Ao longo dos anos, debatemos os desafios de gerir a Geração Y na força de trabalho, e estamos agora a compreender a melhor forma de nos adaptarmos às exigências dos colaboradores da Geração Z. Parece um desafio, mas não se sabe ao certo se as gerações jovens de hoje são diferentes dos Baby Boomers que atingiram a maioridade na década de 60 ou a Geração X, que exprimiu o seu individualismo no pós-punk dos anos 80. Não acredito que as atitudes, ideias e aspirações de muitos jovens, com 20 e poucos anos, sejam muito diferentes das que eu tinha nessa idade. 

Talvez tenha uma visão nublada da juventude, mas uma coisa é diferente: a influência da tecnologia nas Gerações Y e Z, assim como nos Boomers e na Geração X que já estão no mercado. 

Correndo o risco de parecer velho, no meu tempo se queríamos informações passávamos horas na biblioteca. O "networking" era uma actividade física onde contactávamos pessoas e guardávamos cartões ou criávamos uma lista de contactos relevantes. Contudo, isto impunha limites às informações e redes a que tínhamos acesso ou às ideias a que estávamos expostos. 

O aparecimento dos smartphones, de motores de busca como o Google e das redes sociais como o LinkedIn e o Facebook alteraram tudo para sempre. E à medida que mudam a forma como comunicamos, portais como o eBay, o freelancer.com, o Upwork e o TaskRabbit estão a alterar a forma como se vê o trabalho. Tal como a Lei de Moore sugere que o poder de processamento dos computadores duplica a cada dois anos, a "Lei de Zuckerberg" sugere que o tamanho da nossa rede segue o mesmo padrão. Ou seja, uma nova geração de colaboradores - a "Selfie" - está a emergir. 

Uma geração que nasceu dos efeitos do mundo pós-crise financeira global, onde a tecnologia e a recessão global mudaram a forma como as organizações trabalham e contratam. Os colaboradores aprenderam que a lealdade do empregador é um oximoro, ao verem muitas organizações a despedir, a transferir trabalho para mercados laborais mais acessíveis ou até a encerrar. 

Esta alteração está a fazer com que questionem o valor do emprego sem contrato fixo, que já não oferece segurança a longo prazo. 
 


A autodeterminação

Por isso, a Geração Selfie está a controlar a sua segurança financeira. Os colaboradores estão a recorrer à aprendizagem online para adquirirem aptidões necessárias no futuro. 

Estão também a ficar interligados por redes de forma a comercializarem capacidades singulares e a identificarem oportunidades de obter um rendimento. Operam num mundo sempre ligado, que não está limitado por tempo, distância ou fronteiras. 

Um estudo recente da PWC concluiu que 40% das pessoas de todo o mundo acreditam que o emprego tradicional vai deixar de existir. Em vez disso, terão as suas "marcas" e venderão as suas aptidões a quem mais precisar. 

A Geração Selfie apresenta novos desafios. Será mais complexa de organizar e gerir porque não está definida pela idade, mas pelo uso da tecnologia e das redes e pela sua capacidade de colaborar. E isto criou uma dor de cabeça para as empresas que ainda estão a perceber como lidar com as Gerações Y e Z e que agora têm de lidar também com a Geração X e com os Selfies. 

Como se pode envolver talento que não é leal a um empregador e que pode trabalhar ao mesmo tempo para a concorrência? Quais as capacidades de liderança necessárias para gerir esta força de trabalho? Esqueçam o que sabem sobre organização laboral eficaz e comecem de novo. Lembrem-se que a Geração Selfie definiu os seus horários, colabora num ambiente online e cumpre de forma pouco convencional. É preciso abordar o empenho e a motivação do talento de forma igualmente diferente. 

Na economia de colaborações temporárias, onde o talento flexível disponível faz cada vez mais parte da estratégia de uma empresa, a Geração Selfie será um importante factor. Devemos então compreender de que forma é que pode acelerar os objectivos empresariais da organização e o que é preciso para a envolver e gerir. 
 

 

Seis dicas para abraçar a geração "selfie":

Investir ao nível da liderança, da comunicação, desenvolver competências e ter infra-estruturas para apoiar os colaboradores selfies são pontos a reter. 

1. Pensar "fora da caixa". Só porque um cargo tem sido ocupado por um colaborador permanente, não significa que deverá ser sempre assim. Contratos, subcontratos e "crowd sourcing" são alternativas. 

2. Compreender as necessidades. Quais as tendências e eventos que podem ter impacto no negócio? Sem este conhecimento não é possível determinar os melhores recursos. 

3. Investir na liderança. Os líderes precisam de uma mentalidade de colaboração que se concentre em resultados para todos. Assegurem-se de que têm as competências para gerir e comunicar com uma força de trabalho dispersa por diferentes culturas. 

4. Desenvolver redes de talento. Identifiquem as comunidades e redes onde o talento "se encontra" e criem relações. 

5. Oferecer infra-estruturas aos selfies. Assegure-se que a organização está tecnicamente equipada para apoiar esta colaboração e os novos modelos laborais. 

6. Comunicação consistente. Lembrem-se de comunicar regularmente com os envolvidos sobre progressos e desafios, assim como partilhar resultados empresariais. 

 

Por Steve Shepherd, analista de Mercados de Trabalho Ásia-Pacífico da Randstad