Os jornais repetem notícias alterando apenas os protagonistas. A história é sempre a mesma, a empresa x convida o decisor y para uma viagem que inclui um programa institucional e social. Falamos da relação de privados e públicos mas poderíamos falar também entre privados, porque é uma prática recorrente e continuada estas acções que implicam viagens e participações. 

Nos últimos anos as empresas depararam-se com temas de compliance e os grandes escândalos internacionais levaram a que fossem criados códigos de ética elucidativos do que cada decisor pode e não pode aceitar, de como deve proceder.
O que está por detrás destas normas? Valores, valores que a organização quer passar ao mercado, a ética empresarial. Bastará este código para garantir? 

Não. A liderança é um desafio, um desafio aos valores, à conduta e ao modo de estar. É necessário que o líder reconheça a sua posição e o seu caminho. Saiba demonstrar os valores, os da empresa mas também os seus. Num processo de decisão constante e de apontar o caminho, são as pessoas que impactam a imagem das organizações. Fazem-no não apenas na actuação corporativa, mas também no ser. Hoje mais do que nunca o líder é parte integrante da imagem da empresa. O líder é-o na organização, em representação da mesma mas também nas redes sociais e nas suas presenças. Não é por acaso que vemos o poder da informação do twitter de líderes políticos como o Presidente dos Estados Unidos ou que vimos mesmo na nova conjuntura de empresas disruptivas um CEO cair pela sua falta de valores (o caso da UBER). Este último exemplo com a particularidade de ter encontrado o sucessor num sector tradicional.

A liderança e as organizações, uma mistura que obriga a que exista uma cultura ética nas empresas. Não apenas uma formação obrigatória em compliance, mas uma cultura organizacional que reconheça os valores e que tenha uma liderança pelo exemplo. E não se resume à aceitação de viagens, ou à meritocracia. Até porque os líderes têm de poder escolher, têm de ter este poder baseado em factos mas também em convicção. Caso contrário não precisamos de líderes mas sim de máquinas de liderança, de um algoritmos que analise factos e assim decida a sucessão e o destino das organizações.

Precisamos de uma cultura de valores, colectivos mas também individuais, que distingam não só o que se pode ou não fazer pelo código de conduta, mas que tenham a perfeita noção do bem e do mal e que decidam hoje mas compreendendo o impacto para o futuro. Precisamos de ter líderes com consciência e em consciência, que tenham a sustentabilidade como parte integrante da sua estratégia de actuação e de decisão.

Nunca como hoje se exige heróis do dia-a-dia. Heróis porque decidem, porque têm o poder de impactar, mas com esta componente humana e ligados à realidade do dia-a-dia. Queremos e precisamos de ter estas pessoas nas nossas organizações, em modelos lean ou agile, ou mesmo tradicionais. Precisamos de pessoas que queiram cada vez mais ser pessoas e que tenham no seu ADN valores, não se deixando afogar na velocidade das transformações, nos automatismos ou em meios que justificam sempre os fins. Precisamos e queremos cada vez mais pessoas e é essa humanidade que exigimos às organizações e cada vez mais aos líderes, líderes que têm uma pequena equipa ou que são responsáveis por uma grande multinacional. Hoje mais do que nunca são as pessoas que inspiram e lideram outras pessoas e terão sempre de ser elas a criar a cultura dos valores nas organizações.