O teu problema pode não ser o excesso. A resposta está no boreout: o fenómeno contrário ao burnout. E vai mudar a forma como vês o teu trabalho.

Todos conhecemos o termo burnout, o esgotamento causado pelo excesso de stress e trabalho implacável. Mas e se o teu inimigo não for o excesso, mas sim um vazio ensurdecedor? É aqui que entra o Boreout, o seu gémeo silencioso: um estado de sub-exigência crónica que, sem que dês por isso, pode ser tão ou mais prejudicial para a tua saúde mental e carreira.

Neste artigo, vamos mergulhar a fundo no universo do Boreout. Vais descobrir exatamente o que é, qual o seu verdadeiro significado, e como se distingue no dilema burnout ou boreout. Mais importante, vamos dar-te as ferramentas para identificares os seus sintomas subtis e encontrares um tratamento eficaz para recuperares o controlo e o propósito.

boreout: o fenómeno contrário ao burnout
boreout: o fenómeno contrário ao burnout

boreout: o que é e qual o seu significado?

Para percebermos o que é o Boreout, temos de ir além da superfície. Não se trata do tédio que sentes numa sexta-feira à tarde. É uma condição psicológica complexa, um estado de apatia profissional que mina a tua energia e autoestima de forma silenciosa, mas persistente.

desmistificando o boreout: muito mais do que simples tédio

O verdadeiro significado de boreout assenta numa combinação perigosa de três pilares que se alimentam mutuamente:

  • falta de desafios: as tuas tarefas são tão repetitivas ou fáceis que as consegues fazer em "piloto automático". Sentes que as tuas competências e a tua inteligência estão a ser subaproveitadas, o que gera uma profunda frustração.
  • desinteresse: não vês qualquer propósito ou relevância naquilo que fazes. O teu trabalho parece-te inútil ou desligado dos teus valores pessoais, levando a um distanciamento emocional completo das tuas funções.
  • tédio crónico: como resultado dos dois pontos anteriores, instala-se um tédio profundo e constante. Não é apenas aborrecimento, é uma sensação de vazio e estagnação que te acompanha ao longo do dia de trabalho.

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Apesar de parecerem opostos, o dilema burnout e boreout partilham uma consequência devastadora: a exaustão emocional e o cinismo. Ambos te roubam a energia e a paixão pelo trabalho, ainda que por caminhos diferentes.

O burnout queima-te pelo excesso. A sua causa principal é o excesso de trabalho e de stress, que te leva a um estado de frenesim e ansiedade constantes, dominado pelo pensamento "tenho demasiado para fazer".

O boreout, por outro lado, congela-te pela falta. Nasce da falta de desafios e do tédio, resultando num estado de apatia e frustração, onde a percepção dominante é "não tenho nada de relevante para fazer".

No entanto, o resultado final é perigosamente semelhante. Ambos levam à exaustão, ao cinismo e a uma perda profunda da autoestima e eficácia profissional. No fundo, ambos representam um desalinhamento profundo entre ti e a tua função, um sinal claro de que algo na tua vida profissional precisa de mudar.

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estás a sofrer de boreout? os sintomas a que deves estar atento

Identificar o boreout pode ser um desafio. Ao contrário do burnout, cujos sinais de exaustão são mais evidentes, os sintomas de boreout são subtis, muitas vezes disfarçados de preguiça ou desmotivação. Esta confusão gera um ciclo de culpa, fazendo com que te sintas responsável pelo teu próprio vazio. É crucial aprender a reconhecer estes sinais para poderes agir.

sinais comportamentais: as estratégias para "parecer ocupado"

Um dos primeiros sinais manifesta-se no teu comportamento diário. Desenvolves, quase inconscientemente, um conjunto de estratégias para mascarar a falta de trabalho e de estímulo. É a arte de "parecer ocupado".

A procrastinação de tarefas simples torna-se a norma. Adias indefinidamente aquele email ou aquele pequeno relatório porque, no fundo, sabes que o consegues fazer em dez minutos. Esticar o tempo de execução é uma forma de preencher o vazio de oito horas de trabalho.

Passas mais tempo a planear o trabalho do que a executá-lo. O teu dia é consumido a fazer listas, a organizar ficheiros ou a pensar na melhor forma de abordar uma tarefa, tudo para evitar o momento em que a tens de começar e terminar rapidamente, regressando ao tédio.

O teu browser tem mais separadores abertos com notícias, redes sociais ou compras online do que com ferramentas de trabalho. O uso do tempo de trabalho para assuntos pessoais não é um desvio ocasional, mas sim a tua principal atividade para fazer as horas passar.

A falta de iniciativa é gritante. Evitas ativamente voluntariar-te para novos projetos ou assumir mais responsabilidades. A ideia de ter mais trabalho, mesmo que potencialmente mais interessante, parece esgotante porque a tua energia mental já foi consumida pela apatia.

sinais emocionais e psicológicos: o peso do vazio

A máscara de "ocupado" que usas para fora esconde uma realidade interna muito mais sombria. O verdadeiro impacto do boreout mede-se no desgaste emocional e psicológico que provoca.

Sentes-te inútil. O teu cérebro, uma ferramenta poderosa, está em modo de hibernação, e isso corrói a tua autoestima profissional. Começas a duvidar das tuas próprias capacidades, não porque falhaste, mas porque nunca tens a oportunidade de ter sucesso.

A apatia transforma-se em irritabilidade e cinismo. Ficas impaciente com os colegas que parecem entusiasmados com o trabalho. As reuniões parecem uma perda de tempo monumental. Desenvolves um distanciamento emocional como mecanismo de defesa para te protegeres da frustração.

Paradoxalmente, o fim de semana torna-se uma fonte de ansiedade. A ideia de regressar na segunda-feira para mais um ciclo de tédio e sub-exigência é esmagadora. Não é o trabalho que temes, é a falta dele.

Finalmente, surge a crise de consciência. Sentires-te culpado por seres pago para fazer tão pouco é um sintoma clássico. Esta dissonância entre receber um salário e sentir que não o mereces é psicologicamente desgastante e alimenta a narrativa de que és uma fraude.

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do tédio à ação: tratamento e estratégias para vencer o boreout

Reconhecer que estás a sofrer de boreout é o passo mais difícil. O passo seguinte é passar à ação. A boa notícia é que, ao contrário de muitas outras situações, aqui tens um poder considerável para mudar o rumo dos acontecimentos. O tratamento do boreout começa contigo.

o que podes fazer: estratégias individuais

Assumir o controlo da tua situação profissional é a forma mais eficaz de combater a apatia. Em vez de esperares que a motivação apareça, cria as condições para que ela floresça.

  • diagnóstico e diálogo: o primeiro passo é ter uma conversa honesta e construtiva com a tua liderança. Agenda uma reunião, prepara os teus pontos e aborda o tema não como uma queixa, mas como uma procura de soluções. Explica que sentes que as tuas capacidades estão a ser subaproveitadas e que gostarias de assumir mais responsabilidades ou desafios.
  • proatividade estratégica: não esperes que te deem novas tarefas; encontra-as. Observa a tua equipa e a tua empresa. Que processos podem ser melhorados? Que problemas ninguém está a resolver? Apresenta uma pequena proposta para um novo projeto ou oferece-te para ajudar um colega sobrecarregado. Isto demonstra iniciativa e reposiciona-te como um solucionador de problemas.
  • upskilling e reskilling: usa o tempo ocioso a teu favor. Em vez de o preencheres com distrações, preenche-o com conhecimento. Faz cursos online, aprende uma nova ferramenta de software relevante para a tua área ou aprofunda um idioma. Isto não só te torna um profissional mais valioso como também te devolve um sentido de progresso e conquista.
  • redesenha a tua função (job crafting): esta é uma estratégia avançada que envolve moldar subtilmente as tuas tarefas para que se alinhem melhor com os teus interesses e pontos fortes. Podes, por exemplo, propor-te a mentorar um colega mais novo ou a organizar os eventos da equipa. Pequenos ajustes podem fazer uma grande diferença na tua satisfação diária.

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o papel das empresas no tratamento do boreout

Apesar de a tua iniciativa ser fundamental, o boreout é muitas vezes um sintoma de problemas organizacionais. As empresas têm uma responsabilidade partilhada na criação de um ambiente de trabalho que previna ativamente a sub-exigência.

Uma cultura de diálogo aberto é essencial. As lideranças devem promover check-ins regulares que vão além do "o que estás a fazer?" e que incluam perguntas como "estás a sentir-te desafiado?", "sentes que o teu trabalho tem impacto?".

As organizações mais inteligentes promovem a mobilidade interna e o desenvolvimento de carreiras. Oferecer oportunidades claras de crescimento e de transição para outras funções é uma das formas mais eficazes de reter talento e garantir que as pessoas se mantêm motivadas e desafiadas.

No final do dia, o tratamento do boreout a nível empresarial resume-se a uma coisa: garantir que cada função tem um propósito claro e que cada pessoa compreende como o seu trabalho contribui para os objetivos maiores da organização. Um colaborador que se sente valorizado e com propósito raramente se sentirá aborrecido.

boreout vs. burnout
boreout vs. burnout

mais do que um trabalho, uma questão de propósito

Se chegaste até aqui, é porque reconheces que o vazio no trabalho é mais do que simples tédio. O boreout não é um sinal de preguiça, mas sim um alarme que te avisa que algo fundamental está em falta: o propósito.

Compreender que o teu cérebro anseia por desafios e que a tua motivação se alimenta de significado é a chave para a mudança. Não estás condenado à apatia. As estratégias que explorámos mostram que tens o poder de ser o arquiteto de uma vida profissional mais estimulante, seja através do diálogo, da proatividade ou do desenvolvimento de novas competências.

No final, a luta contra o boreout é a luta por uma existência profissional que te preencha. É a recusa em aceitar a estagnação e a procura ativa por um trabalho que não só pague as contas, mas que também te enriqueça, te desafie e te dê um motivo para saíres da cama de manhã.

Identificas-te com o fenómeno do boreout? Partilha a tua perspetiva nos comentários. A tua história pode ser o ponto de viragem para outra pessoa. Se sentires que precisas de ajuda para navegar esta fase, não hesites em procurar o apoio de um profissional de saúde mental.