas querem sentir que têm apoio das suas empresas num ponto essencial, e ao mesmo tempo nem sempre acessível a todas as carteiras: o de ter um seguro de saúde. 

Quanto aos novos benefícios que estão a surgir, poderíamos dizer que há uma maior tendência para tudo o que é digital – seja a subscrição de serviços como a Netflix ou mesmo a possibilidade de usufruir de consultas médicas online, entre outros – e para o bem-estar financeiro, como planos de pensões, seguros de vida, etc

 

As empresas em Portugal, genericamente falando, vão ao encontro dessas preferências?

Infelizmente, o sector dos benefícios está ainda bastante desactualizado em relação às tendências actuais – tanto em Portugal como em Espanha, e em muitos outros países. Foi precisamente para mudar esta realidade que criámos a Cobee. O que realmente importa neste momento é que as empresas compreendam, o mais rapidamente possível, que precisam de começar a ouvir atentamente os seus colaboradores, de modo a poderem oferecer-lhes exactamente os benefícios de que necessitam, e não um mesmo plano genérico. 

É tempo de avançar nesta cultura de capacitação dos colaboradores; agora temos as ferramentas necessárias e as equipas de RH ganharam o protagonismo e a visibilidade necessária, dentro das empresas, para o realizar.

 

Esta flexibilidade que promovem em termos de benefícios, também defendem para as formas de trabalho?

Claro que sim. Como todos sabemos, a pandemia mudou a forma como trabalhamos, como nos relacionamos... Em suma, mudou completamente a forma como vivemos. Na Cobee acreditamos que é essencial ouvir os colaboradores e dar resposta às suas necessidades, em todas as áreas, a fim de melhorar a sua qualidade de vida e a sua felicidade. Assim sendo, naturalmente concordamos que é necessária flexibilidade na forma como trabalhamos, e para além disso ela é também mais uma arma que as empresas podem utilizar para atrair e reter o talento.

 

Que equipa têm actualmente em Portugal e como é que ela é gerida? Também de forma 100% digital, como a vossa plataforma?

Em Lisboa contamos com três profissionais nativos com grande experiência e conhecimento do mercado português. E em Espanha, em Madrid, temos também colegas dedicados a apoiar a equipa portuguesa. Contamos fazer crescer a nossa equipa portuguesa ainda este ano. Em Espanha não trabalhamos 100% de forma digital – oferecemos muita flexibilidade e funcionamos num regime híbrido, porque acreditamos que também é muito importante estarmos juntos e colaborar pessoalmente algumas vezes por semana – obviamente, se as condições de saúde e segurança o permitirem. Em Portugal, neste momento, estamos em teletrabalho a 100%, mas pretendemos voltar ao modelo híbrido assim que as condições o permitirem.

 

Diria que os profissionais portugueses valorizam mais a flexibilidade ou a estabilidade? Nota diferença em relação ao mercado espanhol, por exemplo?

Como mencionei anteriormente, os dois mercados são muito semelhantes em termos das necessidades dos colaboradores. Em ambos os países realizámos um estudo que confirma que a flexibilidade é a sua principal exigência: tanto a flexibilidade de horários de entrada e saída ou de teletrabalho, como a flexibilidade nos seus planos de compensação. Neste ponto, a verdade é que 8 em cada 10 colaboradores consideram que o seu plano actual é generalista e demasiado fechado. 

Não creio que a flexibilidade e estabilidade sejam incompatíveis; penso que se complementam, uma vez que o direito à flexibilidade que os colaboradores exigem se transforma num modelo estável e produtivo para a empresa.

 

Afinal, do que é que depende a estabilidade? Do tipo de contrato? Da empresa? Do sector? Da conjuntura? Do salário? Dos benefícios...

Certamente neste ponto cada um tem a sua opinião, mas penso que existem algumas bases fundamentais, como um bom ambiente de trabalho, um trabalho que motive e seja reconhecido, e contar com essa flexibilidade que mencionei e que ajuda a conciliar a vida pessoal e a profissional. A partir daqui, tudo o resto se soma a estes alicerces, e sabemos que os benefícios, por exemplo, desempenham um papel muito importante no bem-estar e estabilidade dos colaboradores, quanto mais personalizados e adequados às suas necessidades forem. 

Quanto ao clima económico, parto do princípio de que qualquer empresa que se preocupa com os seus colaboradores e lhes quer oferecer alguma estabilidade, deve oferecer salários dignos e competitivos no sector. 

 

E as lideranças, também terão influência na estabilidade dos profissionais?

Acredito que um bom líder é uma figura que está a tornar-se cada vez mais importante dentro das empresas. Há alguns anos atrás, um colaborador podia trabalhar toda a sua vida numa empresa sem nunca se encontrar com o seu CEO ou sem conhecer a estratégia da empresa. Agora isso mudou, os colaboradores querem transparência e proximidade, é necessário aproximá-los dos objectivos da empresa e implementar modelos colaborativos e abertos. No final do dia, se o colaborador acreditar no líder e sentir que se identifica com ele, o seu vínculo com a empresa será muito mais forte. 

 

Sendo uma empresa recente – fundada em 2018 – quais são as vossas prioridades em termos de Gestão de Pessoas?

Desde o primeiro dia que temos vindo a crescer com base em três valores: employees first, owner ownership e ambition is possible. Isto na prática quer dizer que confiamos totalmente nas pessoas que trabalham na Cobee, no seu critério para decidir e no seu poder para se reinventar e melhorar. 

Penso que não há uma fórmula mágica, mas sim trabalho de equipa colaborativo e transparente que faz com que todas as peças se encaixem, que os colaboradores se sintam confortáveis, reconhecidos e ouvidos e que a empresa progrida com eles. 

 

Que tendências perspectivam, quer em termos do mundo do trabalho, quer dos benefícios extrassalariais?

É definitivamente tempo de nos reinventarmos e experimentarmos coisas novas. Nos últimos anos tem havido uma procura crescente por perfis especializados, altamente solicitados e ao mesmo tempo escassos no mercado, o que faz com que as empresas entrem num “leilão” competitivo para atrair talento. E aqui vale tudo, são testadas novas fórmulas com o objectivo de atrair e reter talento, e está a ficar provado que a flexibilidade horária, o teletrabalho e um plano de benefícios flexível e personalizado são os elementos diferenciadores e decisivos para inclinar a balança hoje em dia. 

Quanto a tendências concretas, destacaria a digitalização do sector: é necessário simplificar os sistemas de gestão de dados dos colaboradores e facilitar o trabalho quotidiano dos RH através de plataformas unificadas e de uma experiência de utilizador personalizada. Acrescentaria também a importância dos canais de comunicação, para saber o que pensa o colaborador e oferecer fórmulas mais personalizadas. Finalmente, o bem-estar financeiro será também uma das grandes novidades, encabeçado pelos planos de pensões e de vida. Aqui é fundamental o papel que as empresas desempenham no acompanhamento da concretização destes planos para o futuro, uma vez que não só podem aconselhar os seus colaboradores sobre como planear a sua reforma, como também podem garanti-la através de planos de benefícios adequados.