Não é novidade que, nos últimos anos, Portugal se tenha tornado um importante hub internacional de tecnologia; o “Vale do Silício Europeu” e não só; muitos centros de serviços partilhados em diversas outras áreas também se multiplicam pelo país. O que é novidade é o ritmo e o número de empresas que decidiram instalar no país as suas operações em busca de profissionais altamente qualificados nos últimos 12 meses.
Com isso, o desafio da escassez de profissionais torna-se fulcral para as empresas, afetando diretamente a produtividade e a retenção de talentos.
Como atrair o talento? Como evitar perdê-lo durante um processo ou ao fim de poucos meses de empresa, garantindo uma experiência positiva?
Foi este o foco no pequeno-almoço da Randstad e Tyson Foods no passado dia 18 de maio, um evento muito interessante com algumas das maiores empresas globais que estão a iniciar, ou que já estão bastante avançados, na construção de um hub em Portugal, onde diversas reflexões foram feitas e algumas boas práticas foram partilhadas.
Retenção de Talentos e Cultura Organizacional
O debate contou com a participação da PwC, Nokia, Siemens, Fintru (fintech da Irlanda do Norte), AICEP, Fortinet e Tyson Foods - maior empresa de carne do mundo, e muito se falou sobre o processo de constituição de um hub em Portugal no âmbito do “talento”. Empresas que já o fazem há muitos anos, como Nokia, Siemens e PwC, empresas que acabam de iniciar esse processo, como a Tyson e a Fortinet, partilharam quais são os desafios e o que cada um acredita que seja necessário para atração e retenção desse talento.
Falou-se em Employer Brand, tech-stack, oferta financeira, estabilidade, como alguns dos motivadores que podem ser trabalhados para atrair o candidato e melhorar a experiência dos colaboradores. E também de um dos conceitos mais atuais para a retenção, o employee experience é fundamental para a satisfação dos colaboradores.
Employee experience o que é?
É cada vez mais premente a preocupação sobre a experiência de um profissional numa determinada empresa. Começa a ser consensual que a retenção passa por um processo constante durante os anos de cada um dos colaboradores na empresa e que simplesmente propor uma contraoferta no momento que pedem demissão é ineficaz e, em geral, tarde demais ou com um efeito apenas temporário.
As empresas devem estar atentas ao processo de recrutamento; desde o primeiro contacto com o candidato (quer seja diretamente, quer seja por meio de um parceiro), os discursos devem ser alinhados, as expectativas atendidas e os feedbacks sempre fornecidos. Acredita-se, cada vez mais, que a employee experience começa no primeiro contacto com o candidato, e vai até o dia da sua saída da empresa.
Entretanto, para conseguir atrair, mantê-los motivados e alheios aos repetidos contactos de outras empresas é preciso, para além de todos os motivos citados, uma mudança de paradigma. E esse desafio, que é menos óbvio, pode ser bastante impactante.
Cultura Organizacional: O conceito de internal client
O conceito de internal client é já muito difundido e aceite pelas empresas, especialmente no contexto de melhorar a experiência do colaborador. Contudo, num paralelismo com a época de hiperconsumo que vivemos e como olhamos para as redes sociais, é necessário que as empresas, nomeadamente os departamentos de Recursos humanos, olhem para os colaboradores como “consumidores”.
É um balanço complexo que passa por criar políticas que atendam a empresa de forma transversal e, ao mesmo tempo, individualizem as necessidades de cada colaborador, visando a retenção de talentos. É o desafio diário da Netflix, do Facebook, do Instagram e de diversas outras plataformas: através do comportamento do utilizador, conforme as opções disponíveis, desenvolver um produto individualizado.
Parte do também conhecido “HR transformation” passa pelo armazenamento, tratamento e utilização estratégica dos dados e o processo de mapeamento e compreensão do público interno da empresa. Todos os modos de interação com os RHs e das áreas de suporte ao colaborador devem ter os seus sistemas, plataforma de ticketing, automação de processos, utilização de analytics para perceber comportamentos e, principalmente, a utilização dessas informações estrategicamente.
Ao tentarmos listar o que os colaboradores querem ou acreditam querer, teremos uma lista quase infinita, que reflete a diversidade de necessidades para melhorar a experiência no ambiente de trabalho. E é impossível responder a todos os pedidos para garantir uma experiência positiva para cada colaborador. Contudo, ao analisar o comportamento dos colaboradores através dos dados recolhidos, pode-se ter uma ideia muito mais clara do que realmente cada um precisa.
Estes dados fornecem-nos os devidos insights para atender o colaborador de forma verdadeiramente individualizada, influenciando o seu engagement com o projeto e prevenindo eventuais insatisfações e, consequentemente, saídas inesperadas.
Com este novo paradigma, não se pode garantir uma redução drástica e imediata do turnover a números pouco significativos, já que falamos de pessoas que podem mudar de opinião e vontades sobre a sua experiência positiva no ambiente de trabalho.
Importancia da Estratégia de Employee Experience nas Empresas em Portugal
O volume de empresas a instalar ou ampliar as operações em Portugal cresce e, com ele, o desafio de encontrar talentos. Ter uma visão geral das necessidades dos colaboradores, poder prever insatisfações e ao tratá-los como consumidores com particularidades e perfis específicos, há uma contribuição decisiva para a redução do attrition rate e no desenvolvimento no curto e médio prazo de uma cultura de estabilidade interna.
Em virtude do exposto, acredito que ter uma maior visibilidade dos riscos, prevenir ou atrasar possíveis saída permitindo à empresa uma melhor gestão de mudança nas equipas e antecipação de ameaças futuras. Esta estabilidade e previsibilidade são fundamentais para o desenvolvimento de qualquer empresa. E ainda mais importante num país onde a procura pelo talento torna-se mais e mais competitiva.
FAQs - Perguntas Frequentes sobre Employee Experience
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1. O que é o Employee Experience?
O Employee Experience é o conjunto das perceções e vivências que um colaborador tem ao longo da sua jornada na empresa – desde o primeiro contacto até ao momento da saída. Inclui tudo: ambiente, cultura, ferramentas, interações e bem-estar.
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2. Employee Experience: o que é? E, porque é importante?
O Employee Experience define-se pela soma de todas as experiências que influenciam a satisfação do colaborador. É determinante para promover uma experiência positiva, estimulando a retenção de colaboradores e fortalecendo a cultura organizacional.
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3. Como o Employee Experience influencia a retenção de talentos?
Quando cada momento do percurso do colaborador é bem pensado — desde o recrutamento até o reconhecimento — aumenta-se o engagement e reduz-se a rotatividade. Uma experiência dos colaboradores valorizada torna-se num dos principais fatores de retenção de talentos.
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4. O que significa tratar o colaborador como “internal client”?
Tratar o colaborador como “internal client” significa adotar uma abordagem personalizada, semelhante ao que acontece no cliente externo. Na prática, o departamento de Recursos Humanos utiliza dados e analytics para compreender necessidades individuais e proporcionar respostas mais ajustadas.
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5. O que é cultura organizacional e por que faz diferença?
A cultura organizacional refere-se ao conjunto de valores, normas, comportamentos e práticas vividas dentro da empresa. Quando bem definida, cria um ambiente de pertença, coesão e motivação, suportando uma employee experience memorável.
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6. Por que uma abordagem reativa ao turnover já não funciona?
Oferecer uma contraoferta apenas quando o colaborador está prestes a sair é eficaz apenas a curto prazo. A retenção sustentável exige um trabalho contínuo desde o recrutamento até à valorização individual, construindo uma experiência positiva constante que previne o desengajamento.
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7. O que distingue uma empresa com boa Employee Experience?
São empresas onde cada etapa — desde a atração ao desenvolvimento — é desenhada com foco na experiência do colaborador. Isto inclui clareza nas expectativas, feedback transparente, envolvimento ativo, apoio contínuo e antecipação de necessidades. Essa abordagem é essencial para construir estabilidade interna e reforçar a retenção de colaboradores.