• Sofia Cansado

Olá! Sejam bem-vindos ao podcast #EVERYDAYHERO. Hoje vamos falar sobre o bem-estar no trabalho. Sei que estamos em setembro, mas ainda é um tema relevante, especialmente se falarmos do bem-estar nas empresas. E, comigo, eu tenho a Tânia Mendes. A Tânia é HR Business Partner, na área de Learning, Development e Employee Experience. E, portanto, a melhor pessoa para falar sobre este tema. Olá Tânia! Bem-vinda!

  • Tânia Mendes

Olá! Muito boa tarde.

  • Sofia Cansado

Tânia, antes de mais, gostava que te apresentasse para quem nos ouve.

  • Tânia Mendes

Então, Tânia Mendes. Albicastrense, vim de Castelo Branco com a mala de cartão aos 18 anos, para Lisboa, tirar aqui o meu curso de Sociologia, na área de Sociologia do Trabalho que depois complementei com o MBA, na área de RH. Ficou aqui logo a paixão pelas pessoas. Quase 45 anos, portanto, muito, muito próximo de fazer 45 anos. Dois filhos, uma benfiquista ferrenha. E estes são assim os pontos que eu destaco já em primeira mão. E já faço parte aqui da empresa há uns bons anos. Estou na empresa já vai fazer aproximadamente 20 anos e isto é algo muito estranho, principalmente para quem nos esteja a ouvir, aqui destas novas gerações. Mas como é que isto é possível? Isto era no tempo, já nem se calhar dos nossos pais, dos nossos avós. É verdade e, mas sabes, nunca me senti a estagnar porque durante estes 20 anos eu consegui fazer aquele percurso que nós dizemos normal ou habitual em termos profissionais, cairmos, tendo novos desafios de 3 em 3 ou 4 em 4 anos, e eu consegui-os ter mudando mesmo de áreas e de função, dentro da mesma empresa. Portanto, comecei a trabalhar aqui no Recrutamento e Seleção em trabalho temporário. Depois fiz aqui, foi quando entrei para a área da Formação e Desenvolvimento e Consultoria, onde eu fiz aqui o meu percurso maioritariamente. Depois também tive a oportunidade de trabalhar aqui uma componente mais Comercial, ainda estive na área de Inovação e agora sim nos Recursos Humanos, com área de Desenvolvimento e Employee Experience,  atualmente.

  • Sofia Cansado

Portanto, na verdade, não é aquele modelo típico dos 20 anos, porque acabaste por experimentar várias áreas.

  • Tânia Mendes

Exatamente, é isso mesmo. Portanto, é dentro da mesma empresa que fui conseguindo fazer a minha carreira profissional em diferentes setores.

  • Sofia Cansado

Tânia, acho que só falta o teu Fun Fact.

  • Tânia Mendes

Tenho uma história que toca aqui, veio puxar pelas minhas soft skills. O que é que eu tive que ter para resolver esta situação, que me aconteceu na pandemia. Nós ficámos em lockdown, portanto praticamente não, ninguém ia à empresa, mas eu tive necessidade de ir lá um dos dias. Deveria estar numa empresa com 10 pisos, mais 5 para baixo, deveria estar eu, o segurança e mais um ou dois colegas, acredito. E eu estava no -4 e quando dei por mim, estava numa arrecadação a tratar exatamente dos Kits Welcome, que nós demos aos nossos colaboradores quando entram na empresa, e a porta fecha-se. Uma porta de metal, pesada, fecha-se e a chave fica do lado de fora. E, portanto, telemóvel estava também do lado de fora, na mala, que estava no carro, na garagem e dou comigo ali fechada. Portanto, o que é que eu faço? Comecei por bater à porta, comecei por gritar, mas era impossível, ninguém me ouvia, não estava ninguém na empresa, que numa situação antes da pandemia, estaria sempre a entrar e a sair pessoas. E, portanto, eu dei por mim ali, olha, desde bater na porta, comecei com as mãos, mas depois já não aguentava. Usei uns prémios que tínhamos tido em modo, em jeito de globo de ouro, para bater na porta, também não deu. Parti alguns desses prémios que tinham sobrado. Tive que gerir aqui muito a minha ansiedade, gestão de stress e eu dizia "Calma, olha ao teu redor. Portanto, tens água, tens oxigénio. Bora lá analisar o problema e tomar uma decisão. O que é que tu podes fazer aqui?". No meio, aquilo foi 1 hora, portanto, para imaginar. Os meus altos e baixos...

  • Sofia Cansado

Uma hora que durou cinco.

  • Tânia Mendes

Que durou... Exatamente. Nem sei quanto. Aqui a perceber como o tempo é relativo. Até que de repente eu olho para uma parede, lá embaixo, e vejo o respirador. E fui pensar nos meus tempos de adolescente e do MacGyver e eis que não que, pensei, vou arrancar aqui as ripas deste respirador e a bela Tânia arranca as ripas e consegue passar por o buraco do respirador e finalmente sair. Claro que quando cheguei ao pé do nosso segurança estava completamente descabelada, mas eu tinha a certeza que se eu não tivesse encontrado esta solução, ele também, eu confiava nele e ele ia-me encontrar, nem que fosse na ronda final que ia fazer antes de acabar o turno e, portanto, estás a ver aqui o desafio que foi em plena pandemia, apelar aqui ao controlo e à gestão de stress. E acho que esta ficou para a história na empresa.

  • Sofia Cansado

Sim, sem dúvida. 1 - porque ficar preso num armazém é qualquer coisa. E 2 - porque tiveste aqui uma prova de fogo de gestão de stress.

  • Tânia Mendes

Daquelas, daquelas. Isto foi mesmo, foi mesmo análise de problemas e encontrar soluções. Dizem que nós portugueses somos bons nisso. Olha, lá consegui passar pelo respirador e arrancar umas belas ripas e, pronto, lá consegui.

  • Sofia Cansado

Espetacular. Aliás, Tânia, eu acho que a tua experiência devia ser usada em formações do que "O que faria nesta situação?".

  • Tânia Mendes

Um case study, não é? Podemos fazer aqui um case study. Vamos deixar a nota para futuras provas de grupo.

  • Sofia Cansado

Acho que sim. Tânia, tu estás mais que ambientada neste tema. Estás mais que a trabalhar e até envolvida em projetos que tratam o bem-estar nas empresas. Só que, acho que devíamos dar aqui um passo atrás e começar por definir o que é que é isto do bem-estar, especialmente quando falamos de trabalho.

  • Tânia Mendes

É verdade. Tu estás a colocar aqui uma questão muito pertinente. Porque o que é o meu bem-estar pode não ser necessariamente o que é para ti. E, na empresa, o que nós mais temos é uma multiplicidade de personalidades e agora já se fala muito nas diferentes gerações. A verdade é que há cada vez mais estudos que comprovam que as pessoas mais felizes são as mais produtivas e logo contribuem mais para o incremento dos resultados, nas empresas. Só que ninguém é feliz se não se sentir bem. Portanto, e bem, quando eu falo aqui de bem, não falo de bem só... Falo bem do ponto de vista físico, mas também mental, emocional e social. Porque nós não nos separamos em pedacinhos ou em caixinhas, porque vamos para o trabalho ou porque estamos a trabalhar. E, portanto, falar de bem-estar no trabalho, acima de tudo, é falar aqui de estratégias, de ações que são adotadas por uma empresa e pelo próprio colaborador para tornar o trabalho mais agradável possível. E, portanto, quando falas de bem-estar no trabalho tens que necessariamente entrar, não é fácil, porque tens que entrar na esfera pessoal ou, pelo menos, na mais democrática possível, o que é que é o melhor para estes colaboradores, atendendo ao tipo de empresa, ao tipo de serviços que presta e temos que ser flexíveis. Portanto, se está na moda falar de bem-estar, está na moda falar de flexibilidade e claramente tens que pensar e adotar essa postura de flexibilidade, para falares de bem-estar no trabalho.

  • Sofia Cansado

E é interessante o que tu disseste, há aqui tantas personalidades diferentes, tantos profissionais diferentes. Como é que se encaixa aqui um conceito global de bem-estar que depois se traduza em ações?

  • Tânia Mendes

Tu tens que acima de tudo, tens que conseguir ouvir os teus. A empresa tem que ouvir as pessoas, não é, tem que perceber. Porque eu posso dizer que é ótimo para mim, agora fala-se muito do trabalho remoto, eu gosto imenso de estar em casa e tenho esta flexibilidade para gerir o meu trabalho. Mas eu tenho a minha colega e eu falo com regularidade com vários colegas que me dizem "Tânia, eu sinto imensa falta de ter a minha rotina matinal, de me arranjar, de pôr os meus saltos altos, de sair de casa. Eu não gosto de estar a trabalhar no mesmo espaço". Portanto, como é que nós... É daí quando eu falo de flexibilidade, é encontrares um conjunto de medidas que possam estar ajustadas à necessidade de cada um, tendo aqui balizas, balizas que não comprometam os princípios, os valores, os resultados da empresa. E é isso que eu acho que, enquanto empresas, podemos e devemos fazer.

  • Sofia Cansado

Conceito à parte, já sabemos o que é o bem-estar. Já sabemos que devemos primeiro perceber com os colaboradores. Nós, empresa aliás, devemos perceber com os colaboradores o que é que é de fato o bem-estar e o que é que são as ações que mais interessam. E depois, como é que passamos a prática? O que é que as empresas podem aqui fazer e tornar práticas de bem-estar?

  • Sofia Cansado

Olha, acima de tudo, eu acho que a empresa, e eu quando falo aqui a empresa se nós quisermos personalizar, temos mesmo que falar de facto da gestão de topo, este tema tem que estar, tem que ser estratégico para a organização. A partir do momento em que está em cima da mesa como algo estratégico, temos que começar a encontrar argumentos para convencer, nomeadamente em termos financeiros, não é, para termos budget, a organização de que isto é mais do que um custo, é um investimento. Porque basta pensar nos custos que uma empresa tem quando os colaboradores ficam de baixa. Portanto, ouvindo as pessoas, tendo aqui um budget e tendo nós alinhado o que é que queremos investir nesta área. Portanto, é começar a desenhar um plano, um programa de saúde e bem-estar com diferentes iniciativas. Nós pensamos aqui muito em: temos que ser uma empresa financeiramente estável, temos que desempenhar, se nós formos uma empresa em que temos aquela "máxima liberdade, máxima responsabilidade", logo trabalhamos muito orientados para o cumprimento dos objetivos e dos nossos resultados. Então, também temos que ser respeitados na nossa individualidade e, portanto, só com estas três metas é que nós vamos conseguir que as pessoas se sintam bem e se sintam felizes e logo aumentar aqui o bem-estar e o engagement. E, portanto, proporcionar aqui um espaço de trabalho saudável e, acima de tudo, positivo. Portanto, é começar a desenhar. As empresas têm que começar a desenhar medidas que vão a esse, que vão ao encontro destas necessidades.

  • Sofia Cansado

Algum exemplo de ações que se possam aplicar? As empresas possam começar por testar?

  • Tânia Mendes

Sim. Vou partilhar aqui um bocadinho a nossa própria experiência. Antes da pandemia, este tema já estava em cima da mesa há muito tempo, aquilo que tu falavas. Já é algo estratégico da gestão de topo da Randstad e, portanto, nós começámos a desenhar o programa e até o pensámos de um modo muito presencial. Tendo aqui na nossa sede um espaço para as pessoas praticarem desporto, massagens terapêuticas, de relaxamento e depois desenhámos também um programa de saúde e bem-estar, com consultas de nutrição, consultas de apoio psicológico. Cinco, temos cinco dias por semana, cinco tipos de atividades que passam desde a meditação, ao mindfulness, à fisioterapia online, às aulas de yoga, de fit, de core. Portanto, aqui está um exemplo que vai muito, é diferente a oferta, porque cada pessoa pode ter uma necessidade diferente. Isto para não falar daquele tema que é, isto são iniciativas mas a base de tudo passa aqui muito pela flexibilidade entre a tua vida pessoal e a conjugação com o cumprimento dos objetivos da empresa.

  • Sofia Cansado

Sim, sem dúvida. Tu falavas sobre ter aqui budget e olhaste para isto não como um custo, mas como um investimento. Eu acredito que este caminho vá para este é um investimento para a atração e retenção de talento, acredito eu.

  • Tânia Mendes

Sim. Porque é que é o grande desafio das empresas hoje em dia, não é, a captação e a retenção dos talentos. Apostar aqui no bem-estar é apostar no engagement das organizações e na motivação dos colaboradores. Porque se o mercado reconhecer que a empresa aposta no bem-estar dos colaboradores, será muito mais atrativa para trabalhar. Por outro lado, quem está cá dentro vê reforçado os seus laços com a empresa. Acaba por aumentar aqui o nosso sentimento de pertença e ficamos mais dispostos a alcançar os objetivos que nos são propostos. Portanto, o benefício destes tipos de programa sempre existiram. Só que na verdade, nomeadamente aqui no nosso país, as empresas só começaram a investir neles agora. Acho que foi muito a pandemia trouxe muitos desafios aos países e às economias. Mas claramente também mudou aqui o paradigma do mercado de trabalho, colocando em cima da mesa o debate sobre estes temas ligados ao bem-estar.

  • Sofia Cansado

E até tenho aqui uma questão curiosa que é tu, na tua experiência, tu sentes, que cada vez mais as pessoas procuram saber estes benefícios?

  • Tânia Mendes

Procuram. As pessoas... Olha, já é base quando estás no processo de recrutamento já é, ou até já aparece mesmo nas ofertas de emprego, se é híbrido, se é total / full remote, se é presencial, como é que funciona. Portanto, isto passou a ser claramente uma necessidade. As pessoas na pandemia tiveram que parar, tiveram que abrandar e ao regressar tu começaste a ter outro grau de exigência contigo próprio. Portanto, nós vivemos num ritmo aceleradíssimo e a pandemia obrigou-nos aqui a vivenciar novas realidades e, portanto, deixámos de sair aqui um bocadinho deste piloto automático e, claramente, estes pontos são reforçados. Todos os benefícios, a área de Employee Experience trabalha isso mesmo, procurares identificar os melhores benefícios para os colaboradores para lhes dares este bem-estar que, como de final o grande objetivo, é ter pessoas felizes a trabalhar na organização.

  • Sofia Cansado

É interessante perceber que a parte da empresa define muito também o que é a estratégia global. Não é?

  • Tânia Mendes

Sem sombra de dúvida.

  • Sofia Cansado

Porque acaba por ser aqui perceber o que é que o profissional individualmente quer, mas depois também como um todo, o que é que faz sentido para a estratégia.

  • Tânia Mendes

Claro, o que é que nós queremos, qual é a marca que nós queremos deixar. Nós temos os valores da empresa e um desses valores é nós falamos muito aqui do confiar, e as pessoas, e do servir e isto só se consegue e a promoção de todos os interesses, só se consegue com pessoas que se sintam bem e felizes.

  • Sofia Cansado

Passando agora e desviando um bocadinho as empresas, pensando mesmo nos profissionais. A minha empresa tem estratégias de bem-estar, ou se calhar ainda não tem, mas eu como profissional, o que é que eu posso já aplicar para o meu bem-estar? Quais são aqui algumas dicas práticas que fiquem já neste episódio para eu começar a trabalhar no meu bem-estar?

  • Tânia Mendes

Acima de tudo, isto é quase como quando vamos ao médico, não é. O médico, o que é que ele nos faz? Não nos conhece, faz-nos um diagnóstico. Portanto, eu própria tenho que pensar, tenho que perceber o que é que, não é a empresa que me vai dizer o que é que é o meu bem-estar. Eu própria tenho que perceber, parar um bocadinho, pensar o que é que eu gosto, o que é que eu preciso, quais é que são as minhas necessidades. Já percebi, fiz um diagnóstico, aqui muito potenciar o meu autoconhecimento, o que é que face ao estado, à fase na vida em que eu estou, às necessidades que eu tenho, o que é que é mais importante para mim, em termos profissionais ou o que a empresa me pode apoiar. A empresa já tem essas iniciativas? Conhecer. Portanto, a comunicação é fundamental, é a cola disto tudo. A empresa, por um lado, se faz, deve comunicar bem. De qualquer forma, o colaborador, se a informação não chegou até ele, deve procurar. Devemos perceber o que é que a empresa já tem. Depois de saber o que é que tem, vai ao encontro daquilo que eu preciso - ótimo, tem. Então tenho que participar, tenho que usar. Não me vale a pena só dizer que quero e depois tenho lá as iniciativas, tenho as consultas de psicologia ao meu dispor. Preciso, é aquele momento em que eu sinto essa necessidade e não uso. Portanto, usar e dar feedback, sempre que me é solicitado. Dar feedback, gostei, não gostei, correu bem aqui, pode-se melhorar noutro ponto. Se não tem, acho que nada melhor do que termos uma conversa. As nossas chefias, as chefias, as lideranças têm que estar cada vez mais sensíveis para esta questão do tema do bem-estar, acompanhar o bem-estar dos seus colaboradores. Partilhar com a minha chefia, partilhar com os recursos humanos o que é que eu gostaria de ter. Perceber que soluções é que se podem aqui desenhar. Ter mesmo isso, essa iniciativa, propor, dizer "Olha, eu tenho uma amiga e na empresa deles fazem isto. Isto é possível aqui?". Portanto, porque o não está certo e nada como termos essa iniciativa. Portanto, temos que lutar pelo nosso bem, pelos objetivos que temos, cada um de nós para o nosso bem-estar. Acho que passa muito por aqui. 

  • Sofia Cansado

Sim. Portanto, é ter iniciativa e dar voz às nossas ideias.

  • Tânia Mendes

O que cada um de nós precisa e depois procurar as melhores soluções.

  • Sofia Cansado

Muito bem, parece-me uma boa dica para terminarmos. Tânia, muito obrigada.

  • Sofia Cansado

De nada, Sofia. Foi um gosto estar aqui contigo.

  • Sofia Cansado

Foi um gosto também para mim. É uma conversa muito interessante e acho que dava para muitos mais episódios, se fôssemos entrar a fundo no tema do bem-estar. Mas acho que já foi uma boa primeira introdução. Obrigada, obrigada também a quem nos ouve. Já sabem que estamos disponíveis em todos os canais das redes sociais e que podem rever os nossos episódios, das nossas três temporadas e que voltamos daqui a duas semanas. Por isso, obrigada e até lá.

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