O trabalho enquanto um conjunto de atividades profissionalizadas que são executadas para atingir um determinado propósito, desempenha um papel fundamental na transformação do mundo em que vivemos. Para além da vertente económica, naturalmente essencial, assume-se também como uma componente importantíssima, a sensação de realização pessoal enquanto colaborador. Mas como concretizar essa sensação de concretização, de satisfação total com o desempenho das nossas funções? Para responder a esta questão,  está na agenda das empresas de uma forma cada vez mais recorrente,  conceitos como a felicidade, que hoje são assumidos, como uma das principais prioridades no combate a fenómenos como a “great resignation”.  Mas nem sempre foi assim. 

A felicidade sempre foi considerada como algo experienciado numa esfera mais pessoal, promovida através do convívio com amigos, nas férias, nos hobbies, naqueles momentos inesquecíveis partilhados no seio familiar. Mas sendo a felicidade um impulsionador da nossa vontade, um catalisador para o nosso bem estar, não fará sentido tentar enquadrá-lo em tudo o que fazemos? Creio que a resposta acaba por ser simples. A verdade é que  algumas empresas têm vindo a fazer um caminho extremamente interessante nesse sentido. Após perceberem o poder da monitorização  de indicadores como o engagement, passaram a incorporar nas suas organizações, funções como chief happiness officer e happiness engagement consultants, que se assumem como especialistas na matéria e cuja missão é estarem focadas na felicidade do colaborador.

As razões que promoveram a adoção deste conceito no meio organizacional são justificadas pela necessidade de uma reformulação estratégica, cada vez mais centralizada no colaborador. Eventos como a escassez generalizada de talento, a criticidade da sua retenção, bem como o agravamento generalizado de temas relacionados com a saúde emocional das forças de trabalho, obrigaram as empresas a redesenhar totalmente o seu modelo de employee experience, tornando a sua oferta diferenciadora e ao mesmo tempo mais atrativa.

O tema COVID19 com o qual já todos nos habituamos a conviver, potenciou a adoção do conceito de felicidade empresarial. Tudo se transformou, as rotinas e os velhos hábitos foram postos em causa! Deixamos o escritório e passámos a trabalhar em casa. Substituímos as reuniões presenciais e abraçamos o formato digital. O café na copa, que tanto jeito dava para esclarecer assuntos em 5 minutos, deixou de existir. O isolamento tornou-se o nosso companheiro de mil e uma ocasiões, mesmo pairando no ar uma estranha sensação de proximidade. Na realidade, os nossos colegas, clientes e parceiros estavam agora à distância de um click e os horários passaram a ser cumpridos na íntegra, assim como os atrasos de 1 minuto, passaram a ser motivo para um pedido de desculpas. Um minuto, parece mentira não é? A questão é que, se por um lado beneficiámos deste aumento de flexibilidade, diminuição do tempo de resposta e imediatismo na solução, também é verdade que nos tornamos mais distantes em termos emocionais. A empatia diminuiu. A perceção de determinada expressão levou-nos a interpretações incorrectas. Ficamos mais  indiferentes, reagindo de uma forma mais robotizada, após horas e horas de reuniões consecutivas, que, embora produtivas, provocam o desgaste em todos nós. É natural que a produtividade tenha aumentado, os projetos que há muito estavam em suspenso foram concluídos. Ficámos mais ágeis na tomada de decisão, mas a que custo? Justificar-se-á o cansaço, o esgotamento que experienciamos para atingir esse fim? Efetivamente, não. Felizmente muitas empresas perceberam os riscos deste aumento de disponibilidade e incapacidade de desligar da grande maioria das suas pessoas, e atuaram rapidamente no sentido de proteger a saúde emocional das suas equipas.

É verdade que colaboradores motivados e felizes produzem mais. De acordo com um estudo da Harvard Business Review,  colaboradores esgotados e infelizes têm 18% menos produtividade, geram 16% menos lucro, aumentam em 49% os acidentes no trabalho e têm mais 37% de absentismo. Mas como podemos antecipar determinado comportamento das nossas pessoas? Como perceber que efetivamente está na hora de parar?

Muito se tem falado do papel das lideranças e este é precisamente um dos eixos que maior relevância tem que assumir nas suas funções. O líder não só tem que ser um promotor de um ambiente saudável, onde impere o bem estar e a felicidade, como tem que estar atento a todos os sinais que possam impactar este objetivo. Claro que o facto de vivermos num mundo que gira a uma velocidade estonteante não ajuda e, muitas vezes, acabamos por falhar em momentos que mais tarde percebemos serem decisivos. Pedidos de esforço adicional sem o devido retorno ou a ausência de celebração daqueles momentos chave e de ações de feedback sincero do que está bem e do que precisa de ser melhorado. O não potenciarmos devidamente o crescimento das nossas pessoas e o não permitirmos o erro como forma de crescimento são algumas premissas que são elementares, que embora compreendamos o seu verdadeiro potencial e criticidade, muitas vezes deixamos passar, acabando por não cumprir a promessa de uma equipa verdadeiramente feliz na sua plenitude!

É para auxiliar as equipas de liderança que a introdução dos happiness managers acaba por fazer todo o sentido. Totalmente focada no estado anímico da equipa e no seu bem estar global, esta figura deve procurar os melhores programas que contribuam para a satisfação dos colaboradores. O líder deve estar naturalmente envolvido em todo o processo, mas principalmente como um elemento que faz parte do grupo. Um elemento que se envolve e aproxima das pessoas, demonstrando todo o interesse nas dinâmicas que forem desenvolvidas. Não se pretende qualquer tipo de separação, muito pelo contrário, ambos devem atuar em prol de um bem superior: a felicidade geral.

E quanto ao colaborador? Qual a sua responsabilidade nesta equação?  Eu, como colaboradora, nunca posso esquecer que a minha motivação para estar bem, acontece de dentro para fora e é nesta reciprocidade que se gera o equilíbrio para a felicidade. A expressão “a saúde em primeiro lugar” não podia ser mais adequada, porque esse é o lema que nos permite abraçar novos projetos e desafiar-nos diariamente no exercício das nossas funções.  A felicidade só acontece quando verdadeiramente for bidirecional e quando assim é, contribui enormemente para um diferencial relevante para atrair,  reter e aumentar a satisfação dos talentos na organização.

escrito por:
this is a woman
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marlene fernandes

sales & operations director, outsourcing, randstad portugal