• Sofia Cansado

Olá! Sejam bem-vindos ao podcast #EVERYDAYHERO. Voltamos com temas que estão, neste momento, com uma grande tendência. Falar de “"Quiet Quitting””. E, comigo, tenho a melhor pessoa para falar sobre este tema - o Celso Santos. O Celso é Associate Director da Professionals e também é a pessoa que vai comentar o tema hoje. Olá, Celso! Bem-vindo.

  • Celso Santos

Olá, Sofia! Tudo bem? Sim, agradeço também aqui o convite. Eu estou na Randstad há sete anos. Portanto, neste momento ocupo, desempenho a função de Associate Director da Randstad Professionals. Sempre estive na Randstad Professionals e na área do Porto, mas tem sido, sem dúvida, um caminho e um desafio muito interessante destes últimos 7 anos, quer para o desenvolvimento pessoal, quer para o desenvolvimento do negócio em si e, portanto, isso sem dúvida tem sido muito prazeroso, relativamente a esse mesmo caminho.

  • Sofia Cansado

Muito bem. Sabes que é uma tradição partilhar o teu Fun Fact, seja pessoal ou profissional.

  • Celso Santos

Não tenho. Não tenho propriamente um fun fact. Neste momento, eu posso dizer que tenho dois filhos em idade ainda muito escolar e, portanto, e sem dúvida há uma grande dedicação, principalmente nas atividades deles e na gestão das atividades deles extracurriculares. O meu filho joga futebol, a minha filha pratica quase todas as danças imaginárias, desde o ballet à acrodança, coisas deste género e portanto, acabamos sempre por estar muito mais nesta fase, ligados àquilo que são as atividades deles. Gosto muito de jogar futebol e continuo a fazê-lo, pelo menos, 1 vez por semana, com um grupo de amigos. Acaba por ser o nosso escape. Já fui federado de futebol.

  • Sofia Cansado

Portanto, não é só jogar ocasionalmente.

  • Celso Santos

Sim. Ainda numa idade, numa idade muito nova. Mas a carreira futebolística passou um bocadinho ao lado e, portanto, neste momento é apenas só por diversão, sim.

  • Sofia Cansado

Acabaste por passar esse gosto ao teu filho.

  • Celso Santos

Sim. Uma coisa natural mas sim, ele agora joga federado e, portanto, está muito ligado aqui ao futebol. Mas ele ainda tem 10 anos e, portanto, não espero que saía um Ronaldo.

  • Sofia Cansado

Exacto. Muito bem, Celso. Este é de facto o "Quiet Quitting”, a demissão silenciosa, como nós traduzimos. Apareceu há pouco tempo, mais nas redes sociais até, foi aqui um fenómeno que de repente surgiu no TikTok e espalhou-se completamente por todas as redes sociais. E os media também captaram isto. Mas o que é que é de facto este "Quiet Quitting”? Será que consegues dar aqui uma pequena introdução?

  • Celso Santos

Sim. Repara, a tendência não é propriamente nova. Não é? Inclusive nomes diferentes em várias gerações, inclusive de trabalhadores. E, sem dúvida, acho que pode ser entendido, como tu disseste e bem, como uma demissão passiva, ou é assim que lhe designam, mas essencialmente, consiste em realizar o mínimo ou básico essencial do trabalho, sem fazer as tais horas extraordinárias, sem se esforçar muito para além daquilo que é o necessário. Isto é o conceito, não é, o termo, que sem dúvida se viralizou, pela questão da internet. Na prática o termo não é novo. O termo é novo, o conceito não é novo.

  • Sofia Cansado

Já lá estava.

  • Celso Santos

Acho que sim. Já existia. Não é?

  • Sofia Cansado

Mas se já existia, e isto é muito interessante. Se já existia, já estava até caracterizado nas empresas profissionais que acabassem por ter este padrão profissional. Porquê agora esta atenção tão focada no "Quiet Quitting”? Achas que está motivado pelas alterações no mercado de trabalho e até ao que assistimos nos últimos 2, 3 anos? Há aqui uma motivação para surgir em força o "Quiet Quitting”?

  • Celso Santos

Obviamente, a pandemia trouxe muito estas temáticas e os limites entre a vida pessoal e a vida profissional acabaram por ganhar muito destaque, principalmente com o pós-pandemia e mesmo durante a pandemia. E o que é certo é que com o teletrabalho, muitos profissionais passam a estar, passaram a estar permanentemente ligados ao trabalho, fosse com emails, com chamadas, fora de horas, inclusive, e principalmente aquelas horas extra que muitas vezes os filhos iam-se deitar e as pessoas tinham a necessidade de se ligar para terminar determinado projeto. Isto, sem dúvida, acabou por, se calhar chamando-lhe "deteriorizar" a qualidade de vida pessoal e criar uma pressão psicológica, relativamente a essa forma de estar, não é. E que sem dúvida atingiram níveis bastante elevados, a nível daquilo que é o stress e começamos por perceber que se calhar era importante impor alguns limites no trabalho, não é.

  • Sofia Cansado

Claro.

  • Celso Santos

E inclusive nalguns países e, inclusive, em Portugal, com algumas leis que se destacaram pelo direito a desligar. Portanto, tudo isto foi muito reflexo da forma como nós, nos, vivemos também a pandemia, que era uma coisa completamente nova e que achamos que se calhar tínhamos que dar, tínhamos que estar muito mais ligados. E isso, sem dúvida, acho que se acabou por ressaltar estes temas, não é.

  • Sofia Cansado

Sim. Acho que até tu vês um padrão natural da evolução, acabamos por ter a "Great Resignation", um tema do ano passado em força, a evolução para depois o "Quiet Quitting”, ou seja, o próprio profissional vai acompanhando as transformações no mercado de trabalho e dando a sua resposta com as suas necessidades e os seus desejos profissionais.

  • Celso Santos

Sem dúvida, sem dúvida. E isto na prática, daquilo que vamos lendo e daquilo que vamos conhecendo, é quase uma resistência passiva, não é, a diferença entre polos do "workaholics" e da resistência passiva, relativamente ao trabalho. Mas nós não nos podemos esquecer de uma coisa que, na prática, isto só acontece e só é possível porque também vivemos um momento de praticamente pleno emprego.

  • Sofia Cansado

Certo.

  • Celso Santos

E este pleno emprego, e a falta que temos de candidatos para os projetos e para ocupar as vagas fazem com que se calhar as pessoas comecem a ter maior poder, não é, e conseguem preencher este, poder fazer isto de forma de protesto. A meu ver, eu julgo que não vai ter um grande futuro.

  • Sofia Cansado

E o que é que tu achas que isto significa para as empresas? Esta tendência do "Quiet Quitting”?

  • Celso Santos

Em vez de vermos isto como um problema obviamente, as empresas se calhar podem ver isto até como uma forma vantajosa relativamente aos empregadores. Isto porque vários estudos nos dizem que a saúde mental dos trabalhadores tem um forte impacto na condição financeira das empresas. Um funcionário feliz produz mais e é mais empenhado no seu trabalho. Portanto, ao mesmo tempo pode dedicar à vida pessoal, à familiar, aos amigos e os trabalhadores podem passar a estar menos estreitos no trabalho, podem tornar-se mais empenhados e mais produtivos. Portanto, eu acho que há aqui um contrassenso que, obviamente, para as empresas devem ver isto como uma possibilidade de ter funcionários felizes e ter funcionários ou colaboradores mais produtivos. Portanto, pode ser uma oportunidade.

  • Sofia Cansado

O que tu acabaste de dizer acaba sempre por ir tocar no ponto da felicidade. O bem-estar do profissional acaba sempre por estar aqui em primeiro lugar.

  • Celso Santos

Sem dúvida, sem dúvida. Acho que é reflectirmos. É refletirmos um bocadinho sobre aquilo que é uma oportunidade para as organizações também reavaliarem as suas prioridades e construirem ambientes de trabalho onde os seus colaboradores possam sentir-se mais seguros, envolvidos e que sejam mais produtivos, não é. Isto, neste momento, seja em casa, no escritório, portanto, acho que para as empresas é uma oportunidade, sem dúvida.

  • Sofia Cansado

E acaba também por ser por aí. Ou seja, quais é que são as estratégias que as organizações podem pôr em prática? Acaba por ser aqui benefícios, bem-estar, programas mais dedicados aos profissionais?

  • Celso Santos

Eu acho que tudo isso as empresas já o vêm a fazer. Obviamente, já há uma preocupação nesses pontos, nesse sentido, não é. E pensando que a motivação humana, neste momento, a motivação dos colaboradores não se resume só à remuneração. E essencialmente, como falaste há bocadinho, a questão da felicidade começa sempre pelo sentimento de que a pessoa se sente respeitada e reconhecida. E a tal proposta de valor também, obviamente. O importante aqui é as empresas pensarem que estratégias obviamente é que podem ter para que os colaboradores sintam essa felicidade. Mas que sejam capazes também de, os empregadores, fornecer aos seus colaboradores ferramentas e o suporte que necessitam para as suas tarefas de forma eficaz ou eficiente, chamando-lhe assim. Nem todos os trabalhos têm, ou nem todas as empresas e os trabalhos em si são emocionantes, não é. É importante pensarmos nisto e pensarmos o que é que eu posso oferecer como oportunidades para desenvolver as competências dos colaboradores, dar-lhes inclusive novas experiências. Isto pode ser uma boa estratégia para muitas vezes se manterem ??? as funções, não é, e muitas vezes, seja qual for o nível de senioridade. Portanto, acaba por ser um bocadinho estratégias muito ligadas ao bem-estar e à felicidade do colaborador.

  • Sofia Cansado

Mas sabes que é engraçado, tu pegaste no tema do reconhecimento e eu, antes de prepararmos este podcast, estive a ver alguns dos TikToks sobre o tema do "Quiet Quitting”, porque foi aí que começou a surgir mais o tema. E muitos desses pequenos vídeos falavam sobre profissionais que davam este "extra mile", mas que não viam reconhecimento pelo seu trabalho e, portanto, a resposta era "Quiet Quitting”. Achas que isto é uma chamada de atenção às lideranças? Há que também voltar às bases do reconhecimento das equipas?

  • Celso Santos

Sim, era isso que estávamos a falar. Portanto, e que falámos anteriormente. A meu ver, eu acho que o reconhecimento além da remuneração e daquilo que está implícito no salário. Mas depois há toda uma base do reconhecimento e que a pessoa gosta de se sentir reconhecida por aquele "extra mile" que faz para a empresa. E isto acho que é importante, essencialmente até para se sentirem ligados emocionalmente a essa empresa.

  • Celso Santos

Certo.

  • Celso Santos

Porque é inevitável. E se eu não me sentir ligado emocionalmente é porque não estou de acordo com aquilo que a empresa tem para me oferecer, não é.

  • Sofia Cansado

Sim, vai além de identificar-me com os valores, mas sim, também, haver aqui uma ligação emocional, não é.

  • Celso Santos

Claro. E isto tem de ser dos dois lados, não é. É indispensável, é pensarmos que não é culpa só dos colaboradores, não é culpa só dos empregadores. Eu acho que tem que ser, tem que haver aqui uma forma dos empregadores, obviamente promoverem isto, e promoverem esse reconhecimento, promoverem esse bem-estar. Mas também é preciso que o colaborador queira sentir-se ligado, ou que faça para se sentir ligado emocionalmente a esse projeto, a essa empresa.

  • Sofia Cansado

Claro, sim. E como dizes, é dos dois lados e se calhar, passando aqui um bocadinho para o lado mais dos profissionais, este "Quiet Quitting” também pode ser, para mim, como profissional, um alerta para eu repensar a minha carreira? Se estou a pensar no "Quiet Quitting”, se calhar devia repensar a minha carreira?

  • Celso Santos

Se calhar. Como disse há bocadinho, são necessárias mudanças, obviamente, e não é possível dispensar esse compromisso individual e emocional com a empresa, enquanto colaborador, não é. Nem deixar de estabelecer uma cooperação entre o trabalhador e o empregador e que seja saudável. E, obviamente, nós muitas vezes também podemos manifestar, ou podemos levantar a mão muitas vezes, e dizer "eu até me sinto ligado emocionalmente à empresa, mas neste momento eu sinto que precisava de maior reconhecimento, precisava de me sentir mais ligado". E, portanto, s vezes é possível nós, enquanto colaboradores, fazermos este alerta para as nossas próprias chefias, inclusive. E não passar logo para esse "Quiet Quitting”, não é. Mas, mais do que uma tendência, eu acho que é importante é, como tu dizes, é uma oportunidade também para os profissionais fazerem melhor. E se sentem que se não conseguem ter esse compromisso emocional com a empresa, então sim, acho que devem pensar seriamente em procurar outro desafio na organização, porque se calhar já tentaram de outras formas, já tentaram inclusive com a direção. E portanto, as empresas são vastas, as direções são vastas e muitas vezes nós também não conseguimos do nosso lado, enquanto colaborador, estarmos felizes porque do outro lado não temos uma empresa que reconhece o nosso trabalho, o nosso "extra mile", a nossa ligação para aquele projeto.

  • Sofia Cansado

Eu diria que seja "Great Resignation", "Quiet Quitting”, vai sempre aparecer novas tendências e ainda bem, é isto que nos mete a mexer, que mete o mercado a mexer. O importante é também tanto profissionais como empresas reconhecerem sempre estas novas tendências como oportunidades de se reinventarem, na verdade.

  • Celso Santos

Sim. Eu acho que essa é a mensagem principal. E, muitas vezes, nem é tanto o só o reinventar, é termos essa noção e termos essa capacidade de pararmos e percebermos o que é que eu posso voltar a fazer, que às vezes não é nada de novo, mas é o que é que eu deixei de fazer e o que é que eu posso voltar a fazer que vá melhorar, quer enquanto empregador, quer enquanto colaborador, não é.

  • Sofia Cansado

Exatamente. Celso, acho que conseguimos pegar muito bem no tema. Fica aqui uma boa mensagem para os dois lados, empresas e profissionais. Por isso, muito obrigada por teres estado aqui comigo hoje.

  • Celso Santos

Obrigado, Sofia. Obrigado eu pelo convite e o resto de uma boa semana.

  • Sofia Cansado

Obrigada também a quem nos ouve e já sabem acompanhem-nos no Spotify, mas também em LinkedIn, Facebook e Instagram, porque estamos sempre com novidades sobre tendências do mercado de trabalho. Por isso, não percam! Obrigada.

estamos no spotify!

ouve aqui