Na agap2IT, uma elevada percentagem de colaboradores ainda continua em teletrabalho e, por isso, tem vindo a trabalhar para que os valores e a cultura da empresa fluam com uma dinâmica que outrora era cimentada pela presença física.
Entrevista a Filipe Esteves, director-geral da agap2IT
Filipe Esteves, director-geral da agap2IT, partilha que, no actual contexto, um dos grandes desafios da consultora de sistemas de informação passa por encurtar o distanciamento entre todos os colaboradores. E acredita que, «quando for superada a “prova covid-19”, deveremos ver o emergir da organização do trabalho misto, promovendo a qualidade de serviço e de vida do colaborador».
Muitas empresas ainda têm um elevado número de colaboradores a trabalhar em casa, a medida mais adoptada para prevenir a propagação da covid-19. É uma medida que protege a saúde das pessoas, mas será que traz “riscos” para as empresas?
A pandemia fez com que 100% dos colaboradores da agap2IT estivessem em teletrabalho, de Março até à primeira semana de Junho. Actualmente, uma percentagem elevada continua neste regime. Esta experiência levou-nos a acreditar nas potencialidades de se exercer a nossa profissão não obrigatoriamente num espaço físico empresarial.
Estamos em crer que a organização de trabalho vá evoluir para regimes mistos, com presença local e virtual, promovendo a qualidade de serviço e o bem-estar do colaborador.
A nível de risco, na transição acelerada que se registou para o trabalho remoto, há questões que temos de acompanhar de perto. Por exemplo, a inserção de recém-licenciados no mercado de trabalho. Os primeiros meses são essenciais para o seu desenvolvimento. Na agap2IT fazíamo-lo através de academias presenciais. Estas potenciavam as competências técnicas dos jovens talentos, ajudavam também a moldar a performance profissional e a transmitir os valores da nossa empresa. Este acompanhamento passou a ser virtual na agap2IT mas levanta-nos a questão: será que tudo o que oferecemos a nível presencial poderá ser assimilado à distância?
E as empresas – sobretudo as não tecnológicas – estavam preparadas, tecnologicamente, para esta mudança abrupta na forma de trabalho?
A rápida transição para um regime de teletrabalho tornou evidente que as tecnologias da comunicação estão maduras. Tornaram possível a reorganização interna de milhares de empresas de um dia para o outro. As que viram condicionadas o seu modelo de negócio por via da obrigatoriedade do distanciamento, têm na inovação e tecnologia uma resposta para se aproximarem dos clientes. O e-commerce tornou-se uma arma poderosa para muitas PMEs.
Nomeadamente em termos de segurança, que cuidados devem as empresas ter?
Trabalhando de 100% virtual, é necessário que as empresas sensibilizem os colaboradores com políticas adicionais de segurança. Nomeadamente, fazê-los perceber que o local de onde trabalham pode trazer uma falha de segurança para a empresa devido ao uso de múltiplas redes, por vezes públicas. Quem ameaça a segurança das organizações, considera a casa do colaborador como um alvo muito mais fácil do que a empresa diremtamente.
As empresas devem usar VPNs de elevada segurança e autenticação de multifactor para aceder aos seus recursos. Devem dar formação aos trabalhadores remotos para que os mesmos se possam proteger, e à sua organização também. Devem ser vigilantes, suspeitar de tudo e promover a comunicação com o departamento de IT para a discussão de dúvidas da melhor forma de agir em qualquer situação suspeita.
O trabalho remoto também veio contribuir para a transformação do negócio?
O trabalho remoto impactou na forma como as empresas se organizam e vendem os seus serviços e produtos. Obrigou a uma profunda reflexão e a uma rápida adaptação. Acelerou a transformação digital de empresas, pois a necessidade aguça o engenho.
Há números que comprovam uma maior propensão para o digital. Por exemplo, desde o início do ano até agora, houve um crescimento de registo de domínios ”.pt” de 25% face a 2019. Em Abril, o aumento foi de 67% (mais de 10 mil registos .pt feitos). Em Agosto, o incremento foi de 35,1%, ou seja, 6843 novos registos. Os sectores que mais requisitaram domínios foram a restauração, os serviços domésticos, ginásios e projetos de solidariedade social. Essencialmente PMEs [pequenas e médias empresas].
A que outros níveis se verifica essa transformação?
Principalmente a nível comercial, isto para a actividade das empresas. A aposta na comunicação no mercado digital foi outra das áreas em que foi notório o crescimento.
As empresas de praticamente todos os sectores de actividade tiveram de promover os seus produtos através do mundo digital e, assim, permitir a sua comercialização. Mas a transformação digital das empresas nem sempre ocorreu da melhor forma durante este período, isto porque a prioridade era manter o negócio e não houve tempo para pensar na melhor maneira de o fazer.
O que aconselharia às empresas nesta fase?
Aconselharia a focarem-se no seu principal activo: os colaboradores. A sua capacitação de ferramentas técnicas para exercerem o trabalho foi tarefa fácil. O essencial agora é criar formas de aproximar colaboradores que estão a trabalhar à distância, de promover o seu bem-estar e crescimento de competências. Para isso são fulcrais os departamentos de Recursos Humanos.
E como é que a agap2IT tem gerido este tema e promovido esse bem-estar?
A agap2IT reagiu de forma ágil, colocando os colaboradores a trabalhar nas suas casas com as ferramentas indicadas para exercerem com qualidade as funções. Protegemo-los, ainda antes da obrigatoriedade de trabalho remoto decretada pelos órgãos de soberania. A transição foi realizada em poucos dias para a totalidade da nossa equipa.
Esta fase serviu para aprofundar o nosso programa de Employer Branding. A implementação da nova marca foi iniciada em finais de 2019 e ampliada no ano actual, em que comemoramos 15 “primaveras”. O programa partiu dos valores reconhecidos na gestão de talento da agap2IT para criar uma abordagem original de “engagement” dos colaboradores e novos talentos.
A nível de modelos de trabalho e políticas de Gestão de Pessoas, o que mudou?
Implementámos novos procedimentos no quadrante da gestão de Recursos Humanos. O propósito foi o de reduzir o distanciamento, promover a comunicação e aferir o bem-estar dos colaboradores. Melhor fluxo de informação permitiu-nos a tomada mais célere de decisões.
A aposta no desenvolvimento de carreira dos colaboradores manteve-se em alta. Temos uma política de formação muito activa, que durante a fase de pandemia foi ainda mais requisitada.
Quais os principais desafios actualmente?
O grande desafio passa por encurtar o distanciamento entre todos os colaboradores da agap2IT. É nesse sentido que temos vindo a trabalhar, para que os valores e a cultura da empresa fluam com uma dinâmica que outrora era cimentada pela presença física em eventos internos, visitas informais ou reuniões.
Que mudanças se viram obrigados implementar devido à covid-19?
Na agap2IT, o activo mais importante são as pessoas. Fizemos uma célere transição para o trabalho remoto, antes do Governo o decretar, protegendo a saúde e segurança dos colaboradores e dos seus familiares. Melhorámos a comunicação entre todos por via de tecnologia e fomentámos a proximidade através de novos procedimentos de gestão de pessoas. No fundo, adaptámos a empresa à realidade de cada um, respeitando nossos compromissos com os clientes.
Após Junho, implementámos rotatividade e o desfasamento de horários em perfis de colaboradores que se têm de deslocar aos nossos escritórios. Todas estas medidas são alvo de reflexão com base nos números que vão sendo reportados pelas autoridades de saúde. Os procedimentos são adaptados com grande frequência.
Que lições acredita que as empresas vão poder retirar deste presente para o futuro?
A necessária imposição de trabalho remoto veio dar outra confiança para a forma como as empresas organizam o trabalho das suas pessoas. Quando for superada a “prova covid-19”, deveremos ver o emergir da organização do trabalho misto, promovendo a qualidade de serviço e de vida do colaborador.
Uma lição importante que as empresas devem registar é: num instante tudo muda. Terão estruturas ágeis e preparadas para a mudança organizacional em casos extremos como o de uma pandemia mundial?
Quais as vossas prioridades actualmente?
Garantir a saúde dos colaboradores, promover a aproximação, aferir as suas necessidades e desenvolver as suas potencialidades.