As pessoas são o maior activo das empresas. este não é um cliché e a guerra do talento, assim como as estratégias de employer branding das organizações, assim o comprovam

A tecnologia não veio alterar o paradigma, veio apenas alterar quem executava determinadas tarefas e, ao mesmo tempo, permitir que as pessoas estejam apenas ligadas ao que é realmente criador de valor. Pessoas que não são insubstituíveis (por muito que nos custe, porque temos sempre esta vontade e secreto desejo de sermos sempre indispensáveis). Os talentos são sempre substituíveis por outros talentos e a dinâmica do mercado não é má, é parte integrante da relação contratual. Para quem saí existem novos desafios funcionais e de cultura e, para a empresa, é sempre um período de renovação e de confirmação da sua estratégia, trazendo ou integrando novas pessoas na estrutura, dando novas responsabilidades e assimilando novas formas de ver e de abordar os temas.

Prevê-se que a dinâmica do mercado venha cada vez mais a acelerar, inclusivamente porque tanto a flexibilidade como a ligação a projectos é algo que as gerações mais recentes desejam e que pode ser benéfica para as empresas. O crescimento da gig economy mostra isso mesmo e o desejo e a viragem para modelos de outsourcing também, porque as empresas devem estar exclusivamente focadas no seu core business.

Se as empresas sobrevivem à saída dos seus talentos, então os talentos também conseguem continuar a sê-lo quando saem das empresas? A resposta é claramente sim. Sim, porque acredito que o talento é do profissional que se consegue reinventar, manter actual, ser útil e ser um business case da forma como vai criar valor na função que vai desempenhar.

Este posicionamento de valor, de utilidade é responsabilidade da pessoa, do profissional e não se esgota após o período experimental. Antes, deve ser uma constante. Não deve existir a presunção de que terá para sempre o seu lugar, mas deve haver o investimento de criar sempre o seu lugar, de o tornar relevante. Porque o fim do talento acontece no momento em que nos tornamos invisíveis e nem percebemos a diferença que conseguimos gerar na função que desempenhamos.

A relação laboral é este desequilíbrio, entre a empresa que atrai e retém, mas que ao mesmo tempo precisa apenas de quem está, de quem é relevante. A vida profissional é o nosso caminho, é o que fazemos todos os dias, e é o valor que geramos que tem de contribuir para a satisfação pessoal de cada um.

Não há “para sempre” sem relevância, não há também insubstituíveis, porque todos sobrevivemos à mudança independentemente de existir um processo mais ou menos doloroso. A mudança é um motor e é sempre uma oportunidade. Por isso, mais do que ver o copo meio cheio ou menos vazio, o importante é focarmo-nos no copo e continuar a andar para a frente, reconhecendo o valor do talento e garantindo o cumprimento da estratégia.

Por José Miguel Leonardo, CEO Randstad Portugal in Executive Digest