O fator higiénico é necessário e deve ser ponderado. Não é diferenciador, mas é parte integrante do contexto e por isso não pode ser ignorado. Os salários são isto mesmo, um elemento inerente ao trabalho, que não o resumem mas que contribuem para a sua atratividade e para a concretização do contrato que estabelece a relação laboral.

Hoje mais do que nunca temos necessidade e até urgência, a bem da competitividade, de que as empresas saiam do espartilho dos salários baixos. 
O período de reajuste económico e financeiro afetou de igual modo as organizações e os indivíduos: a procura de bens diminuiu, as empresas tiveram de reduzir a produção e, consequentemente, de baixar os seus custos fixos e variáveis. O fecho de empresas acelerou, e com isto vieram os despedimentos, a mais dura consequência da retração económica. 

Nos últimos dois anos tem vindo a registar-se uma melhoria sensível dos índices macroeconómicos nacionais e, apesar de no espectro empresarial a elevada competitividade do mercado e até as incertezas de uma economia aos repelões serem fatores que implicam cautela, os factos são evidentes: o desemprego tem vindo consistentemente a diminuir; existe crescente dificuldade de encontrar no mercado os perfis profissionais desejados pelas empresas. 
Perfis profissionais que não se restringem a áreas tecnológicas; referimo-nos a pessoas para funções diversas, algumas delas sem exigência de competências técnicas. Mas se o desemprego está ainda a dois dígitos, porque é que isto acontece? Existem trabalhos que só se pagam a si mesmos e pouco ou nada contribuem para quem os realizam. Ordenados que se esgotam no transporte, alimentação e habitação e que não ultrapassam os subsídios sociais. 

É tempo, pois, de olhar para a remuneração como um atributo propiciador do desenvolvimento saudável das organizações. Sem devaneios mas com a certeza de que temos de sair dos ‘mínimos’ se queremos alcançar o ‘máximo’. E precisamos mesmo... 
Pelo bem das pessoas, que são parte integrante do sucesso da economia, pelo bem das organizações, que vão ser mais competitivas porque têm talentos a trabalhar, e pelo país, que não poderá ser um low cost da Europa, sem marca própria e sem fator de distinção. Recordemos os países que tiveram esta estratégia e que já não estão no topo da lista dos principais destinos de centros de serviços partilhados. 

Temos de ser competitivos com o salário mínimo, médio e máximo, deixemos de juntar o mínimo com o médio, demonstrando que a nossa competitividade é mais do que um fator higiénico, é talento, são as pessoas. 

Diretor-geral da Randstad Portugal