Não há dúvida de que a automatização está a mudar a natureza do trabalho. Mas não vai fazer tudo. Há quatro vias de evolução para os colaboradores evitarem ficar sem emprego, identificadas por Scott Latham, professor associado de Estratégia na Lowell’s Manning School of Business da Universidade de Massachusetts, e Beth Humberd, professora assistente de Gestão na mesma universidade, num artigo escrito para a MIT Sloan Management Review.

 

Uma das ideias mais populares é que os empregos de salários mais baixos estão condenados, enquanto as profissões com instrução mais alta permanecerão incólumes. Muitas vezes, os analistas concentram-se nos salários e na instrução como principais factores de previsão da evolução de empregos, juntamente com o potencial da organização para aumentar a eficiência e reduzir custos ao mudar ou cortar nos empregos. Mas a pesquisa realizada aponta para uma explicação mais variada.

Uma análise a textos académicos e discursos públicos sobre a automatização revelou uma consideração limitada dos riscos por profissão. Por isso, codificaram-se 50 profissões segundo o tipo de valor oferecido pelos colaboradores e as competências usadas para o concretizar, a fim de criar uma estrutura que ajude os colaboradores a avaliar qual o tipo de ameaça criado pela automatização. Foram identificadas quatro vias de evolução – disrupção, deslocação, desconstrução e durabilidade.

Ao contrário do que se possa pensar, os mais ameaçados pela automatização nas próximas décadas podem não ser os operários fabris ou os colaboradores de baixa instrução. Aconselhar toda a gente a empenhar-se numa instrução contínua e no desenvolvimento de competências é negligente. Os colaboradores precisam de compreender as quatro vias de evolução profissional – e os factores por detrás de cada uma – se quiserem adaptar-se.

 

Compreender as quatro vias

Um colaborador usa um conjunto de competências centrais para oferecer valor de alguma forma ao receptor – quer externamente a um cliente ou dentro de uma organização. Para alguns empregos, as competências centrais incluem uma base de conhecimentos ou aptidões específicas. Outras envolvem competências humanas e a capacidade de desenvolver relações em vez de conhecimentos técnicos.

As competências que podem ser facilmente uniformizadas, codificadas ou tornadas rotineiras têm mais probabilidade de serem automatizadas. As que envolvem uma resolução prática ou em tempo real têm menos, porque desenvolver ferramentas suficientemente sofisticadas para lidar com essa ambiguidade é demasiado dispendioso ou trabalhoso, ou até impossível em termos tecnológicos.

Contudo, um conjunto de competências só oferece valor quando é entregue a um receptor, e o mecanismo de entrega pode ter transformado. Por exemplo: a principal competência de um professor são os conhecimentos de uma determinada área. Esses conhecimentos são normalmente passados aos consumidores (alunos) através de aulas pessoais. Mas as plataformas online e os cursos online abertos oferecem novos veículos através dos quais pode ocorrer aprendizagem. As competências centrais continuam as mesmas, mas a tecnologia está a mudar a forma de valor à medida que o software adaptável e os tutores virtuais oferecem instrução altamente personalizada e apoio a um número crescente de alunos com necessidades diversas.

Identificámos quatro formas através das quais a automatização irá afectar os empregos, ao avaliarmos o grau de ameaça ao conjunto de competências centrais e forma de valor de cada profissão:

Disrupção. A disrupção ocorre quando as competências num emprego são altamente uniformizadas, mas o cliente prefere receber o valor na mesma forma. Normalmente segue uma redução nos custos de produção de bens e serviços devido a um aumento na eficiência. Por exemplo, as competências centrais dos colaboradores de fast-food estão ameaçadas pela implementação das estações de pedidos self-ordering. Embora as competências desses colaboradores estejam ameaçadas, o consumidor irá continuar a receber a mesma forma de valor – fast-food preparada com consistência e rapidez.

Alguns profissionais qualificados, como os contabilistas, por exemplo, que estão a ver os registos contabilísticos das empresas e outros tipos de dados financeiros a serem automatizados. A forma do valor não está ameaçada porque os consumidores continuam a precisar de acesso aos seus dados financeiros, mas as competências usadas para gerar esses dados financeiros estão vulneráveis.

Encontrar cargos transicionais em que o envolvimento humano permanece necessário é uma solução adaptável. À medida que a automatização em grande escala continua a propagar-se, os consumidores terão de aprender a interagir com fornecedores não humanos e a adoptar novas rotinas. Os colaboradores afectados podem funcionar como ponte, assegurando que o valor é entregue aos utilizadores finais na sua forma actual à medida que os processos são automatizados.

 

Deslocação. Com a deslocação, as competências centrais de um emprego são consideradas obsoletas e a forma de valor é alterada irreversivelmente. Os funcionários das portagens e os operadores de call centres já passaram pela deslocação, mas nem as profissões mais instruídas estão imunes. Vejamos os farmacêuticos. Eles analisam receitas, entregam medicação aos consumidores e respondem a perguntas em farmácias físicas. Contudo, como cada vez há mais receitas passadas online e entregues por correio, a forma do valor e as competências centrais dos farmacêuticos humanos estão a ser preenchidos por processos automatizados. Outros empregos que enfrentam a deslocalização incluem o de bibliotecário (por razões semelhantes) e os programadores de software (porque a capacidade de escrever código é facilmente uniformizada).

A requalificação é muitas vezes recomendada para os colaboradores deslocados, mas isso nem sempre significa mais instrução formal. Devem adquirir rapidamente competências mais relevantes numa área com uma forma de valor relativamente estável. Num mercado de trabalho volátil, programas mais extensos que exigem anos a completar (como um mestrado extra) não são a melhor abordagem. Programas de micro-credenciais – certificações com base em competências, pequenos cursos e certificações digitais – consagram qualificações com mais rapidez e oferecem mais opções, juntamente com a sensação de conquista, à medida que os indivíduos obtêm rapidamente competências para o mercado. Sugerimos um enfoque em sectores de crescimento acelerado que precisem de colaboradores. Um exemplo é a cibersegurança.

 

Desconstrução. No caso da desconstrução, as competências centrais permanecem seguras, mas a forma de valor é ameaçada. Vejamos, por exemplo, os condutores de táxis. As competências dos condutores são centrais para o valor oferecido aos clientes – chegar do ponto A ao ponto B com segurança e eficiência. Embora essas competências possam ser ameaçadas pelos automóveis autónomos, os condutores humanos provavelmente continuarão a ser uma necessidade a curto prazo. Mas a forma de valor já mudou. Tradicionalmente, o valor dos transportes era oferecido como parte de uma frota centralizada – os condutores eram contratados por uma série de empresas de gestão de táxis dentro de uma cidade. Agora, o mesmo valor é oferecido pela Uber, pela Lyft e outros, numa economia da partilha descentralizada. Os fotógrafos e os professores enfrentam desconstruções semelhantes. As suas competências permanecem importantes, mas as preferências da entrega aos consumidores estão a mudar.

Ao enfrentarem a desconstrução, as pessoas devem adaptar as competências a novas formas de valor. Embora isto pareça fácil, o maior obstáculo é a resistência à mudança. Está bem documentado, por exemplo, que muitas faculdades resistem à educação online como um novo modelo de partilha de conhecimentos e experiências.

 

Durabilidade. Nas análises feitas à força de trabalho, perde-se frequentemente o facto de muitos empregos permanecerem inalterados no futuro, incluindo alguns empregos de salários mais baixos. Referimo-nos aos empregos como duradouros quando as competências centrais e a forma de valor não estão ameaçadas. Os electricistas e os canalizadores são profissões altamente duradouras, porque o trabalho raramente é rotineiro e o custo de desenvolver uma tecnologia que ofereça valor da mesma forma – resolução prática de problemas – é excessivo. Outro exemplo é o de médico assistente. As competências associadas ao emprego – formação médica, conhecimentos sobre seguros, maneira de lidar com as pessoas – tornar-se-ão mais importantes à medida que os avanços tecnológicos permitem menos médicos a tratar mais pacientes. Ao fazerem praticamente o mesmo trabalho por menos dinheiro, os médicos assistentes podem causar disrupção nos médicos.

A chave para as pessoas em empregos duradouros é evitar a complacência, olhando para o futuro.