Como avalia 2014 em matéria de criação de emprego?

Este ano ficou marcado por uma retoma ainda tímida, mas já com consequências na criação de emprego. Os esforços feitos pelas empresas nos últimos anos levaram-nas a aumentar a sua eficiência e esse corte permitiu agora regressar ao investimento nas pessoas, quer através da contratação de trabalhadores temporários, quer no recrutamento de quadros médios e superiores.

Fundamental para nós nesta matéria da criação de emprego é a fiscalização das situações de trabalho não declarado que não contribuem para o desenvolvimento do país e não asseguram as garantias mínimas aos trabalhadores. Em paralelo acreditamos que uma das consequências da crise tem sido também uma aprendizagem das empresas quanto ao cumprimento da lei e à importância da ética (nunca as políticas de governance foram tão importantes). Sentimos isso em especial no nosso sector, pois há uma preocupação acrescida em ter bons players de mercado, focados no equilíbrio de interesses entre as empresas e o trabalhador, prontas a denunciarem más práticas e actividades que vão contra a lei e prejudicam o trabalhador e a economia.

Num ano de desafios, sentimos que as pessoas deram um passo em frente e disseram "eu consigo", reconhecendo que este é apenas um caminho, mas mais confiantes da sua importância e do seu papel para o desenvolvimento. Se somos demasiado positivos? Não, sabemos que são muitos os desafios e a taxa de desemprego em dois dígitos mostram-nos que ainda há muito a fazer, mas sentimos que este foi um ano importante para começarmos a mudar as estatísticas e mais do que isso foi um ano em que se mostrou a verdadeira importância das pessoas nas organizações e na retoma de um país.


Podemos falar de uma retoma das contratações?

Sim, podemos falar em criação real de emprego. Na Randstad quando crescemos é sempre tendo por base a criação de emprego, porque a base do nosso negócio é a colocação real de pessoas a trabalhar. Por isso não é possível apresentar estatísticas com dupla leitura, quando temos cerca de 1000 ofertas em aberto, como aconteceu no início deste mês, significa que temos 1000 empregos reais por preencher e porque somos uma empresa transversal, falamos de ofertas com duração de um projecto, mas também para integração nas empresas.

A retoma do emprego é assim a criação de novas oportunidades laborais, e isso são boas notícias para todos.


Perspectivas para 2015: o que podemos esperar do mercado de trabalho nacional para o próximo ano?

Acreditamos que 2015 vai manter o ritmo tímido deste segundo semestre de 2014, evidenciando o desequilíbrio de aptidões entre as pessoas disponíveis e as necessidades das empresas. Ao reconhecermos este diferencial temos de ver aqui uma responsabilidade e uma oportunidade para as empresas, que sabem o que querem e que se devem por isso focar nas pessoas, porque elas são sem dúvida o factor crítico de sucesso. E poderia pensar que este é um cliché, mas não é e esperamos já no próximo ano ter dados para comprovar. Temos actualmente em curso, em parceria com um cliente nosso, um programa piloto de reconversão de competências de licenciados em áreas não tecnológicas para programadores. Um projecto que alia à qualidade da competência técnica a capacidade das pessoas para uma aprendizagem num curto espaço de tempo, de algo complexo como, por exemplo, a linguagem java. No final de Janeiro teremos dados quanto ao sucesso, mas importa focar que um programa destes deve estar centrado nas pessoas e nas suas competências de aprendizagem de conhecimentos complexos num curto espaço de tempo. Na Randstad acreditamos na reconversão mas sempre com esta particularidade, nunca a avaliação das soft skills foi tão importante como nestes projectos.

 

Quais os sectores que mais contrataram este ano?

Os maiores índices de contratação de quadros médios e superiores, ou seja a nossa área de Professionals, colocou mais pessoas na área do retalho têxtil, reforçando os nossos clientes com posições muito diversificadas desde Area Manager, Store Manager a Product Manager. Também na Technologies (área das Tecnologias de Informação) sentimos um crescimento resultado sobretudo da implementação em Portugal de novas empresas que reconhecem a qualidade da formação técnica dos nossos profissionais.


A área dos Contact Centres teve também um forte crescimento, de destacar que por exemplo em Outubro lançamos uma campanha a nível nacional para preencher 700 vagas que tínhamos em aberto. Uma vez mais, empregos reais na área de serviço ao cliente para grandes empresas na área da banca, telecomunicações e energia.

No trabalho temporário os sectores da Hotelaria, Indústria Automóvel e suas indústrias adjacentes, Logística, Serviços e Retail foram os que apresentaram maior crescimento. 

 

 

Quais as profissões mais procuradas em Portugal?

Olhando para as empresas e para os nossos clientes e se nos focarmos no recrutamento especializado, identificamos as seguintes funções: Account Manager/Business Development (área de Sales & Marketing), Accountant (área de Finance & Banking), Engenheiro de Software (área Technologies) e Engenheiro Civil (área de Engineering & Industry).

Da mesma forma e indo ao encontro dos perfis mais recrutados, no trabalho temporário as profissões mais procuradas foram todas as ligadas à Hotelaria  (empregado de mesa e housekeeping), Administrativos de Back Office de vários sectores tais como Banca, Seguros, Consultoras e Energia e ainda as ligadas a áreas financeiras com foco no reporting e análise de indicadores de negócio. Houve também uma procura em profissões ligadas à área do retalho tais como Assistente de Loja e Promoção, bem como operadores para a indústria e logística.

A nossa área de Contact Centres e o recrutamento especializado que temos para clientes da área das telecomunicações registou maior procura em profissões como Comercial de Tecnologias de Informação, Comercial Telecomunicações de Mercado Empresarial, Gerente loja Telecomunicações, Assistentes loja / promotores de telecomunicações, Gestor de contacto - Banca Telefónica, Gestor de recuperação de crédito e Assistentes Customer Care (também na área das energias).
 

 

Quais os sectores que deverão gerar maior número de oportunidades em 2015?

Acreditamos que, em 2015, negócios na área das Tecnologias de Informação irão manter o seu crescimento, a par da Hotelaria e Turismo que registou em 2014, números nunca antes alcançados. A tendência das empresas nacionais para o processo de internacionalização irá manter-se, pelo que, os sectores do têxtil, calçado e indústria automóvel podem alavancar em 2015, o crescimento do seu número de recursos internos.

Da mesma forma é de prever maiores oportunidades na indústria alimentar e não alimentar e também no sector da Agricultura.

 

 

Quais as profissões que deverão registar maior procura?

Acreditamos que as empresas vão procurar as já referidas e ligadas à Hotelaria e Turismo, áreas de Back Office, consultores comerciais e todas as que estão relacionadas com áreas de reporting e análise de indicadores de mercado.

Que competências mais valorizam as empresas no momento de recrutar?

As mudanças no mercado de trabalho português são evidentes e acompanham a necessidade das empresas de se adaptarem a um mundo empresarial cada vez mais globalizado. As exigências mais recentes prendem-se acima de tudo com o domínio de uma terceira língua para além do idioma nativo e do inglês, mas também às questões informáticas que são cada vez mais relevantes, mesmo na óptica do utilizador.

Outra das exigências que surge com frequência é a da mobilidade, dado que hoje em dia os negócios são feitos além-fronteiras, pelo que a disponibilidade para deslocações internacionais é um requisito fundamental.

Mesmo em perfis mais técnicos é normal as empresas procurarem candidatos que possuam também skills comerciais, catapultando desta forma a força de vendas, sendo o dinamismo e capacidade relacional características procuradas regularmente. Ao nível das soft skills, a capacidade de adaptação e versatilidade aliadas a uma forte capacidade de trabalho e cumprimento de objectivos.

A comunicação verbal, o relacionamento interpessoal e a capacidade de resolver problemas e de decisão também são competências muito valorizadas, não apenas no recrutamento especializado, mas também na área de customer care.
 

 

Conselhos para candidatos que queiram entrar na mira dos recrutadores:

As redes sociais nunca foram uma fonte tão importante de valorização e diferenciação de candidatos. É fundamental estar actualizado e ser um bom cartão de visita. Em paralelo, o CV deve ser coerente com esse perfil virtual, adaptando-se em termos de destaque de experiência à função à qual se candidata. A qualidade da informação, a organização e a objectividade são características fundamentais para garantir que esta ferramenta atinge o seu objectivo – a entrevista.

Se nos focarmos na fase da entrevista, o melhor conselho que podemos dar é a honestidade, motivação e capacidade de persuasão para com os consultores de recrutamento no que respeita ao interesse na função. Mostrar que consegue fazer um bom balanceamento entre o querer aprender, o conteúdo da função e o seu desenvolvimento pessoal, com o aspecto remuneratório. Acima de tudo é preciso mudar a imagem do consultor, que não é um obstáculo para chegar ao emprego, mas sim um conciliador entre a empresa e o candidato, porque numa relação profissional, seja de curto ou longo prazo, tem de se criar uma relação de win-win para as duas partes, para que as experiências sejam sinónimo de sucesso e haja uma troca entre o que se dá e o que se recebe.


Outras considerações que entenda relevantes:
Destacaria mais dois pontos fundamentais, que na verdade giram em torno de apenas um: o trabalho.

Mas começando do princípio. Um dos primeiros pontos que destaco é a importância do trabalho, das experiências e dos projectos. Precisamos de nos focar no valor acrescentado das ofertas e não nas formas contratuais. É fundamental o trabalhador traçar o seu caminho profissional e saber responder a adversidades, ou seja, quando não tem a resposta que procura deve tentar encontrar oportunidades que permitam o seu desenvolvimento, readaptação e capacidade de mudar. Este é um aspecto crítico num mercado onde existe uma desadequação de aptidões e que será decisivo para o sucesso de futuros programas de requalificação de competências.

Segundo ponto fundamental: Portugal tem características que o tornam único e mais do que o clima, são as pessoas que fazem deste país um lugar privilegiado para, por exemplo, o sector dos serviços partilhados. As nossas capacidades linguísticas, o custo de vida, o desenvolvimento tecnológico entre outros factores, são características que nos locam nas melhores posições do ranking para termos por exemplo serviços de customer care para todo o mundo ou atendimento técnico especializado. Para que haja esta atracção de investimento precisamos de quebrar estigmas antigos sobre as profissões. A nossa vida profissional deve ser enriquecida por experiências, que ganham relevo com a própria dedicação e talento. A valorização individual não deve ser manchada por estigmas sociais ligados a determinadas áreas. Devemos sim garantir a qualidade das nossas funções e das condições de todas as pessoas que trabalham e esse é um dever que não está ligado a nenhum sector, mas a todos.

Assim resumo estes dois pontos em apenas um: trabalho, emprego, experiências, projectos. Uma ocupação que nos desafia e que pode ser um episódio ou muitos na nossa vida. Trabalhar é sempre uma oportunidade de desenvolvimento e esse é um caminho cultural que devemos percorrer.