• Sofia Cansado

Olá! Sejam bem-vindos ao podcast #EVERYDAYHERO. Hoje vamos falar de um tema que não é novo. Já trouxemos aqui algumas vezes, mas é sempre bom relembrar. Estamos a falar do salário emocional. E comigo tenho o Daniel Pinheiro. O Daniel é consultor da área Professionals, aqui na Randstad, e a melhor pessoa para falar sobre salário emocional. Olá, Daniel!

  • Daniel Pinheiro

Olá, Sofia! Antes de mais, obrigado pelo convite. Vamos sempre aqui falar sobre um tema que é muito importante, até para os nossos talentos que, obviamente, salário emocional que cada vez mais destaca-se no nosso dia-a-dia e obviamente valorizamos sempre outras coisas mais para além daquilo que são os valores financeiros. Portanto, acho que é sempre um tema importante e, obviamente, vou tentar dar aquilo que é a minha sensibilidade e falar um bocadinho também sobre esse tema.

  • Sofia Cansado

Boa. Eu acho que começavas já por te apresentares e falares um bocadinho também sobre a tua experiência.

  • Daniel Pinheiro

Claro que sim. Olha, eu fiz aqui uma carreira diferente, nem sempre tive na parte da consultoria, não fiz aquele percurso que podemos dizer normal. Eu, neste caso, licenciei-me em Gestão de Recursos Humanos. Eu iniciei o meu percurso no setor da Segurança Privada, na altura, e senti que tinha necessidade de poder crescer e desenvolver competências. O porquê a área ou o setor de Gestão de Recursos Humanos? Porque eu acredito que poderia fazer a diferença. Muitas vezes eu olhava para aquilo que foi a minha experiência profissional, para a organização onde eu estava inserido e sentia que faltava sempre ali mais qualquer coisa, ter maior proximidade perante o colaborador. O meu objetivo foi poder ajudar de uma forma a poder criar melhores condições. E obviamente que, neste caso, o colaborador que esteja na organização se sinta feliz e integrado naquilo que está a fazer. Esse foi o meu primeiro objetivo que consegui depois, obviamente, concluir. Depois até conseguir integrar a Randstad, demorou um bocadinho mais. Mas sem dúvida que está a ser um excelente desafio, uma grande organização, portanto, está a ser muito benéfico toda a aprendizagem que tenho tido e obviamente no contacto com os vários talentos que tenho tido no dia-a-dia, conhecer diferentes perfis e lá está, e em suma, naquilo que falei - poder ajudar.

  • Sofia Cansado

Que bom, que boa experiência! Acho que só me falta o teu Fun Fact.

  • Daniel Pinheiro

Exatamente. Olha, eu posso partilhar que sou um fanático por futebol, podemos dizer assim. Daqueles adeptos que sofre a ver um jogo e que posso partilhar que, não sei onde é que falhei mas, estou a ver o meu filho a fugir para o clube rival.

  • Sofia Cansado

Ah, o dilema.

  • Daniel Pinheiro

É um grande dilema, porque eu estou a ver que estou a sentir que cada vez mais a perder espaço, nesse sentido. Eu tento, a primeira vez que foi ao estádio foi comigo, mas as influências exteriores estão a superar as minhas.

  • Sofia Cansado

Há aqui uma gestão a fazer, não é?

  • Daniel Pinheiro

Exatamente. É verdade. É tentar levá-lo e eu sei que, muitas vezes, as crianças não é a obrigá-las, é explicar.

  • Sofia Cansado

Exacto.

  • Daniel Pinheiro

Mas não sei porquê ele foi para o outro lado. Mas, pronto, ele é que sabe. Vai perder mais vezes.

  • Sofia Cansado

Exacto, exacto. Aliás, isto até pode ser um paralelismo engraçado ao teu trabalho. Tu estás a tentar mostrar a este talento as vantagens deste clube.

  • Daniel Pinheiro

Sem dúvida. Mas com o "handicap" que ele é mais difícil de conseguir convencer.

  • Sofia Cansado

Já viste? Tens aqui um bom treino em casa.

  • Daniel Pinheiro

Um excelente treino.

  • Sofia Cansado

Muito bem. Daniel, este tema do salário emocional é, como eu disse, não é novo. Já falamos muito sobre este tema, mas acho que é sempre importante voltar ao básico, que é definir o que é que é o salário emocional. Porque nós falamos dele há alguns anos, mas não sei o que é que tu achas se isto já mudou, o conceito em si mudou, especialmente com estas mudanças no mercado de trabalho. Ou se acaba sempre por ser o mesmo?

  • Daniel Pinheiro

Eu acho que sim, que mudou ou, neste caso, está a mudar. Explicando um bocadinho aquilo que poderá ser sempre o que é o salário emocional. É o salário que não é visível no nosso recibo de vencimento.

  • Sofia Cansado

Exacto.

  • Daniel Pinheiro

Neste caso, são as retribuições não financeiras que as organizações apresentam aos seus colaboradores. O que é que é aqui a minha opinião, eu acredito que já estava a ser desenvolvido as diversas políticas nesse sentido. Mas eu considero que o mundo, neste caso da pandemia, aflorou um bocadinho. Houve uma necessidade das organizações poderem-se adaptar e, obviamente, com isso adaptarem também os seus colaboradores ao momento atual. Eu acho que acabou por ser desmistificado alguns tabus que existiam, nomeadamente a questão da flexibilidade, poder trabalhar em casa. Porque eu acho que é sempre importante, e obviamente há funções que é totalmente impossível de fazer, terá que existir sempre essa perceção. Mas existem outras que é completamente irrelevante poder estar no escritório. Apesar de eu considerar que é importante ir ao escritório.

  • Sofia Cansado

Ou seja, é bom ter escolha.

  • Daniel Pinheiro

Exatamente, exatamente. É porque eu considero que é importante nós podermos conviver também com os nossos colegas e também nós sendo seres sociáveis é importante que tenhamos esse convívio, partilharmos as nossas experiências, ouvirmos as outras experiências e trocarmos conhecimento. Eu acho que é um bocadinho por aqui. Mas é importante também referir que essa alteração também, e obviamente, que quebrando este tabu, existiu também muito o que é essa flexibilidade, a questão do trabalho hibrído. Também pudemos constatar que houve um aumento também de produção. As pessoas também sentiram-se mais felizes, porque conseguem fazer a gestão do seu tempo. E muitas vezes, no meu caso, também aqui é sempre importante, tendo filhos conseguimos fazer essa gestão do tempo e estarmos presentes perante a nossa família, eu acho que muitas vezes não há dinheiro que pague isso. E lá está, vemos muitas dessas organizações a pensarem já de uma outra forma e a desenvolverem várias e diversas políticas nesse sentido. E, obviamente, não vamos só falar na flexibilidade, mas também falamos na progressão de carreira, da formação contínua, de termos um bom ambiente de trabalho e depois as outras compensações, além dos salários, como os seguros de saúde, ajudas nas creches, ginásios, também contribui para o nosso bem-estar. Penso que o caminho tem sido feito por aí e ainda bem.

  • Sofia Cansado

Sim. Eu acho que o engraçado é, se calhar, há dois anos atrás falávamos de um salário emocional que tinha benefícios mais ao nível, como estavas a dizer, ginásio, momentos chave, formação. E agora o primeiro ponto é conciliação, flexibilidade, bem-estar. Mudámos completamente aqui os vetores do salário emocional.

  • Daniel Pinheiro

Sem dúvida. Eu acho que esse salário emocional aumenta o nosso compromisso perante a organização. O nosso bem-estar é o mais importante. E muitas vezes a organização são as pessoas. É importante que elas se sintam felizes com aquilo que estão a fazer.

  • Sofia Cansado

E por falares nisso, ia-te perguntar: achas que é uma boa aposta o salário emocional para a retenção de talento? Quando falamos agora num momento tão crítico de escassez de profissionais.

  • Daniel Pinheiro

Eu, na minha opinião, penso que sim e eu até aqui vou explicar. O salário atrai talento, mas o salário emocional retêm o talento. Com a escassez de encontrar o talento é para evitar que as organizações consigam reter o seu talento. Eu acho que essa é, pelo menos, a primeira medida mais urgente a tomar. Eu vou passar aqui até a explicar. Por exemplo, com a questão da flexibilidade horária, eu às vezes falo um bocadinho nisto. Eu estou na área de engenharia e já neste caso muitas vezes quando falo com vários colaboradores, colaboradores neste caso. Desculpa, com talentos. E muito daquilo que valorizam já é, por exemplo, terem um trabalho híbrido. Já por vezes já torcem o nariz, nós dizemos "não, olhe são 5 dias presenciais". Porque se nós formos aqui avaliar e eu já conheci casos em que, por exemplo, de deslocações de ida e volta trabalho-casa, por vezes estamos ali a perder cerca de... Pode acontecer, e conheci estes casos, por exemplo, de 2 horas para ir para o trabalho e outras 2 horas para voltar para casa. No final de uma semana temos ali 20 horas só em deslocações.

  • Sofia Cansado

Que em 2022 é inconcebível.

  • Daniel Pinheiro

Completamente inconcebível. Acaba por ser muito tempo perdido em que não estamos a fazer nada. Basicamente, estamos a nos deslocar para o trabalho ou estamos a nos deslocar para casa. É um facto que numa fase inicial poderá não desgastar tanto, mas com o passar do tempo fica, torna-se complicado. Uma pessoa tem que acordar mais cedo e quando chega a casa chega sempre a tarde e a más horas. Lá está, deixa de ter tempo para a sua família. Eu acho que é um bocadinho por aqui.

  • Sofia Cansado

Não sei como é que é a tua experiência. Mas isto acaba por ser quase aqui as primeiras dúvidas de quem procura trabalho. Qual é a política da empresa? Qual é aqui a abordagem à flexibilidade? Mais até do que o salário?

  • Daniel Pinheiro

Muitas das vezes, sim. Eu já tive alguns dos nossos talentos e que priorizaram essa vertente do que a vertente financeira, não é. Porque há coisas que o dinheiro muitas vezes não compra e o que ele não compra é tempo. É tempo que nós podemos utilizar de qualidade para estarmos com os nossos. Eu acho que aqui pode, é importante que eu também dos candidatos tenho sempre essa nota. É como eu digo, nós quando falamos se temos aqui uma oportunidade que é presencial, e atenção, acontece em situações que é fulcral que a pessoa que estar lá. Há setores que é difícil isso alterar. Mas existem outros setores que nós conseguimos fazer essa alteração. E apresentando esse projeto é sempre um bocadinho mais fácil. Lá está, acaba por aumentar também o compromisso do colaborador perante a organização. Portanto, tenho encontrado vários candidatos no qual tenho abordado essa questão. No qual mencionam e que consideram que é importante, nomeadamente para aqueles que já têm filhos e mesmo para aqueles que não têm para fazer outras atividades que também gostam, que se perderem tempo de deslocação não o conseguem fazer. Portanto, é um bocadinho por aqui.

  • Sofia Cansado

E se nós pensarmos neste conceito de salário emocional, é muito abstrato ainda, porque nós nem falamos neste termo, não é. Falamos de políticas, de práticas, mas não há aqui um planeamento de salário emocional construído pelas empresas. Tu achas que devia haver este primeiro passo das organizações? Quase ter aqui o descritivo de salário e depois de salário emocional?

  • Daniel Pinheiro

Eu penso que seria importante. Eu acredito que algumas organizações também já têm algumas políticas até predefinidas, algumas estratégias a que podem incidir nesse sentido. Muitas vezes é importante para um colaborador, nomeadamente quando entra para uma organização, perceber qual é que poderá ser o seu percurso. Perceber o que é que pode fazer para atingir determinado patamar. Porque aquela questão que muitas vezes ou que antigamente nós falávamos do emprego para a vida, isso já deixou de existir. É importante que a organização trace o plano para esse potencial talento, para que se possa crescer e desenvolver. Eu acredito que se todos nós tivermos um foco, um objetivo, tenho a certeza que é muito difícil ficarmos desmotivados. Percebermos que se chegarmos a determinada meta, subimos um determinado degrau. Eu acho que é um bocadinho por aqui. Podemos também aqui falar de diversos programas de formação, adquirir mais conhecimentos e mais competências. Quem se encontra na organização, entende que está a ser valorizado, existe. E eu gosto muito desta palavra - o compromisso. É esse compromisso que nos faz crescer e também desenvolver e com isso também contribuir para que a organização se expanda também no seu negócio, que também tenha sempre os seus objetivos concluídos, neste caso.

  • Sofia Cansado

Win-win, não é?

  • Daniel Pinheiro

Exactamente. Terá que ser sempre. Terá que ser sempre. Exatamente, terá que ser sempre. A organização não vive sem as pessoas e as pessoas também não consegue viver sem essa organização. Poderá ser um bocadinho por aqui, claro.

  • Sofia Cansado

Bem, eu acho que só falta aquela pergunta mais crítica que é: "Eu como profissional, como é que eu peço o salário emocional? Eu acho que ainda não há essa fase. Há a fase de descobrir benefícios, talvez até discutir alguns benefícios. Mas como é que eu falo abertamente e peço um salário emocional?

  • Daniel Pinheiro

Olha, eu, na minha opinião é percebermos essa flexibilidade. Sentir que nós podemos fazer parte dessa organização, que somos parte da tomada de decisão. Termos um bom ambiente de trabalho. Porque eu acho que nada mais é produtivo do que divertirmo-nos enquanto trabalhamos. Eu acho que isso seria excelente. E perceber aquilo que é o nosso percurso, perceber onde é que nós podemos chegar, até termos um foco, patamar em patamar, conseguirmos atingir. Aqui nós, como sabemos Sofia, aqui na Randstad sabemos isso. Sabemos que se trabalharmos, se atingirmos determinados objetivos, subimos mais um escalão, etc., etc., etc. ÉÉ um bocadinho por aqui. Eu posso dar, por exemplo, também um outro exemplo desta questão da flexibilidade, que eu considero que é muito importante, e é sempre aqui um exemplo prático. Por vezes, desloco-me para o Alentejo, fico lá alguns dias e consigo fazer o trabalho a partir de casa, neste caso. Portanto, e que não vai afetar a minha produtividade.

  • Sofia Cansado

Claro. De todo, não é? Aliás, é para isso que existe o termo "Work from Anywhere".

  • Daniel Pinheiro

Exatamente. Exatamente, exatamente. Concordo em absoluto. É isso mesmo. Concordo, sim senhora.

  • Sofia Cansado

Aliás, essa experiência que acabaste de partilhar é muito aquilo que eu acho que vamos ver em 2023. Que é cada vez mais esta parte de trabalho remoto, trabalho em casa não é necessariamente fechada em casa. Eu, desde que tenha as condições de concentração, ferramentas de trabalho, dependendo do setor, claro. Mas estou a falar tipicamente de profissões como a minha e a tua, em que basta um computador, por assim dizer, e um telemóvel e internet. É o suficiente, não é? E, portanto, eu posso estar a trabalhar em Lisboa como em Bragança e tu no Alentejo. O que interessa é que o trabalho está a acontecer e estamos motivados, produtivos, os projetos estão a ser entregues.

  • Daniel Pinheiro

É importante conhecer determinados perfis, muitas das vezes. Perceber que determinado perfil, por exemplo, há perfis que conseguem produzir mais na parte da manhã e durante a tarde vão perdendo energia. Há outros, como no meu caso, sou um perfil que de manhã tenho menos energia, mas que vou ganhando até ao final do dia, não é. É perceber e compreender cada um desses perfis, porque eu acho que cada um deve fazer a gestão do seu tempo. Obviamente, tem metas sempre a atingir, mas se fizer uma gestão do tempo eficaz, não tenho a mínima dúvida que irá conseguir. Porque eu acredito que existem para tudo e há pequenas coisas que muitas vezes nós conseguimos fazer se fizermos essa gestão mais eficaz. Porque não deixamos de trabalhar. Porque às vezes há situações que não conseguimos tratar, se calhar durante aquilo que é o horário laboral, porque temos que sair mais cedo, porque temos que ir buscar o nosso filho, ir àquela hora ao ginásio e podemos prolongar um bocadinho mais depois daquilo que é o horário de expediente. Eu acho que é um bocadinho aquilo que é "máxima liberdade, máxima responsabilidade". Fazer essa gestão, dar essa autonomia. E acho que dar autonomia muitas das vezes é importante para chegarmos aos nossos objetivos.

  • Sofia Cansado

E eu acho que com esta frase final terminamos em bom, Daniel. Obrigada por teres estado aqui comigo hoje a falar sobre este tema.

  • Daniel Pinheiro

Obrigado, Sofia. Eu é que agradeço o convite e é sempre um prazer pelo menos poder tentar aqui partilhar um bocadinho daquilo que é a minha opinião e do meu conhecimento, claro.

  • Sofia Cansado

Claro que sim, claro. E portanto, provavelmente serás convidado no futuro porque há aqui muitos temas para falarmos. Obrigado também a quem nos ouve. Já sabem que temos episódios de duas em duas semanas, podem sempre rever episódios das outras temporadas e acompanhar-nos nas redes sociais. Até lá, obrigada!

 

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