O trabalho remoto generalizado criou novos desafios, mas, por outro lado, organizações por todo o mundo estão a experimentar soluções criativas para os ultrapassar e gerir com eficácia uma força de trabalho dispersa e descentralizada. Na MIT Sloan Management Review, Donald Sull e Charles Sull, co-fundadores da CultureX, e Josh Bersin, fundador da The Josh Bersin Academy. Identifica, cinco formas de os líderes gerirem com eficácia o trabalho remoto.

De acordo com uma pesquisa realizada pelos três especialistas a líderes globais de Recursos Humanos (RH), entre os temas mais urgentes no actual contexto de pandemia, surge o desafio geral de transitar o trabalho do escritório para casa e, mais especificamente, manter os colaboradores remotos empenhados (17%), produtivos (7%) e ligados (5%).

O trabalho remoto generalizado criou novos desafios, mas, por outro lado, organizações por todo o mundo estão a experimentar soluções criativas para estes problemas. Num segundo inquérito, Donald Sull, Charles Sull e Josh Bersin foram perceber o que as organizações fizeram para implementar o trabalho remoto, destacando-se que três quartos dos executivos tencionam passar alguma da sua força de trabalho para trabalho remoto a tempo inteiro após o final da pandemia. 

Assim, e com base na sua pesquisa, os especialistas identificaram cinco princípios que podem ajudar os líderes a gerir com mais eficácia uma força de trabalho descentralizada. 

1 – Manter uma comunicação frequente, transparente e consistente

Quando os colaboradores trabalham a partir de casa, podem sentir-se desligados das suas organizações, e quase metade (47%) dos inquiridos citam uma comunicação eficaz como crucial para a sua transição para o trabalho remoto. Usando processamento de linguagem natural para identificar os principais temas nas respostas, determinámos que a comunicação mais eficaz tem cinco características: é frequente, transparente, parte de um diálogo recíproco, fácil de navegar e consistente. Estes princípios de comunicação são úteis no geral, mas tornam-se fundamentais quando a força de trabalho de uma empresa está espalhada.

2 – Oferecer apoio à saúde física e mental

No meio de uma pandemia global, é natural que 15% dos inquiridos tenham mencionado os testes, máscaras e vacinas da gripe financiados pelas empresas como acções positivas tomadas para proteger o bem-estar físico dos colaboradores. O surpreendente é que os colaboradores tenham quase duas vezes mais probabilidade (29%) de elogiar medidas tomadas para promover o bem-estar mental e ajudá-los a combater o isolamento social.

O isolamento social entre trabalhadores remotos não é um desafio novo – na verdade, seis em cada 10 colaboradores remotos reportaram sentir-se isolados antes da COVID-19 – mas a pandemia ajudou a trazer o assunto a discussão. A medida mais eficaz para lidar com o isolamento, segundo o inquérito, é os gestores fazerem controlos regulares para verem como estão os colaboradores em termos pessoais e profissionais, uma abordagem mencionada por uma em cada 10 pessoas que completaram o inquérito. 

As actividades sociais virtuais, como almoços, lanches, aulas de exercício online e “happy hours”, foram também mencionadas frequentemente como formas de as empresas ajudarem os colaboradores a ultrapassarem o isolamento social. Estas actividades não receberam uma classificação tão alta como a monitorização dos gestores. Factores como “happy hours” online e aulas de ioga são uma boa maneira de facilitar as ligações sociais, mas não substituem os líderes a falarem directamente com as suas equipas.

De um modo mais geral, os colaboradores apreciam apoio emocional, principalmente dos executivos seniores. Os colaboradores também valorizam iniciativas empresariais feitas explicitamente para os ajudar a gerir o stress e a manter o bem-estar mental. Iniciativas específicas incluem começar um fórum online sobre saúde mental, partilhar recursos de bem-estar mental, lançar serviços de apoio anónimos por telefone e ensinar os gestores a debaterem o tema do stress e da saúde mental com as suas equipas.

3 – Ajudar os trabalhadores remotos a permanecerem produtivos e empenhados

O trabalho remoto pode aumentar a produtividade, principalmente em tarefas individuais que exigem uma coordenação mínima com os colegas. Por exemplo, permitir aos colaboradores que trabalhassem a partir de casa aumentou a produtividade dos analistas de patentes em 4%, e dos colaboradores de call centers em 13%. Contudo, quando os colaboradores precisam de colaborar com outras equipas, trabalhar a partir de casa pode diminuir a produtividade. Uma medida eficaz a curto prazo, segundo os resultados do nosso inquérito, é os líderes reconhecerem que a produtividade pode diminuir durante o confinamento e explicar aos trabalhadores que é aceitável.

A longo prazo, porém, as organizações terão de avaliar o desempenho dos colaboradores remotos. A maioria dos empregadores ainda não sabe como. O mesmo estudo que descobriu que os trabalhadores de call centers remotos são mais eficazes, descobriu também que estes tinham menos probabilidade de serem promovidos em comparação com os seus colegas no escritório. 

As reuniões frequentes e curtas podem melhorar a produtividade. Os colaboradores podem resmungar por causa de haver reuniões durante circunstâncias normais, mas muitos dos inquiridos no COVID-19 Pulse of HR afirmaram que as reuniões diárias os ajudaram a manter-se concentrados ao trabalharem remotamente. Os mecanismos estruturados para partilhar as melhores práticas e dicas sobre trabalho remoto foram também populares. Os executivos e os membros da administração de uma empresa usaram as suas reuniões bissemanais para partilharem exemplos do que estava a funcionar (e do que não estava a funcionar) durante o trabalho remoto, e outra empresa recolheu e transmitiu as histórias de sucesso dos colaboradores na sua intranet.

4 – Gerir o paradoxo do equilíbrio entre a vida profissional e pessoal

No que toca ao equilíbrio entre a vida profissional e pessoal, o trabalho remoto implica um paradoxo. Por um lado, trabalhar em casa diminui o tempo gasto em deslocamento e permite que as pessoas ajustem os seus horários e passem mais tempo com as suas famílias. Um estudo de 2017 mostrou que os colaboradores estavam dispostos a aceitar um corte de 8% na sua remuneração se pudessem trabalhar em casa e não no escritório.

A popularidade do trabalho remoto ajuda a explicar porque é que o número de empregadores norte-americanos que oferecem a opção de trabalhar a partir de casa duplicou, segundo algumas estimativas, na década anterior à pandemia de COVID-19.

Por outro lado, o trabalho remoto pode fazer com que os colaboradores sintam que têm de estar sempre disponíveis e de trabalhar mais horas, e pode diluir a barreira entre vida profissional e pessoal. Pesquisas têm mostrado consistentemente que os colaboradores remotos trabalham mais horas do que os seus colegas no escritório. Um inquérito da Gallup feito antes do surto de COVID-19 revelou que os colaboradores norte-americanos trabalham mais uma hora por dia quando trabalham remotamente, mas um estudo da NordVPN descobriu que os colaboradores remotos ficam ligados mais duas a três horas por dia durante a quarentena do que estariam antes do confinamento. Quando o trabalho remoto é obrigatório e as escolas e serviços de ATL estão fechados, é obviamente ainda mais difícil manter a barreira entre a vida profissional e pessoal.

A forma mais popular de ajudar os colaboradores a gerirem o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal, mencionada por 10% dos inquiridos, é permitir que os trabalhadores ajustem os seus horários para acomodarem as obrigações pessoais. Outras políticas populares incluem ajustar a carga de trabalho dos colaboradores para acomodarem as responsabilidades familiares e facilitar-lhes o acesso a tempo livre remunerado.

5 – Não perder de vista as prioridades estratégicas. 

Antes da pandemia de COVID-19, mais de 70% das empresas S&P 500 publicaram prioridades estratégicas – objectivos para o futuro que se concentram na atenção de uma organização às escolhas que são mais importantes para o sucesso. As prioridades estratégicas habituais incluem melhorar produtos e serviços, acelerar a inovação, tornar as operações mais eficientes, desenvolver talento e executar uma transformação digital, entre outras.

É compreensível que uma crise extraordinária distraia os líderes das suas prioridades existentes, mas é também um erro. Em muitos casos, os objectivos estratégicos definidos antes da COVID-19 permanecerão igualmente importantes ou sê-lo-ão ainda mais no futuro. A mudança para o trabalho remoto, porém, cria novos desafios para atingir esses objectivos. Ganhar quota de mercado é difícil nas melhores circunstâncias, mas muito mais agora, que o mercado está em queda. Os líderes devem descobrir como criar e manter uma cultura empresarial saudável quando a maioria dos colaboradores está a trabalhar a partir de casa.

Contudo, a mudança para o trabalho remoto também oferece oportunidades para acelerar o progresso nas prioridades estratégicas. Quase 10% dos inquiridos mencionaram oportunidades de formação remotas como uma das medidas mais eficazes que a sua organização tomou para desenvolver as suas competências durante a quarentena. A mudança súbita para o trabalho remoto dá às organizações a oportunidade de repensarem processos existentes que melhoram a eficiência e aceleram as suas transformações digitais.