As confrontações económicas e a polarização política e económica são os riscos mundiais mais significativos, a curto prazo. Esta é uma das conclusões do Global Risks 2020, divulgado pelo World Economic Forum.

O relatório prevê, ainda, o aumento de divisões nacionais e internacionais e a desaceleração da economia, em 2020. A turbulência geopolítica está a conduzir-nos para um mundo unilateral “instável”, de rivalidade entre grandes potências, numa altura em que os líderes mundiais se devem focar urgentemente em trabalhar em conjunto na resolução de riscos partilhados.

O Global Risks 2020 aponta também para a necessidade de os decisores políticos equipararem as metas para a protecção da Terra com as de impulso às economias. E para as empresas evitarem riscos que potenciem perdas desastrosas no futuro, ajustando as suas metas a objectivos baseados na ciência.

Pela primeira vez, na perspectiva a 10 anos apresentada pelo estudo, todos os riscos globais do top cinco em termos de probabilidade são ambientais. O relatório faz soar o alarme em:

- Eventos climáticos extremos com grandes danos ao património, às infraestruturas e perda de vidas humanas;

- Fracasso na mitigação e adaptação às alterações climáticas por governos e empresas;

- Desastres e danos ambientais provocados pelo homem, incluindo crime ambiental, como o derramamento de petróleo e a contaminação radioativa;

- Perda significativa da biodiversidade e colapso de ecossistemas (terrestre ou marinho) com consequências irreversíveis para o ambiente, resultando em recursos severamente esgotados para a humanidade, assim como para as indústrias;

- Grandes catástrofes naturais como terramotos, tsunamis, erupções vulcânicas e tempestades geomagnéticas.

O Global Risks 2020 acrescenta que, a menos que os stakeholders se adaptem à «transferência de poderes de hoje em dia» e à turbulência geopolítica, enquanto se preparam para o futuro, o tempo esgotar-se-á para responder a alguns dos desafios económicos, ambientais e tecnológicos mais prementes.

É exigido um nível de pensamento sistémico para enfrentar os riscos geopolíticos e ambientais iminentes e as ameaças que poderiam, caso contrário, desaparecer do radar. O relatório deste ano foca-se explicitamente nos impactos da crescente desigualdade, nas lacunas da governação tecnológica e na pressão sob os sistemas de saúde.

John Drzik, chairman da Marsh & McLennan Insights, refere: «Existe uma pressão crescente nas empresas por parte dos investidores, reguladores, clientes e colaboradores para que demonstrem a sua resiliência à crescente volatilidade climática. Os avanços científicos mostram que os riscos climáticos já podem ser modelados com enorme precisão e incorporados na gestão de risco e nos planos de negócio. Eventos de grande relevância, como os recentes incêndios florestais na Austrália e na Califórnia, estão a pressionar mais as empresas a tomarem medidas relacionadas com o risco climático, num momento em que também se deparam com grandes desafios cibernéticos e geopolíticos.»

Para as novas gerações, o estado do planeta é ainda mais alarmante. O relatório destaca o modo como os riscos são encarados por aqueles que nasceram depois de 1980. Classificam os riscos ambientais acima de outros respondentes, a curto e a longo prazo. Quase 90% destes inquiridos acreditam que «ondas de calor extremas», «destruição de ecossistemas» e «o impacto da poluição na saúde» se agravarão em 2020; comparando aos 77%, 76% e 67%, respectivamente, para as outras gerações. Acreditam também que o impacto dos riscos ambientais até 2030 será mais catastrófico e mais provável.

Peter Giger, Group chief Risk Officer, do Zurich Insurance Group, alertou para a necessidade urgente de nos adaptarmos rapidamente para evitar os piores e irreversíveis impactos das alterações climáticas e para fazer mais para proteger a biodiversidade do planeta: «Os ecossistemas biologicamente diversos capturam vastas quantidades de carbono e providenciam benefícios económicos massivos, estimados em 33 milhões de milhões anuais – o equivalente ao PIB combinado dos EUA e da China. É imperativo que empresas e decisores políticos acelerem a transição para uma economia neutra em carbono e modelos de negócio mais sustentáveis. Já estamos a assistir à destruição de empresas que falharam na hora de alinhar as suas estratégias face a alterações políticas e às preferências dos seus clientes. Os riscos da transição são reais e temos todos que nos esforçar para os mitigar. Não é apenas economicamente imperativo, é simplesmente a atitude certa a tomar», defende.

O Global Risks Report 2020 foi desenvolvido com o apoio do Global Risks Advisory Board do World Economic Forum.