As áreas essenciais da desagregação sistémica da sociedade estão

relacionadas com cinco forças, que têm impacto nos colaboradores e no

mercado laboral.

O mercado laboral está a mudar rapidamente, quase diariamente. Tal acontece

graças a desafios como a mudança demográfica, a globalização, os níveis de

migração que atingem níveis históricos e a necessidade de uma mão-de-obra

mais diversa e inclusiva. Como resultado, a questão da sustentabilidade do

capital humano está a tornar-se urgente.

Na Randstad, acredita-se que isto não é responsabilidade de um indivíduo

apenas, é uma responsabilidade conjunta, como foi sublinhado pelos

Objectivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. Esta edição de

Sustainability@Work 2020 é o primeiro de uma série de relatórios que se focam

na transformação sustentável do mercado laboral.

A aplicação do pensamento de sistemas aos desafios globais resultou na

Estrutura de Fragmentação das Cinco Forças, fazendo eco do lema do Fórum

Económico Mundial em 2018: criar um futuro partilhado num mundo fracturado.

Segundo esta análise, as áreas essenciais da desagregação sistémica da

sociedade estão relacionadas com o descontentamento, a disrupção, a

desconexão, a disparidade e a destruição.

Descontentamento



O descontentamento tem a sua origem nos estilos de vida pouco saudáveis,

nos locais de trabalho pouco seguros e nos ambientes tóxicos que prejudicam

o bem-estar humano. Por exemplo, mais de 40% das mortes de doenças não

comunicáveis (que representam 70% de todas as mortes, um aumento desde

2000) são prematuras ou evitáveis, nomeadamente por doenças

cardiovasculares e respiratórias, cancro e diabetes. Além disso, a depressão e

a ansiedade afectam 10% das pessoas e aumentaram 50% entre 1990 e 2013.

O empenho dos colaboradores tornou-se um importante indicador para os

líderes de Recursos Humanos (RH). Estudos revelam que a diminuição do

empenho dos colaboradores leva a mais absentismo, mais erros, acidentes e

problemas, menos produtividade, menos rentabilidade e a um valor em bolsa

65% mais baixo ao longo do tempo. É possível melhorar o empenho através de

trabalho voluntário. Na Europa, cerca de 30% das pessoas participam em

trabalho voluntário não remunerado pelo menos uma vez por mês e os

colaboradores têm mais tendência para fazerem trabalho voluntário do que os

desempregados.

O burnout associado a altos níveis de stress no local de trabalho –

paradoxalmente, por vezes devido ao excesso de empenho – é outro impacto

elevado associado ao descontentamento. As expectativas demasiado altas

colocadas nos ombros dos colaboradores eficazes podem prejudicar a sua

capacidade de trabalhar e o seu desejo de permanecerem na empresa.

Outra fonte de stress é a incidência crescente de lares em que os dois adultos

trabalham – uma tendência positiva que cria uma sociedade mais igualitária,

mas que também aumenta os níveis de conflito entre as responsabilidades

profissionais e familiares.

Disrupção



A disrupção refere-se a qualquer instabilidade que ameace a vida e a

segurança humana, e está frequentemente associada a conflitos políticos,

actos de terrorismo, alterações demográficas, acidentes industriais e desastres

naturais. E tem um impacto significativo no mercado laboral em termos gerais e

nos colaboradores em termos específicos, que podemos mostrar ao incidirmos

em três áreas: migração forçada, desastres naturais e crises económicas.

Existem 65 milhões de pessoas no mundo que foram deslocadas à força,

incluindo 22,5 milhões de refugiados, a maioria dos quais em nações em

desenvolvimento. Os refugiados e migrantes forçados nem sempre têm noção

dos seus direitos, o que pode fazer com que sejam explorados por

empregadores ao aceitarem trabalhos mal remunerados, inseguros ou

exigentes. Os estereótipos negativos sobre os refugiados – que estão a roubar

empregos aos habitantes locais, que não são de fiar ou que provavelmente têm

antecedentes criminais – podem também resultar em discriminação na

contratação e em tratamentos injustos no local de trabalho.

O impacto dos desastres naturais no mercado de trabalho pode ser igualmente

dramático. Milhões, por vezes milhares de milhões, de euros em danos podem

ocorrer graças aos desastres naturais. Empresas são desfeitas ou destruídas e

as operações param inesperadamente durante uma quantidade significativa de

tempo.

E as alterações climáticas têm também impacto nas condições de trabalho, de

uma forma mais subtil. O aumento do calor, por exemplo, tem sérias

implicações no desconforto e produtividade; nos Estados Unidos da América

(EUA), mais de 15 milhões de pessoas têm um emprego que exige que

estejam no exterior e as temperaturas a subir acabam por lhes ser perigosas.

As crises económicas têm um impacto significativo no mercado laboral. A crise

económica de 2008 esteve ligada a uma rápida subida do desemprego e a um

aumento particularmente pronunciado do desemprego de longa duração. As

falências associadas às crises também criam stress e ansiedade, resultando

num comportamento inadaptado e a decisões desadequadas tanto a nível

individual como a nível organizacional.

Desconexão



A desconexão refere-se à exclusão da economia do conhecimento e está mais

associada à falta de oportunidades académicas, à falta de acesso a tecnologias

inteligentes e à substituição do trabalho humano por trabalho tecnológico,

incluindo inteligência artificial. O impacto da desconexão no mercado laboral e

nos colaboradores é particularmente evidente em duas áreas: o fosso digital e

a automatização.

O fosso digital refere-se à lacuna entre os que têm acesso à tecnologia

inteligente (nomeadamente internet e smartphones) e os que não têm. Mais

importante, refere-se à desvantagem económica, social e cultural que este

fosso criou para os que estão “desconectados”. Ou seja, os dividendos digitais

– os benefícios de desenvolvimento mais amplos obtidos através da utilização

de tecnologias digitais – estão distribuídos desigualmente. Isto pode parecer

surpreendente, visto que o número de utilizadores de internet mais do que

triplicou, de mil milhões em 2005 para 3,2 mil milhões no final de 2015.

Contudo, apesar deste rápido crescimento, quase 60% da população mundial

continua offline. E o fosso digital também se manifesta na discriminação etária.

A proporção de jovens que usam a internet globalmente é de 71% (94% nos

países desenvolvidos), em comparação com 48% da população total (81% dos

países desenvolvidos).

O impacto da automatização é um dos riscos da digitalização da actividade

económica. Como o Banco Mundial indica, o mundo enfrenta «mercados de

trabalho cada vez mais polarizados e o aumento da desigualdade – em parte

porque a tecnologia aumenta as competências mais altas e substitui as tarefas

mais rotineiras, forçando muitos colaboradores a competirem por empregos de

remuneração mais baixa».

Disparidade



A disparidade refere-se a qualquer desigualdade que aumente a fricção social

ou a utilização ineficiente de recursos, e está mais associada à desigualdade

salarial, à discriminação e à exclusão económica. O impacto da disparidade

nos mercados laborais concentra-se em três áreas: lacunas nas competências,

discriminação no local de trabalho e desigualdade salarial.

Um relatório recente da McKinsey mostra que a deslocalização dos empregos

no futuro concentrar-se-á principalmente nos colaboradores com competências

mais baixas, prolongando uma tendência que se intensificou nos últimos anos.

Além disso, à medida que os empregos se tornam mais variados e os

mercados de trabalho se tornam mais complexos, é cada vez mais difícil

encontrar o alinhamento certo entre as competências disponíveis e as

especificações das vagas disponíveis. Isto resulta em maiores custos laborais,

produção perdida por causa de vagas por preencher, uma adopção mais lenta

de novas tecnologias e taxa de desemprego mais alta.

Apesar da crescente atenção na criação de locais de trabalho inclusivos, as

provas sugerem que, em muitas organizações, os colaboradores continuam a

ser tratados de forma diferente dependendo da sua formação académica,

género, idade, etnia, sexualidade ou religião. O impacto desta discriminação

tende a exacerbar-se ao longo do tempo, naquilo a que os académicos

chamam de “desigualdade social acumulada” pelo trabalho.

Com o impacto directo da disparidade no capital humano, a desigualdade é

igualmente importante porque molda a sociedade. Uma sociedade estável e

saudável leva a um mercado de trabalho funcional. Em contrapartida, graças a

análises a décadas de dados de países de todo o mundo, está provado que

muitos problemas ambientais e sociais modernos – como os problemas de

saúde, a falta de vida comunitária, a violência, a droga, a obesidade, as

doenças mentais, os longos horários de trabalho ou as grandes populações

prisionais – têm mais probabilidade de ocorrer numa sociedade menos

igualitária.

Destruição



A destruição refere-se a qualquer produção ou consumo que leve ao declínio

de recursos e à disrupção de ecossistemas, e está frequentemente associada

ao crescimento económico, ao excesso de consumo, à exploração dos solos e

à poluição industrial. A destruição é uma área de desagregação social que tem

impacto nos colaboradores através da deterioração das condições de trabalho

associada às alterações climáticas e à poluição, assim como da disrupção nos

mercados laborais devido às indústrias poluentes que são forçadas a pagar os

seus custos ambientais e entram em declínio económico.

Em termos de alterações climáticas, os eventos meteorológicos extremos como

a seca, as ondas de calor, a precipitação intensa e o aumento da quantidade e

da intensidade de ciclones e furacões causarão perda de empregos, forçarão a

migração a curto e longo prazo, deteriorarão as condições de trabalho, e

danificarão bens e a continuidade empresarial.

Um efeito directo do número mais alto de dias muitos quentes associados às

alterações climáticas, por exemplo, é o “abrandamento” do trabalho, que

resulta numa produtividade laboral mais baixa. A poluição atmosférica tem

impacto na saúde e na produtividade dos colaboradores, principalmente nos

que trabalham no exterior em ambientes urbanos ou industriais, mas também

nos funcionários administrativos. De facto, calcula-se que os custos ambientais

das actividades económicas sejam de 4,3 biliões de euros por ano e cheguem

aos 26 biliões em 2050.

Estas externalidades – assim chamadas porque os negócios externalizam os

custos, o que significa que não os pagam directamente, mas impõem-nos à

sociedade – inclui custos médicos relacionados com a poluição atmosférica, os

efeitos das emissões de carbono, a perda de benefícios obtidos com a

natureza, como a retenção de carbono pelas florestas, e a perda de recursos

naturais.

Embora as empresas continuem a resistir a pagar pelos custos ambientais das

suas actividades, espera-se que cada vez mais sejam forçadas a fazê-lo

através de legislação ambiental, resultando no declínio de certos sectores, na

falência de empresas com alto impacto e na perda de empregos.