Mesmo que não estejam a contratar, as empresas devem aproveitar este contexto excepcional para se adiantarem e cuidarem do seu talento, actual e futuro. Quando a normalidade regressar, isso poderá fazer a diferença. Quem o afirma é Karla Reffold, fundadora e managing director da BeecherMadden, e membro do conselho da Forbes, onde explica porque é que a gestão de talento continua a ser fundamental. 

As empresas estão em modo de sobrevivência e, para muitas, isso significou despedir pessoas e recorrer ao lay-off. Embora alguns sectores continuem a contratar, empresas e pessoas estão nervosas. Pela primeira vez em quase 10 anos, a estabilidade profissional é um factor que os candidatos consideram. 

Porquê mudar de emprego e saltar para o desconhecido? Ao mesmo tempo, há uma diferença notável na forma como as empresas tratam os seus colaboradores. Quando o mercado mudar, algo que, segundo algumas opiniões, acontecerá relativamente depressa, as empresas que trataram bem as suas pessoas colherão os benefícios.

Contudo, tratar as pessoas de forma justa pode não ser suficiente. Com um esforço pequeno, as empresas podem usar este tempo para se adiantarem, cuidando do seu talento, actual e futuro. Estarão então numa boa posição para qualquer recuperação quando candidatos e colaboradores voltarem a ter mais por onde escolher. Assim:

- Não parem de entrevistar

Entrevistar quando não se está a contratar parece contraproducente, mas, bem feito, pode traduzir-se em grandes benefícios quando as contratações voltarem a aumentar. Invistam apenas algumas horas por semana, para não se afastarem muito do vosso trabalho. Sejam claros desde o início de que é apenas uma conversa exploratória e não um processo activo. Expliquem o cargo para o qual devem recrutar nos próximos meses. É importante que definam bem as expectativas para que as pessoas não sintam que estão a desperdiçar tempo ou que estão a ser enganadas.

É uma questão de desenvolver relações e ter um conjunto de candidatos disponíveis prontos para quando chegar a altura de contratar. Os candidatos que têm sido mais procurados nos últimos anos, como muitos nas Tecnologias de Informação (TI), estão mais abertos a diálogos agora do que estavam há três meses. É uma oportunidade para lhes dar mais informações sobre o motivo por que a vossa empresa pode ser um excelente lugar para trabalhar. Torna também muito mais fácil contactá-los de novo quando houver uma vaga e diminuirá o tempo que demora a contratar alguém, reduzindo ao mesmo tempo os custos.

- Comunicar adequadamente as más notícias

As pessoas compreendem que, por vezes, as empresas têm de tomar decisões difíceis. Mas estas podem ser bem ou mal comunicadas. Sempre que possível, comuniquem as más notícias frente-a-frente e com o máximo de pormenores possível. Podem não saber quando é que as pessoas voltarão ao trabalho, mas podem explicar-lhes o que as fará regressar. As empresas que estão a fazer isto adequadamente neste momento são elogiadas pelos seus colaboradores. É a melhor altura possível para ter os colaboradores como defensores e fãs. Cometer aqui um erro é arriscar a que eles vos critiquem publicamente.

- Permaneçam visíveis

A liderança precisa de se manter bastante visível durante alturas mais difíceis. Organizem webinars ou reuniões gerais com os colaboradores. Estejam presentes nas reuniões em que normalmente não estariam, mesmo que por pouco tempo. Os líderes podem preocupar-se com a opinião dos colaboradores perante esta mudança de atitude, mas os colaboradores querem ver que a liderança compreende realmente os pormenores do dia-a-dia e a sua realidade. Quando os líderes desaparecem, os colaboradores preenchem sozinhos os espaços em branco.

Os líderes devem aproveitar esta altura para inspirarem confiança nos seus colaboradores e assegurarem que o talento de topo está empenhado na empresa. Demonstrar isto também ajuda a tranquilizar as pessoas que irão trabalhar para vocês no futuro. Se os colaboradores perderem a confiança na sua liderança, passarão para outra empresa assim que houver oportunidade.

- Confiram como estão as pessoas e coloquem o seu bem-estar em primeiro lugar



Falei com alguns grandes líderes nas últimas semanas que se concentraram no bem-estar das suas equipas. Têm falado com membros das equipas com mais frequência e incentivado os mesmos a tirarem um tempo só para si. É fácil trabalhar muitas horas quando não há mais nada para fazer, principalmente se há medo de perder o emprego. Mas trabalhar demasiadas horas não ajuda a produtividade; só contribui para o burnout.

Encorajar a equipa a descansar e a tirar um tempo é importante. Demonstra também que se preocupam com eles como indivíduos e que não ligam apenas à liquidez da empresa. Os colaboradores acabarão por dar mais valor a isto quando as coisas voltarem ao normal, aumentando a lealdade. Caso o trabalho remoto se torne mais normal, as pessoas irão querer trabalhar para empresas que respeitam o seu tempo pessoal. Se tiverem isto já organizado, estarão prontos para atrair talento no futuro.

- Mantenham-se em contacto

É uma boa altura para aproveitar a vossa rede de contactos. Se falarem com as pessoas e perguntarem como estão, elas irão apreciar o gesto. Tornou-se mais habitual comunicar assim nos últimos meses e as pessoas estão geralmente mais abertas. É uma oportunidade para explorar e desenvolver relações para as quais não tinham tempo anteriormente. Estas conversas podem levar a oportunidades para vocês quando precisarem de talento no futuro, quer com indivíduos em particular como com alguém que eles recomendem. É uma oportunidade para mostrarem à vossa rede de contactos como tratam os vossos colaboradores e como valorizam as pessoas que conhecem e para mostrarem que a vossa empresa realmente se preocupa com as suas pessoas.

Quando a economia recuperar, as empresas que trataram bem as suas pessoas terão mais por onde escolher no mercado. As que usaram este tempo para passar esta mensagem para o exterior terão ainda mais. As empresas que não o fizeram de forma adequada podem descobrir que sobreviveram a uma crise para enfrentar outra logo de seguida.