Nem sei se estava nervosa ou se já tinha ultrapassado o limite do nervosismo e estava apenas em pânico. Frequentava aquele local diariamente, e, quando me perguntaram se estaria disponível para ajudá-los durante o verão, nem hesitei. Que oportunidade incrível de ganhar algum dinheiro durante o verão, enquanto me mantinha ocupada nos três meses de férias que, na altura, me pareciam tão longos.

Repeti para mim, várias vezes, que ninguém conseguiria ver o que se estava a passar no meu cérebro e no meu coração, ergui a cabeça e entrei. Nunca tinha trabalhado, mas a vontade de aprender foi a primeira ferramenta que entrou na minha caixa profissional e aquela que ainda hoje está entre as que mais utilizo. Não me recordo de grande coisa desse primeiro dia, o que é bom sinal. Posteriormente, tive primeiros dias bem desastrosos, dos quais me recordo até hoje.

Nos dias que se seguiram, aprendi a servir cafés sem princípio, em chávena escaldada, pingados, curtos, cheios. Fiz dezenas de tostas, torradas e pães de deus com queijo e fiambre. Servi bolos, bebidas cujo nome desconhecia, galões, meias de leite, e abatanados. Arrumei, limpei, e esforcei-me ao máximo para não deixar os clientes à espera, até porque não tinha qualquer habilidade para lidar com reclamações. 

No entanto, naquele momento, nem desconfiava que o verdadeiro desafio ainda não tinha chegado. Enquanto fiel representante da classe dos tímidos, acreditei que, se fosse rápida e não me enganasse nos pedidos, poderia passar aqueles três meses sem travar diálogos elaborados com os clientes. Não podia estar mais enganada. Em pleno mês de Julho, a esplanada encheu-se de gente descontraída, a aproveitar o sol ou as noites quentes. Clientes animados que passavam horas a confraternizar, e que me chamavam para a conversa. Pouco a pouco, as noites tornaram-se o meu momento favorito do dia. Dirigia-me aos clientes habituais com simpatia e cortesia e comecei a perceber que clientes satisfeitos ficavam mais tempo, consumiam mais produtos do estabelecimento e ainda traziam mais amigos com eles. E, já agora, também davam gorjetas maiores. 

O fim do verão chegou e recordo-me de perceber que já não era a mesma, depois desta experiência a servir às mesas e ao balcão no café do bairro onde vivia. Tinha superado o meu primeiro emprego com sucesso e o que me fazia acreditar nisso era mais do que os três salários que o verão mais excitante de sempre me tinha proporcionado. Estava mais confiante e tinha ganho competências técnicas que me serviriam para poder repetir a experiência mais tarde. 

Nunca repeti esta experiência. Não voltei a trabalhar neste setor nem a exercer esta função. Até hoje, porém, aplico aprendizagens que iniciei naquele café. Já passei por mais de dez funções diferentes, ao longo da minha carreira, e, em todas elas, a cortesia, a simpatia, a empatia e o desejo de proporcionar a melhor experiência possível aos clientes, são aspetos centrais de um profissional bem sucedido. 

O Fórum Económico Europeu, no seu “Future of Jobs Report” aponta as 10 competências mais valorizadas até 2025. O mais curioso? Ou não tanto, se estás atento(a) às tendências? Apenas duas destas competências são técnicas. As restantes oito? Essas são transferíveis entre funções e treinam-se em todas as experiências profissionais que consigas acumular ao longo da tua carreira.

Ainda tens dúvidas da importância de um trabalho de Verão ou em part-time, mesmo que aparentemente em nada se relacione com o que queres fazer no futuro? Espero que a minha primeira vez te tenha inspirado. Contas-me a tua?

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Ligia mendes
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talent acquisition manager

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