• SOFIA CANSADO

Olá! Sejam bem-vindos ao podcast #EVERYDAYHERO. Hoje vamos falar sobre um tema que é conhecido por muitos, o famoso... a famosa, aliás, semana de 4 dias ou até aqui a flexibilidade horária. Falamos aqui de novos modelos de trabalho que podem ou não chegar a Portugal e que comigo eu tenho a Daniela Inácio para falar um bocadinho sobre este tema. A Daniela é Consultora de Staffing na Randstad. Daniela, Bem-vinda!

  • DANIELA INÁCIO

Olá, Sofia. Antes demais, muito obrigada pelo convite. Falando, então, aqui um bocadinho sobre mim. Estou aqui no mundo do Staffing e no mundo da Randstad desde o ano 2017. Foi efetivamente o meu primeiro trabalho aqui na área dos Recursos Humanos, na qual eu sou licenciada e atualmente também estou a frequentar o mestrado de Gestão e Desenvolvimento de Recursos Humanos, porque aprender nunca é de mais e também aqui um bocadinho no seguimento da liberdade horária do nosso tempo. A nível de experiências profissionais, tive também uma outra, em que trabalhei como operadora de loja, o que também me ajudou bastante depois aqui do outro lado, do lado do recrutamento. A estar também preparada e conhecer um bocadinho do que é a realidade do outro lado, a dos nossos colaboradores. A nível de curso, portanto, sempre estive aqui na área do Staffing, nunca mudei de área. E estou muito ligada ao trabalho temporário de funções mais industriais e depois também funções do terceiro sector. 

  • SOFIA CANSADO

Ok. E só me falta o teu Fun Fact, que ainda há pouco estávamos a discutir isso.

  • DANIELA INÁCIO

É verdade. Então, a nível do fun fact pessoal, o que eu gostaria de partilhar convosco é que sou, ou pelo menos era, uma pessoa bastante introvertida, não poderia falar com as pessoas sem ficar vermelha, corada e as pessoas sentiam pronto realmente isso, da minha parte, e a nível de comunicação, e esta área dos recursos humanos também ajudou muito a ultrapassar essa, não é que seja uma barreira porque é algo nosso, mas ajudou-me um bocadinho a ultrapassar isso, e a ser mais natural e começar a ver as coisas de outra forma.

  • SOFIA CANSADO

Portanto, todas as pessoas que sejam tímidas. Ser consultor de Recursos Humanos ajuda bastante.

  • DANIELA INÁCIO

Ajuda, sem dúvida. Porque passa a ser obrigatório nós comunicarmos com os outros e quando nos apercebemos já é muito, já acaba por ser algo muito natural, já nem pensas: "aí tenho que abordar aquela pessoa, como é que vai ser?" Portanto, é importante trabalharmos isso, sem dúvida. 

  • SOFIA CANSADO

Muito bom. Daniela, eu acho que há aqui dois modelos diferentes que vamos abordar hoje, tanto a parte da semana dos 4 dias, como também aqui o tema da flexibilidade horária. E nós sabemos que a semana de 4 dias não é aqui um conceito novo. Temos falado sobre isto desde 2020, mas podes explicar um bocadinho o que é de facto esta semana de 4 dias. Acredito que não seja só a definir que a partir de hoje só trabalhamos 4 dias. Não é?

  • DANIELA INÁCIO

Era bom. Não, este conceito efectivamente já vem sido falado nos últimos anos, não só desde 2020, um bocadinho antes também. Mas em 2020 começou aqui a ganhar outra conotação, também por efeito da pandemia que estamos a viver. Mas, basicamente, esta semana de 4 dias de trabalho consistiria não na redução do horário de trabalho, porque se manteria igual, o número de horas semanais seria o mesmo. Simplesmente seria reduzido então para 4 dias de trabalho, 3 dias de folga e ajustado então as horas diárias de trabalho, por exemplo, falando aqui no horário comum, das 9 às 6 (18), 8 horas diárias dariam para 10 horas diárias, de forma a termos depois os três dias de folga por semana. Portanto, concentra-se essencialmente nesta diferença de modo de trabalho, portanto estarmos mais concentrados em 4 dias, portanto aqueles 4 dias temos que estar a produzir para depois também termos 1 dia extra, que às vezes sabe bem, usar no dia-a-dia normal para descansarmos um bocadinho mais.

  • SOFIA CANSADO

Acreditas que este modelo pode ser implementado em todos os setores ou há aqui setores que não faz sentido.

  • DANIELA INÁCIO

Eu acredito que neste momento não. Ainda mesmo aqui, a nível global e a nível de Portugal em si, poderemos começar a aplicar mas mais a nível de setores ligados à parte da tecnologia. Neste momento, não acredito que seja possível enquadrarmos em todos os sectores, mesmo também pelo contexto organizacional, a área de negócio da própria empresa. Isso depois também vai ter muito impacto no que podemos ou não definir como os 4 dias de trabalho.

  • SOFIA CANSADO

Sim, porque este modelo ainda é um bocadinho conceptual, não é? Não pode ser aplicado a muitas realidades. Ainda tem de ser trabalhado para perceber se faz sentido. Ainda estamos à espera de perceber o real efeito.

  • DANIELA INÁCIO

Não é algo que neste momento possa ser transversal, numa globalidade, não é? Mesmo se entrarmos aqui na realidade do que é o nosso Portugal, nós somos um país industrializado, portanto, neste momento as indústrias não, se calhar não teriam essa capacidade de manter os mesmos níveis de produção, só com 4 dias de trabalho. Portanto, temos que também ver aqui um bocadinho efectivamente à realidade da empresa e fazer testes inicialmente. Claro que, na minha opinião, e o que é comentado é que efetivamente é mais fácil fazer isso já com empresas que são mais tecnológicas, mais também no teletrabalho, trabalho remoto é aplicado acaba também por facilitar aqui o contacto com as pessoas também, ajuda bastante.

  • SOFIA CANSADO

Sim. Eu acho que o que o modelo de 4 diz ainda tem de ser.

  • DANIELA INÁCIO

Bastante estudado.

  • SOFIA CANSADO

Exacto. Mas depois temos outro modelo que já é implementado, que já mostrou resultados, que muitas empresas estão a adotar cada vez mais, que é a flexibilidade horária. Qual é que é aqui a diferença que podes destacar entre os 4 dias e a flexibilidade?

  • DANIELA INÁCIO

A nível de diferenças tem a ver com a tua gestão diária. Eu diria isto porque, a nível de horas semanais, mantemos as mesmas horas, enquanto que nos 4 dias acabas por ter 3 dias de folga, aqui manténs na mesma os 2, mas a nível diário consegues fazer uma melhor gestão do teu dia-a-dia, organizado, por exemplo, nas tarefas que tens de concretizar e dar prioridade a isso. Por exemplo, também há empresas que dão flexibilidade horária de entrada e de saída. Sabes que entre as 8 da manhã e as 8 da noite, desde que faças o teu trabalho, estás à vontade. Não tens que contar ali aquelas horas efectivas, seguidas por exemplo. O objetivo é que a empresa sabe que no final vai ter o teu trabalho feito. Portanto, consegues sempre conciliar aqui também e eu acho que é importante um equilíbrio entre vida pessoal com a vida também profissional. Teres principalmente esse registo de flexibilidade, com uma pessoa que se calhar já tenha filhos, uma família, acaba por ajudar nesse sentido. E também importante vermos aqui, mais uma vez, esta realidade de que avançamos, eu acho que muito rápido em Portugal, porque ainda não é um conceito assim que não se vê muito, que era do trabalho remoto, também veio ajudar ainda mais a proporcionar essa flexibilidade de horários. Acho que sim, também é uma realidade que já vimos a assumir nos últimos dois anos e sem dúvida que vai ficar. Mas mais uma vez neste tipo de funções, mais tecnológicas, muito remotas.  Provavelmente ao sentido, por exemplo, de uma indústria já é mais difícil também de concretizar.

  • SOFIA CANSADO

Sim. Nós até... Está muito relacionado, como tu disseste, com o Work-Life Balance, já falámos deste tema várias vezes no Podcast. Mas eu acho que aqui o ponto chave que tu estavas a referir é mesmo a empresa dar aqui a autonomia e a responsabilidade à pessoa, gerir o seu horário, porque no final do dia, foi o que tu disseste, no final do dia o trabalho tem de estar feito, os objetivos têm de estar alcançados e depois a gestão é feita por cada pessoa. Achas que esta autonomia e este sentido de responsabilidade até pode ser um ponto a favor para a empresa, pode ser até aqui um factor de retenção?

  • DANIELA INÁCIO

Sim. Eu acho que é cada vez mais visto como um factor de retenção. Eu, por exemplo, que estou na área do recrutamento, também tenho essa percepção. Há muitas pessoas que já procuram ofertas que, mesmo que proporcionem isso, esse Work-Life Balance, ou seja, poderem estar em casa a trabalhar, conseguirem naquela hora fazer aquilo que gostam. E também acaba por dar mais motivação à pessoa e produtividade também acho que aqui é um tema interessante para falarmos quando estamos a abordar este impacto no horário. Portanto, uma pessoa que se sente mais motivada, que sabe que tem esta liberdade, acaba por produzir mais, é isso que a empresa também procura.

  • SOFIA CANSADO

Eu acho que já me deste aqui até um bocadinho a tua opinião, mas nós vemos, por exemplo, a Bélgica é um país que já implementou este modelo em algumas empresas, em algumas áreas. Já tem aqui resultados interessantes, até para fazer um case study. Mas tu vês esta realidade a acontecer em Portugal.

  • DANIELA INÁCIO

Sim. Primeiro estamos a falar de um país como a Bélgica, não é? Que tem uma boa forma também de cultura e diferente do que é Portugal. No caso deles funcionou bem e também tem vindo a ser alargado para o sector privado. Eles também quando fizeram o teste foi mais na parte do sector público, depois alargaram para o sector privado e efetivamente têm resultado. Relativamente a Portugal, portanto, nós somos um povo ainda que vive muito para o trabalho. Depois também, se formos a ver somos ainda um dos países da União Europeia que não produz, os níveis de produtividade não são tão elevados, se formos comparar com uma Bélgica que já avançou para este modelo. Também pode aqui atrasar um bocadinho esta implementação, eu acho que efetivamente pode ser um caminho a seguir para Portugal. É algo que vai ser muito gradual. Portanto, que não vai acontecer de hoje para amanhã, nem daqui a dois anos. Acho que vai demorar aqui algum tempo mas que é uma realidade possível de acontecer em Portugal, sem dúvida alguma.

  • SOFIA CANSADO

Sim, sim. Eu acho que faz sentido. Bem também acho que é um bocadinho ingrato estarmos aqui a comparar níveis de produtividade, até pela dimensão.

  • DANIELA INÁCIO

Exactamente. A dimensão, a forma de viver do país. Depois também temos aqui que ver a parte económica das nossa empresas. Portanto, de que forma é que isto iria mexer também com a nossa economia. Se as empresas conseguiriam ou não suportar na mesma com menos horas de trabalho os mesmos salários, porque isso acaba por mexer em vários campos, não é? E também depois temos o tema de se calhar teríamos que, algumas empresas de forma a garantir o serviço, nós temos muitas serviços a trabalhar 24/7. Se calhar teriam que contratar também mais mão-de-obra para garantir sempre a qualidade e a resposta no serviço. Portanto também há aqui dois lados da moeda, digamos assim, o lado bom para os colaboradores, não é? Porque acho que toda a gente gostaria de ter um dia extra.

  • SOFIA CANSADO

Sim, mas se calhar ainda estamos a olhar muito para esta realidade, até com uns óculos um bocadinho cor de rosa. Não é? Porque há muita coisa a ter em conta.

  • DANIELA INÁCIO

Exactamente. Temos muitos fatores que devemos considerar e realmente adequar aquela realidade organizacional. Portanto, não é assim, preto e branco. Temos que analisar mesmo ao pormenor e perceber o que pode ou não acontecer. Por exemplo, outra sugestão aqui também não reduzir, por exemplo, os 4 dias mas se tirássemos 1 hora por dia, reduzir de 40 para 35 horas por semana.

  • SOFIA CANSADO

Nós vemos isso, não é? Por exemplo, no verão, há muitas empresas que adotam. Eu acho que são mais empresas na área de IT. Corrige-me se estiver enganada, que tiram, dão as tardes de sexta-feira. E aí, eles até tem já uma forma de testar, porque, na verdade, acredito que a produtividade não desça só por uma tarde. Não é?

  • DANIELA INÁCIO

Exatamente. Portanto, acho que pode ser aqui uma forma de teste para as próprias organizações, que são um bocadinho também mais fechadas. Verem se conseguem ou não seguir esta dinâmica, porque efetivamente eu acredito que no futuro isto vai acontecer. Não, num próximo, como estávamos a falar há bocado, mais para a frente, mas é uma forma de se irem testando e ver também a capacidade de resposta. Na verdade, 8 horas de trabalho, às vezes é muito difícil manter sempre o mesmo nível de motivação. Portanto, acaba também ali por as pessoas conseguirem ter outra dinâmica, automotivarem-se também, saberem que saem mais cedo, pode ajudar também a contribuir para o Work-Life Balance, voltamos sempre ao mesmo tema, não é? Porque acho que isto é muito, muito importante na vida de qualquer pessoa.

  • SOFIA CANSADO

Eu acho que agora só preciso de te fazer uma pergunta. Já percebemos que há muitas nuances por cada modelo. Mas vamos tirar essas nuances. Vamos só pensar nos modelos. E se tu tivesses poder de decisão, qual é que era o modelo de trabalho que tu implementavas já amanhã, em todas as empresas.

  • DANIELA INÁCIO

Todas. Se fossem todas, dá aqui que pensar um bocadinho. Portanto, temos que olhar para todas de uma forma geral. Pessoalmente, eu adoptaria os 4 dias de trabalho. Porque, na verdade, no nosso dia-a-dia acabamos sempre por dar mais 1 hora ou assim. Sempre que temos aquelas nossas preocupações. E portanto, se calhar passar de 8 para 10 horas não é assim tão irrealista. Pode ser cansativo mas se calhar não é assim tão irrealista, desde que também tivéssemos aquela regra que a Bélgica tem, portanto, a dos três dias não podemos ser incomodados de qualquer forma, por email ou por telefone a nível de trabalho. Eu acho que aqui seria uma boa solução. Mesmo noutras empresas, até que poderia haver, e isto também pode ser aqui uma outra sugestão. A rotatividade de equipas, manter os 4 dias de trabalho e assegurar que o comum, que é o normal, estarem fechadas ao sábado e ao domingo, e metade das equipas que estão à segunda-feira e a outra metade às sextas-feira, por exemplo, e garantimos sempre que a empresa está a funcionar, está a produzir e acaba, se calhar também por não haver aqui qualquer problema. No entanto, isto seria o ideal se eu mandasse. Se eu tivesse esse poder.

  • SOFIA CANSADO

Portanto, já sabemos. Se a Daniela tivesse aqui poder de decisão, amanhã já estávamos a fazer aqui um modelo de 4 dias em Espanha.

  • DANIELA INÁCIO

Exatamente. Acho que seria aqui uma ótima opção. No entanto, aguardo ansiosamente que uma flexibilidade de horário transversal em Portugal, já era muito bom.

  • SOFIA CANSADO

Sim. Já estamos a dar passos nesse sentido.

  • DANIELA INÁCIO

É sim. Já era mesmo muito bom, isso acontecer.

  • SOFIA CANSADO

E veremos o futuro. Muito bem. Daniela, obrigada por teres estado aqui a falar comigo.

  • DANIELA INÁCIO

Obrigada, eu. Espero ter ajudado alguém, motivado alguém na procura de emprego, também.

  • SOFIA CANSADO

Sim, acredito que sim. Obrigada também a quem nos ouve. Já sabem que voltamos daqui a duas semanas. De 15 em 15 dias temos sempre um episódio novo e podem, no entretanto, acompanhar-nos nas redes sociais Facebook, LinkedIn e Instagram. Obrigada e até daqui a duas semanas.

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