A psicologia que estimula o engagement – a vontade de competir, melhorar e ultrapassar desafios, e ser imediatamente recompensado ao fazê-lo – explica o sucesso da gamification.

Por natureza, os seres humanos gostam de competir, de superar as suas próprias expectativas, e de vencer. Desde cedo que aprendemos através de jogos. São reflexo da nossa cultura e determinantes na socialização e aprendizagem. Por outro lado, vários estudos demonstram a importância do jogo em contexto de ensino e formação, demonstrando que é um fator de motivação e envolvimento. Assim, é natural o interesse em explorar a utilização do jogo para potenciar a experiência de aprendizagem e o engagement.

gamification
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Assim surgiu a gamification que, de forma simples, traduz o uso de elementos de jogos, ou técnicas de design de jogos, em contextos não relacionados ao ambiente do jogo. É uma metodologia que usa a própria natureza humana para promover o desenvolvimento e elevar os níveis de motivação.

Assim: como se pode estimular o engagement através da gamificação no local de trabalho? 

Pesquisas mostram que 70% dos esforços de transformação dos negócios falham graças à falta de engagement. E, numa era em que a transformação está a ocorrer a uma velocidade sem precedentes no panorama digital, as empresas de hoje não podem falhar na mudança. E, para isso, é preciso envolver os colaboradores. Definir objetivos claros, dar feedback "on time", e transparência desempenham um papel fundamental nesse desiderato. Os colaboradores querem saber como está o seu desempenho – e querem saber se o que estão a fazer é realmente importante. Isto é particularmente verdadeiro quando são constantemente forçados a ajustar – e a reajustar – o seu enfoque na era digital de hoje.

É aqui que entra a gamificação. Este conceito de motivação digital através dos jogos promete incutir um novo engagement nos colaboradores.

E não, o objectivo não é transformar o trabalho num jogo. É, sim, utilizar a psicologia que estimula o engagement humano – a vontade de competir, melhorar e ultrapassar – e ser imediatamente recompensado ao fazê-lo. A tecnologia é o meio de colocar essa psicologia a funcionar dentro da esfera empresarial.

quais os benefícios?

Se for bem feita, os benefícios da gamificação podem ser enormes. Em 2015, 40% das empresas Global 1000 já a usavam para ajudar nas transições nas empresas. Porquê? Oferece feedback em tempo real. Ninguém gosta de ser surpreendido na avaliação anual. Através da gamificação, os colaboradores não têm de trabalhar para objetivos anuais que são frequentemente irrelevantes – ou esquecidos – quando chega a altura da avaliação. Em vez disso, podem trabalhar com objetivos em tempo real, mensuráveis e importantes, e obter feedback à medida que os objetivos são cumpridos ou não.

Um dos maiores inimigos do engagement é a falta de transparência. Se bem feita, a gamificação permite que os próprios colaboradores se comparem uns com os outros e vejam como são recompensados por isso. 

quando funciona melhor?

Em funções onde os resultados são facilmente avaliados, a gamificação pode funcionar em qualquer situação – para analisar contactos feitos ou queixas resolvidas, por exemplo. Mas há duas áreas realmente importantes onde a gamificação pode servir uma empresa: formação e mobilidade.

Em termos de formação, as empresas têm a oportunidade de evoluir dos webinars – por vezes entediantes – para métodos de formação mais interactivos, que reforçam políticas e a cultura da empresa, todos os dias. Os lembretes dos processos podem ser dados em tempo real.

A cultura de mobilidade crescente também traduz uma área de oportunidade real para a gamificação: oferece a oportunidade aos gestores de monitorizarem, comunicarem e recompensarem facilmente os membros das equipas, independentemente do local onde trabalham, pois são uma presença constante e ativa no ecrã digital.

gamificação na aprendizagem

Usando as mesmas técnicas que os designers de jogos adotaram há muito para manterem os jogadores a passarem a próximo nível, os empregadores sabem que as táticas criam colaboradores motivados e empenhados, que se divertem ao mesmo tempo que aprendem.

Na realidade, os princípios do jogo há muito que são aplicados nas organizações. Por exemplo, os prémios de colaborador do mês, incentivos para cumprir objectivos de vendas e recompensas para todos os cumprem etapas, tudo isso se baseia na gamificação. Criar recompensas para conquistas, avaliar o progresso e oferecer feedback são importantes elementos de motivação para a aprendizagem e desenvolvimento dos colaboradores.

Pesquisas recentes demonstram isto mesmo: 84% dos formadores inquiridos concordaram que a gamificação na formação ajuda a melhorar a retenção de conhecimentos e o desempenho dos colaboradores, segundo um inquérito da Kahoot!. 

Os colaboradores também acreditam no poder da gamificação. Em outro inquérito recente, 79% dos inquiridos revelaram que seriam mais produtivos se o seu trabalho se assemelhasse mais “a um jogo”. Os colaboradores indicaram que gostariam de sistemas de pontos, barras de progresso, feedback em tempo real e capacidade de progredir para diferentes níveis.

noções básicas 

Quer seja mais elementar, quer mais complexo, os programas de gamification têm de ser acessíveis, exequíveis e estar alinhados:

acessíveis

Quer o programa avalie feitos e proezas passivamente ou exija que os colaboradores participem ativamente, a acessibilidade é vital. As aplicações móveis dão aos colaboradores a capacidade de aprenderem e obterem reconhecimento, mesmo que não tenham posto fixo. 

exequíveis

Poucas coisas destroem a motivação como objetivos inatingíveis. É preciso assegurar que os objetivos e as missões são razoáveis e exequíveis. Quando o colaborador atinge e recebe reconhecimento por um feito, a probabilidade de procurar recompensas adicionais é maior.

A motivação pode vir de dentro – estimulada pelo interesse ou pela satisfação – ou pode ser uma resposta a fatores externos como medalhas e prémios. Mas a motivação interna também pode ser poderosa. 

alinhados

Os programas de gamificação devem estar alinhados com a missão e valores da empresa, bem como ter objetivos personalizados para colaboradores individualmente considerados.

advertências

Por um lado, nem tudo é facilmente “gamificável”, por outro a sensação de ter que estar constantemente “ligado” pode originar stress. É preciso encontrar o equilíbrio certo, para manter os colaboradores empenhados, mas não ansiosos. 

A gamificação exige uma cultura de transformação para que seja eficaz. E o engagement continua a exigir uma forte liderança humana e inspiração para ganhar adesão. Por muito boa que seja a gamificação, não resolve tudo. É uma ferramenta; uma ferramenta popular e, tal como acontece com qualquer tecnologia atual, precisa de fazer parte de uma estratégia global para criar resultados.

próximo passo 

A gamificação na realidade virtual e na realidade aumentada serão o próximo passo. Já é possível ver negócios a usarem a RV para os colaboradores aprenderem (e falharem) no ciberespaço e não na vida real.

Fontes: Forbes.com (Daniel Newman)/ HRDive.com (Riia O’Donnell)

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