Na opinião de Judith Evans, do Financial Times, vão ser inteligentes, interactivos e totalmente personalizados. «A tecnologia irá contribuir para um trabalho contínuo, mas a privacidade dos colaboradores acabará por sofrer», alerta.

 

Um artigo da revista Time, publicado em 2000, mostrava uma colaboradora de colarinho branco futurista chamada "Icon Woman", que encontrava empregos "na web" para fazer em casa, trabalhava com «um conjunto virtual de colegas de equipa – a maioria dos quais nunca conheceu» –, enquanto a «sua casa totalmente interligada é o seu castelo».

No entanto, quase 20 anos depois, colaboradores de todo o mundo ainda enchem os escritórios todos os dias. A percentagem de colaboradores norte-americanos que trabalham em casa aumentou de 3,3% em 2000 para 5,2% em 2017, mostram os dados do Censo - deixando quase 95% a continuarem a ter de se deslocar para trabalhar.

Enquanto poucos agora duvidam da existência de escritórios em 2050, as mudanças digitais e culturais estão a mudar rapidamente a estrutura do escritório.

«Não precisamos de nos deslocar para trabalhar. Vou ao escritório quando quero ter a sensação de pertencer a algo, a uma comunidade», afirma Despina Katsikakis, directora de inquilinos empresariais da agência imobiliária Cushman & Wakefield.

«Isso significa que toda a nossa percepção do escritório como edifício precisa de mudar. O escritório tem de ser uma rede de locais físicos e virtuais que me ajudam a fazer o melhor trabalho», explica.

Isso trará a “reconfiguração” para os escritórios, o que é diferente da uniformização que vemos hoje. Filas de secretárias em espaços abertos já estão a dar lugar a recursos que permitem que o ambiente se adapte às necessidades dos colaboradores. Grupos de escritórios partilhados oferecem mobiliário móvel, incluindo cabines telefónicas e paredes modulares.

Os smartphones podem tornar essa personalização ainda mais granular, adaptando os espaços de trabalho a cada indivíduo. Os edifícios interligados aprendem como os colaboradores os usam e adaptam o ar, a luz, as mesas –  até o café – para cada membro da equipa. «[Os escritórios serão] mais inteligentes e mais humanos ao mesmo tempo - é uma dicotomia interessante», revela Katsikakis.

A Edge Technologies, uma promotora imobiliária holandesa, afirma ter «transformado um prédio num computador», permitindo, por exemplo, ter uma aplicação para smartphone que encontra um espaço para estacionamento (se necessário) e uma mesa de trabalho, e ajusta o ambiente de acordo com as pessoas.

Embora grande parte dessa tecnologia já exista, o ritmo da inovação irá acelerar nos próximos 20 anos, afirma Guy Grainger, chief executive da Europa, Médio Oriente e África da JLL, uma consultora imobiliária. «A velocidade com que os locais de trabalho mudam está relacionada com a velocidade da nossa adopção de novas tecnologias e formas de trabalhar. A próxima geração [de colaboradores] será composta por nativos digitais, e esses são uma raça diferente», afirma ele.

A evolução da tecnologia irá melhorar as ferramentas disponíveis para os empregados de escritório. As reuniões virtuais perfeitas com tradução em tempo real tornar-se-ão rotineiras e substituirão a incómoda teleconferência, diz Katsikakis.

O vidro instalado nos edifícios pela View, uma empresa californiana que fabrica janelas "inteligentes", já ajusta a sua cor para alterar os níveis de calor e luz. A empresa está também a desenvolver sensores para alertar sobre intrusos e janelas que se transformam em ecrãs interactivos, explica Jeff Platon, vice-presidente.

A inteligência artificial (AI) eliminará algumas tarefas de escritório repetitivas, como a elaboração de declarações de impostos, segundo um estudo realizado por académicos da Universidade de Oxford. Os seres humanos ficarão com os empregos que exigem resolução de problemas, respostas sociais e emocionais e criatividade, defende a JLL.

 

Design e privacidade

O design do escritório promoverá essas competências, juntamente com uma maior interacção pessoal. Algo que já está a acontecer: as escadas, outrora escondidas nos cantos dos edifícios, são cada vez mais construídas como peças centrais para incentivar a actividade e a interligação, enquanto as cantinas e as áreas de descanso ganham destaque.

As mesas de trabalho continuarão a ser uma característica dos escritórios, mas as cadeiras poderão desaparecer graças à consciencialização dos riscos de um estilo de vida sedentário, segundo Grainger, que sugere que as secretárias de pé serão os principais equipamentos, assim como alguns bancos.

Os locais de trabalho que oferecem um interior inspirador também terão de pensar na sua emissão de carbono. As preocupações com a sustentabilidade também levarão ao reaparecimento de estruturas de madeira, em vez de cimento, que tem uma utilização intensiva de carbono, de acordo com Philip Oldfield, director do programa de arquitectura da Universidade de New South Wales.

Nesta procura de escritórios inteligentes, os colaboradores terão de sacrificar algumas normas - incluindo espaço e as suas próprias secretárias. O trabalho ágil permite que muitas empresas reduzam custos, fornecendo menos secretárias para a sua força de trabalho, enquanto o espaço médio por pessoa diminuiu 8,3% entre 2009 e 2018, segundo a Cushman & Wakefield.

A privacidade também pode sofrer. Os sensores que monitorizam o movimento e o uso de instalações no escritório já são comuns – e seguir trabalhadores individuais está a tornar-se cada vez mais normal.

A aplicação que as pessoas usam nos desenvolvimentos da Edge Technologies já possui serviços de localização. «É possível ver onde estão os colegas», revela van Oostrom. «É possível desactivá-lo se não se quiser ser visto pelo edifício, mas a maioria das pessoas quer estar visível.»

Segundo van Oostrom, os portões automatizados, que reconhecem as matrículas e depois deixam os condutores entrarem no estacionamento, foram contestados pelos sindicatos, que disseram que poderia se assemelhar a "picar o ponto". Os colaboradores, porém, foram seduzidos pela conveniência. «Assim que a tecnologia tem uma clara vantagem, a questão da privacidade não se torna tão significativa», explica van Oostrom.

Contudo, os escritórios de alta tecnologia de 2050 não serão para todos. De facto, o número de pessoas com direito a trabalhar nesses espaços inteligentes pode diminuir com o crescimento das economias de freelancers e colaboradores temporários.

Lee Elliott, chefe global de pesquisa de ocupantes da Knight Frank, alerta que, à medida que os escritórios melhoram, os ambientes de trabalho ficam «mais polarizados» entre «elefantes e pulgas».