Um regresso disciplinado ao trabalho será essencial para a recuperação económica no rescaldo da pandemia

 

A crise da COVID-19 e o isolamento contínuo em muitos mercados está a criar desafios sem igual para pessoas e economias de todo o mundo. Os governos estão a criar medidas de apoio económico sem precedentes para apoiar negócios e colaboradores. Ainda assim, ao mesmo tempo que negócios de todos os tamanhos em diferentes sectores lutam pela sobrevivência, enormes números de pessoas estão a perder os seus empregos e a enfrentar sérias incertezas financeiras. Com esta pandemia longe de acabar, e com o seu impacto a ser provavelmente sentido nos próximos anos, uma coisa é certa: o mundo do trabalho nunca mais será o mesmo.

Para limitar a crise económica e o impacto na capacidade das pessoas para ganhar a vida, o mercado de trabalho e todos os seus stakeholders devem ajustar-se rapidamente a esta nova realidade – um novo normal onde o distanciamento físico (aqui sinónimo de distanciamento social) e outras medidas rigorosas serão uma parte integral de todos os processos no local de trabalho durante um tempo considerável. Isto incluirá a criação de uma via mais clara para uma maior flexibilidade da força de trabalho, incluindo trabalhar remotamente.

Por isso, é preciso hoje uma acção urgente de forma a estarmos totalmente preparados para que as pessoas voltem rapidamente ao trabalho com segurança quando chegar a altura certa. Na altura da publicação deste relatório, alguns países europeus anunciaram medidas para abrir activamente sectores de actividade económica.

Atingir a altura certa é fundamental para a economia; um cálculo para a economia alemã indica que uma semana extra de distanciamento resulta numa perda adicional de 0,5% no PIB anual, o que se traduz em maiores quedas no emprego e perdas de rendimentos para os colaboradores. A altura certa será diferente por país e sector e depende das lições tiradas das vagas e etapas da pandemia em todo o mundo.

Organizar e implementar um regresso seguro ao trabalho entre a disrupção de uma pandemia implica desafios significativos. Evitar uma segunda vaga de infecções é uma consideração importante. Uma colaboração e coordenação sem paralelo por parte de diversos grupos de stakeholders – de empregadores e governos a sindicatos, instituições e, claro, os próprios colaboradores – é necessária para nos prepararmos para o novo normal no trabalho. Para que haja a maior certeza possível, é vital que as melhores práticas sejam partilhadas entre países e sectores e que os novos canais sejam criados para aumentar rapidamente protocolos eficazes. Sem processos e directrizes claros, os indivíduos podem temer pela sua saúde ao voltarem ao trabalho e os negócios podem hesitar na sua abertura.

 

Uma aliança no sector RH

Tendo em conta a urgência, o sector dos serviços de Recursos Humanos formaram uma aliança liderada pela Randstad NV, pela Adecco Group e pela ManpowerGroup. Em conjunto, o sector – como maior empregador do sector privado e perito em mercados laborais – irá esforçar-se para dar um contributo vital ao processo de preparar o novo normal, facilitar o regresso seguro das pessoas ao seu trabalho e ajudar negócios e economias a erguerem-se de novo. Empregadores, sindicatos e Organizações Não Governamentais (ONGs) estão convidados a colaborar. Ao mesmo tempo, a aliança reunir-se-á com os governos para apoiar, estimular e endossar estes esforços.

Quanto mais a situação perdurar, maior o impacto na economia, e o número de empregos perdidos continuará a aumentar. Está na hora de nos reunirmos e agirmos. O sector de serviços de RH está a chamar outros stakeholders para todos unirem forças de modo a permitir que empresas e colaboradores voltem rapidamente ao trabalho de modo seguro e produtivo, assegurando segurança para todos.

Iremos lidar com um novo normal, no qual o distanciamento físico, as medidas extraordinárias de higiene, os testes regulares e outras soluções que ainda não foram decididas serão fundamentais para o futuro previsível. Para optimizar a segurança das pessoas à medida que estas regressam ao trabalho, terão de existir directrizes, processos e protocolos claros para apoiar colaboradores e empregadores. Isto terá de ser organizado por país, por sector e, no fim, por empresa.

Os protocolos de higiene e segurança terão de ser actualizados para uma “economia estimulada pelo distanciamento físico” temporário. Em vez de reinventarem a roda, os países, os sectores e as empresas devem conseguir desenvolver as melhores práticas existentes e partilhá-las globalmente. O sector dos serviços de RH está pronto a ajudar a organizar e implementar isto.

 

Criar um regresso seguro ao trabalho

Trabalhando de perto com empregadores e colaboradores colocados, os fornecedores de serviços de RH há muito que abraçaram e integraram as medidas de higiene e segurança exigidas, como a regulação governamental e do sector. Faz parte das actividades regulares do sector ao colocarem um colaborador numa vaga. O valor acrescentado de players no sector dos serviços de RH está na sua capacidade de partilhar conhecimentos e experiência sobre as melhores práticas nas diferentes abordagens de higiene e segurança em diferentes sectores e países. Serão capazes de ajudar a unir os conhecimentos e a experiência do sector.

- Os peritos do sector podem oferecer acesso a casos das empresas para aprenderem com pares de diferentes ou do mesmo sector;

- Podem desbloquear material existente e possíveis abordagens baseadas em desafios individuais;

- Podem ajudar os empregadores a lidar com os planos de reiniciar os negócios com base nas melhores práticas e ligá-los aos contactos certos (local ou internacionalmente);

- Podem oferecer apoio prático em termos de fornecimento flexível de trabalho, gestão de mão-de-obra, implementação de trabalho à distância, transição, formação e desenvolvimento de competências, e mais.

 

Como pode o COVID-19 ser integrado nesta abordagem de H&S existente?

Como parte das diversas estratégias de intervenção de Higiene & Segurança, a abordagem que se baseia nos sistemas de gestão de segurança pode ser adaptada de forma a integrar outras áreas fundamentais de influência, como a prevenção da COVID-19 e a recuperação estratégica. Para definir os níveis de risco e a abordagem certa em circunstâncias específicas, é possível usar uma versão adaptada da Hierarquia de Controlos do Instituto Nacional de Higiene e Segurança Ocupacional dos EUA.

 

Próximos passos

O sector dos serviços de RH está a apelar à acção, e a chegar a todos os stakeholders relevantes e a pedir-lhes para fazerem a sua parte. Para começar, os criadores da aliança irão pedir a mais players do sector dos RH para se juntarem. Empregadores, sindicatos e ONGs estão convidados a colaborar. Ao mesmo tempo, a aliança reunir-se-á com os governos para apoiar, estimular e endossar estes esforços.

O enfoque inicial estará em empresas de cinco sectores (Transportes & Logística; Automóvel; Produção & Ciências da Vida; Construção e Alimentar) e 10 países/regiões (Bélgica; França; Alemanha; Itália; Japão; Países Baixos; Nórdicos: Noruega, Suécia, Finlândia e Dinamarca; Espanha; Reino Unido e Estados Unidos da América).

A coligação fará a ligação a stakeholders num nível país-a-país nas próximas semanas.

 

Retrato do impacto económico da crise do coronavírus até agora

- 3,3 milhões de norte-americanos candidataram-se a benefícios de desempenho na semana que acabou a 21 de Março. Na semana seguinte, candidataram-se 6,9 milhões, seguidos de mais 6,6 milhões na semana que acabou a 4 de Abril. Antes desta crise, o número mais alto de candidatos ao desemprego alguma vez recebidos numa semana foi de 695 mil (em 1982).

 

- As medidas de isolamento total ou parcial afectam agora quase 2,5 mil milhões de colaboradores, representando cerca de 81% da força de trabalho mundial. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) espera 195 milhões de empregos perdidos em todo o mundo no segundo trimestre, 12 milhões deles na Europa.

 

- Muitos países responderam com níveis extraordinários de pacotes de estímulo fiscal e económico para amortecer o impacto económico da crise. Por exemplo, os Estados Unidos da América aprovaram recentemente um pacote de estímulos de dois biliões de dólares.

 

- Embora seja cada vez mais difícil prever o impacto na economia global nos próximos tempos, existem vários cenários desenvolvidos pela McKinsey em colaboração com a Oxford Economics. 40 a 50% do consumo discricionário não irá acontecer; esta queda no consumo traduz-se numa queda de aproximadamente 10% no PIB das regiões afectadas.

 

- No cenário “vírus contido; crescimento de recuperação”, a maioria dos países deve passar por uma drástica queda do PIB no segundo trimestre, algo inédito desde a Segunda Guerra Mundial. A queda anual do PIB deverá ser de -8%.

 

- Noutro cenário “reaparecimento do vírus; crescimento lento a longo prazo”, indica uma queda de 13% no PIB de 2020. O Estados Unidos da América e a Europa enfrentariam uma queda no PIB de 35% a 40% a uma taxa anual no segundo trimestre. A maioria dos países demoraria mais de dois anos a recuperar para os níveis pré-vírus do PIB.