«Na nossa loucura acelerada pela produtividade no mundo do trabalho, uma carreira representa um percurso com avanço constante, uma forma de subir na hierarquia da empresa. No entanto, devido à aceleração das forças globalizadas e tecnológicas, a definição de "carreira" mudou substancialmente ao longo dos anos e a pandemia limitou-se a acentuar isso», afirma Jelena Radonjic, membro do conselho da Forbes. E explica.

 

Analisar a origem do termo pode oferecer-nos uma nova perspectiva. "Carreira" deriva da palavra latina "carrus", que denota um veículo como uma carruagem ou uma carroça. Faz sentido que a tenhamos apropriado para o progresso na corrida que é a vida profissional, mas, na verdade, esta origem revela que carreira significa seguir para a frente, não para cima; indica uma rota, uma viagem, um percurso.

Perante esta perspectiva, torna-se visível a importância de considerar a carreira como um caminho pessoal. É evidente que o trabalho ocupa tanto tempo do nosso dia que, para ser gratificante, precisamos de ser felizes no trabalho - é uma simples representação percentual. No entanto, do outro lado, nem o trabalho mais gratificante nos consegue manter sãos com o mundo a desmoronar-se à nossa volta. Portanto, em vez de nos forçarmos a sermos sempre produtivos e bem-sucedidos, devemos pensar na nossa carreira como uma oportunidade para avançarmos, nos educarmos, recolhermos experiências e crescermos como pessoas.

 

Um momento histórico para a mudança

A mudança é muitas vezes assustadora e, embora possamos querer mudar, também podemos subconscientemente evitá-la ou resistir a ela. É na zona cinzenta entre estes dois que nos podemos sentir encalhados, sem qualquer forma de avançar.

Não admira então que sejamos tão propensos a criar rotinas e rituais; somos criaturas de hábitos, hábitos que nos oferecem estabilidade e segurança. Normalmente, a incerteza da mudança é comparada à estabilidade e segurança do status quo. No entanto, o que a mudança no mercado de trabalho nos mostrou e o que foi amplificado pela crise global é que a segurança é temporária, se não mesmo um mito completo. Ao escolhermos um trajecto que consideramos "seguro", podemos também, inadvertidamente, fazer concessões em relação aos nossos objectivos e valores reais.

Na minha experiência pessoal e profissional, percebi que a mudança e a transformação ocorrem quando a dor de permanecer igual se torna maior do que o medo de mudar. Não há um ponto de retorno quando nos decidimos e mergulhamos no mar da mudança, mas o caminho para esse ponto de decisão pode muitas vezes ser demorado e doloroso.

 

Questionar para seguir em frente

Tendo em mente a ideia de que a carreira envolve tanto o crescimento pessoal como a progressão profissional, vamos abordar estas questões:

 

- A vossa insatisfação com o trabalho surgiu com mais força sob as circunstâncias esgotantes da pandemia ou estão simplesmente cansados das condições de trabalho na pandemia (e estariam assim em praticamente qualquer emprego)?

 

- Quais são as situações que vos impulsionam? Por sua vez, o que teriam de mudar para que fosse uma situação satisfatória? Por outras palavras, como podem usar o que vos deixa perturbados e infelizes para começarem a criar uma vida profissional mais significativa? Isto pode ajudar a clarificar aquilo que procuram numa mudança, em vez de que fugirem às cegas.

 

- Pensem nos "momentos altos" no trabalho, quando realmente gostam do que estão a fazer e tudo é exactamente como querem que seja. Qual a sensação? Qual o ambiente, as circunstâncias? Escrevam uma pequena história e depois procurem pistas - o que é que tinham então e que não têm agora?

 

- O que está dentro da vossa zona de poder pessoal (o que podem mudar), da vossa zona de influência (o que podem influenciar) e da vossa zona de preocupação (o que está fora do vosso controlo)? Um exemplo desta última seria a pandemia e os seus efeitos sobre nós, as nossas vidas, os nossos empregos e a economia. No entanto, mesmo aqui, podemos voltar ao círculo do poder pessoal, escolhendo como responder conscientemente à situação externa, em vez de criarmos ressentimento ou desespero ou aceitar os negativos com resignação. É aí que nos empenhamos no auto-poder e na resiliência.

 

Embora a mudança possa ser intimidante, poderão descobrir que com as rotinas já desenraizadas, talvez agora seja uma boa altura para mudar e reorganizar a vida e a carreira. E se não, se estiverem satisfeito com a vossa carreira, mas apenas frustrados pelas circunstâncias, lembrem-se das palavras de Sandi Toksvig: «Vamos ultrapassar isto.»