Pedro Ribeiro confessa ser mais de números do que de letras, de contas do que contos e por isso é engenheiro de formação. E prática. No Super Bock Group há quase duas décadas, há uns anos, surgiu o desafio de liderar Pessoas. E aceitou. Garante que a Engenharia ajuda na função, mas é a singularidade do elemento “humano” que a torna «absolutamente fascinante e imprevisível».

Entrevista a Pedro Ribeiro, diretor de Pessoas do Super Bock Group

 

Em criança, recorda-se o que queria ser? 

Sim, desportista.

 

E, na sua adolescência, quais eram as suas áreas de interesse e o que se imaginava a fazer profissionalmente? 

Quando finalmente percebi que o futuro não passaria pelo Desporto, desejei prosseguir Engenharia ou Economia. Via-me muito bem a trabalhar numa refinaria – estive a um pequeno passo da Shell em Roterdão… e tudo teria sido bem diferente!

 

A sua formação universitária foi mesmo Engenharia. O que motivou essa escolha, em detrimento da Economia?

Sempre preferi os números às letras, as contas aos contos. Optei, convictamente, por Engenharia, por uma questão de sintonia com a minha personalidade e com os meus gostos. 

Ainda ponderei Economia, mas achei que seria mais fácil licenciar em engenharia e posteriormente obter uma pós-graduação em Gestão/Economia, do que o inverso. E não me arrependi.

 

E como daí chega a diretor de Recursos Humanos?

O CEO do Super Bock Group – e meu chefe - o Rui Lopes Ferreira, seria a pessoa mais qualificada para responder, mas… Não é regra, mas também não é incomum, os diretores de Pessoas do Super Bock Group terem passado pelas áreas de negócio da empresa. O resultado de um balanço de prós e contras, ponderando pelas características da pessoa em causa, dita, normalmente, essa escolha. Acredito que o meu trajeto na empresa, o perfil, e o facto de ter frequentado, pouco tempo antes, uma formação executiva de general management no INSEAD possam ter tido alguma influência na decisão.

 

Naquilo que são as suas funções hoje, acredita que beneficia da sua formação em Engenharia? 

Sim, frequentemente e em várias dimensões. Por exemplo, tem sido muito útil na forma como abordamos um desafio – qualquer que seja: gestão do talento, impacto de planos de formação, cultura organizacional, etc. – e procuramos construir modelos que melhor o caracterizem, para atuarmos de forma mais rápida e certeira na identificação das soluções e respetivos impactos esperados.

 

O que mais o fascina na função Gestão de Pessoas?

Por um lado, o elevado alcance que um conjunto de políticas e ferramentas, quando bem integradas, podem representar no desempenho de uma organização e, por outro, a singularidade do elemento “humano”, que torna esta função absolutamente fascinante e imprevisível.

 

E o que menos gosta/ representa um maior desafio?

Confesso que me incomoda a forma excessivamente administrativa/burocrática como somos percecionados pelas restantes áreas – em muitos casos, com alguma razão e por culpa própria…

 

Está na Unicer, agora Super Bock Group, desde 2003. Como surgiu essa oportunidade?

Antes de ingressar no Super Bock Group, trabalhei cerca de dois anos numa empresa de serviços no sector Alimentar, que conjugava uma dimensão de controlo de qualidade laboratorial com auditorias. Não antevendo um desenvolvimento profissional que me realizasse, até porque sempre preferi a indústria, optei por sair e investir numa pós-graduação em gestão na Escola de Gestão do Porto, atual Porto Business School, no fim da qual fui selecionado para uma vaga na Unicer, mais concretamente na Produção de Pedras Salgadas e Vidago. 

Nem sempre acontece, mas neste caso, a realidade ajustou-se na perfeição ao argumento que tinha planeado!

 

O que acredita que distingue a empresa?

Não sendo a “empresa perfeita”, acredito que está claramente acima da média nas mais diversas dimensões: tecnologia, oportunidades de desenvolvimento, benefícios, cultura, etc. Mas principalmente numa delas destaca-se seguramente das demais: na dimensão social e humana. Na forma autêntica como vivemos as marcas, nos relacionamos, e diariamente se personificam os valores – ambição, pessoas, excelência. Não é um “fato” que sirva a todos, mas aos que assentar bem, vestem-no com gosto por muitos e bons anos.

 

O que recorda de quando começou a trabalhar? O que mais o fascinou e como compara a empresa com o que existe hoje?

Lembro-me de entrar nos sites – Leça do Balio, Pedras Salgadas, Vidago, Castelo de Vide, Envendos, Caramulo – e sentir orgulhosamente o peso de uma história que remonta ao século XIX, e a enorme responsabilidade de trabalhar para marcas e produtos conhecidos por todos. 

Recordo-me, ainda, da forma aberta e genuína como fui recebido em Trás-os-Montes – a minha segunda “casa” –, o que facilitou de sobremaneira a minha integração e fizesse com que as horas durante o dia literalmente “voassem”. 

Creio que a organização, a sua linha de atuação, a sua forma de estar, não mudou assim tanto; o contexto, talvez.

 

E, genericamente falando, como compara o mundo do trabalho com o de há 20 anos?  As prioridades, receios, maneira de encarar o trabalho e as empresas era muito diferente?

Acho que o que os candidatos pretendem hoje, no essencial, também não difere muito do que desejavam há 20 anos. Falamos, sobretudo, de condições retributivas e oportunidades de desenvolvimento profissional – a realização! Talvez o equilíbrio casa/trabalho seja o aspeto mais diferenciador entre o desejo do candidato do passado e o presente.

Na minha opinião, o fator que mais distingue as duas épocas é a conectividade, que tem uma consequência direta na mobilidade entre desafios. Antes, era necessário submeter candidaturas espontâneas ou responder a vagas publicadas em jornal; hoje em dia, o trabalho do candidato está muito mais facilitado pelo aparecimento das redes sociais e pela maior facilidade e agilidade de resposta aos anúncios que diariamente nos chegam pelos mais variados canais. Isto faz com que a postura face ao trabalho seja um pouco diferente: hoje em dia mais desprendida e assente em “experiências”.

 

O que destacaria em cada fase do seu percurso profissional? Quais as principais aprendizagens?

O meu trajeto no Super Bock Group pode dividir-se essencialmente em três capítulos, cada um deles riquíssimo em ensinamentos e conhecimento – não me posso queixar! Costumo dizer que em cada um deles tive a felicidade de estar no local certo na hora exata, pelo calibre dos desafios que se colocaram, alguns dos quais irrepetíveis a 10-20 anos:

  • Em Pedras Salgadas e Vidago, apesar de ir desempenhar funções sobretudo técnicas, realço a dimensão humana: a Unicer tinha adquirido a VMPS no ano anterior, eram duas culturas substancialmente diferentes, eu era o “engenheiro” que vinha do Porto. Em início de funções, apesar da diferença de habilitações académicas, destaco a humildade e o respeito pelo conhecimento existente, como elementos essenciais para uma boa adaptação e algum sucesso no trabalho em equipa, remando em conjunto para a mesma direção – foi válido na altura, e verifica-se sempre;

 

  • De regresso ao Porto, os anos no Planeamento Operacional ensinaram-me, por um lado, a utilidade de ter sempre planos alternativos e de contingência para fazer face aos imprevistos – nunca são demais… – e, por outro, a importância de conjugar a gestão operacional do dia-a-dia com uma visão estratégica, procurando tendências e antecipando constrangimentos.

    Numa analogia desportiva, diria que a boa gestão operacional “ganha jogos”, mas a preparação atempada do médio prazo “vence os campeonatos”;

 

  • Por último, na Direção de Pessoas, e não tendo formação especializada em Recursos Humanos, tenho-me focado, com o máximo gosto, não só a aprender muito, como também a praticar aspetos que considero absolutamente essenciais na gestão de equipas: maximizar o potencial de autonomia dos elementos da equipa – profissionais fantásticos – e assegurar que os níveis de delegação acompanham essa autonomia. Uma nota: maximizar o potencial de autonomia de cada um é muito diferente de conceder a máxima autonomia a todos!. Quem tiver a oportunidade de o realizar convictamente vai-se surpreender com o impacto que produz na motivação e no desenvolvimento pessoal.

 

No seu conjunto, creio ser um bom exemplo das vantagens, a todos os níveis, que um trajeto diversificado confere. Por sentir isso na primeira pessoa, nas funções atuais, temos a responsabilidade acrescida de tentar proporcionar essa vivência ao número mais alargado possível de colegas.

 

Atualmente, quais são os seus principais desafios?

Vou fugir à clássica “retenção de talento”, pois considero que não são apenas desafios atuais, mas antes desafios que nos acompanharão por muitos anos. Nesse pressuposto, importa às organizações encontrarem o ponto de equilíbrio entre a dinâmica do mercado laboral, as perspetivas de evolução das respetivas pirâmides organizacionais e as suas políticas de retenção. É também nisso que estamos focados, e a engenharia tem dado uma boa ajuda.

 

E dos gestores de Pessoas, em geral, quais acredita que serão os principais desafios nos próximos anos?

Talvez destaque a escassez de pessoas no mercado de trabalho. Hoje em dia podemos já sentir algumas restrições, mas no futuro, se nada for feito, a população ativa tenderá a reduzir-se ainda mais, o que vai colocar grandes dificuldades a quase todas as empresas. 

É, hoje, nossa obrigação pensar de que forma teremos de contornar essa aparente inevitabilidade, e atuarmos em conformidade: digitalização, automatização de processos, incentivo à imigração qualificada, contratos de trabalho a pessoas que residam no estrangeiro, capacidade de reter e/ou fazer regressar a Portugal os portugueses que trabalham no estrangeiro? Uma combinação de todas?

Também nesta matéria urge antecipar, desde já, o futuro e traçar mais do que um plano!

 

Quem é o Pedro, para lá do profissional?

Sou uma pessoa mais introvertida que extrovertida, mais racional que emocional, mais altruísta que egoísta. Normalmente carrego baterias num círculo mais restrito – família e amigos próximos. De gostos simples e descomplicados, dizem que tenho um bom sentido de humor. 

No meu “lado B”, realizo-me a acompanhar o crescimento da nossa filha e, num registo mais individualista, sempre que posso, adoro praticar desporto e ler. 

Portuense, “tripeiro” e portista, de tempos a tempos não dispenso uma boa francesinha acompanhada de uma bela… cerveja! Não sei se posso fazer publicidade explícita, mas subentende-se qual seria!...

 

entrevista a:
this is a man
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pedro ribeiro

diretor de recursos humanos do super bock group