Criar ‘Tecnologia para a vida” é o “propósito maior” da Bosch e isso significa, disponibilizar produtos e serviços que melhorem a qualidade de vida a nível global e, também, preservar os recursos do planeta. Joana Lino garante que, na Bosch, a sustentabilidade está presente em todo o lado, sendo uma linha de orientação quer da estratégia de negócio, quer da cultura organizacional. 

Entrevista a Joana Lino, directora de Recursos Humanos da Bosch Termotecnologia, Aveiro

A Bosch chegou a Portugal há mais de um século, em 1911 mais precisamente, e desde o primeiro momento que tem vindo a investir e a apostar no crescimento de Portugal. É Joana Lino, que recentemente assumiu a direcção de Recursos Humanos da Bosch Termotecnologia, em Aveiro, que o destaca, fazendo notar que, actualmente, são já 6300 os colaboradores da Bosch em Portugal, tornando-o assim um dos maiores empregadores do país. 

A Bosch está presente em quatro localizações: a Bosch Termotecnologia, em Aveiro, a Bosch Car Multimedia, em Braga, e a Bosch Security Systems – Sistemas de Segurança, em Ovar, onde desenvolvem e produzem soluções de água quente, sensores e multimédia automóvel, e sistemas de segurança e comunicação, respectivamente, para além da localização em Lisboa, onde são realizadas actividades de Vendas, Legal, Tax, Marketing, e Contabilidade, bem como serviços partilhados de Recursos Humanos e Comunicação para o Grupo Bosch. 

Qual o propósito que o Grupo Bosch assume no desempenho da sua actividade?

Criar ‘Tecnologia para a vida”, é este o nosso propósito maior. Na Bosch trabalhamos diariamente para inovar, desenvolver e criar tecnologia e soluções conectadas e inteligentes para tornar a vida mais fácil, mais eficiente e segura para o maior número de pessoas, e para proteger o ambiente. Procuramos estar um passo à frente e antecipar todas as possibilidades para que, dessa forma, consigamos moldar e definir aquela que será a tecnologia do futuro.

A sustentabilidade e responsabilidade tem sido uma forte aposta vossa. É parte integrante para o cumprimento desse propósito?

Sem dúvida, está na nossa génese e faz cada vez mais sentido. O nosso fundador, Robert Bosch, defendia a máxima de que “a longo prazo, uma abordagem honesta e justa à forma de fazer negócios vai ser sempre a mais rentável” e, passados séculos da existência da Bosch, esta visão continua a fazer todo o sentido. 

A Robert Bosch GmBH é detida por uma fundação sem fins lucrativos, a Fundação Robert Bosch, e parte dos nossos lucros são direccionados para projectos sociais em todo o mundo. É claro que estamos focados nos resultados, porque são eles que nos permitem criar e manter uma base sólida, mas pautamos a nossa actuação também muito orientada sob esses dois valores da responsabilidade e da sustentabilidade. 

O mundo está em constante mudança, a transformação digital está a impactar a nossa vida, o que traz consigo novos desafios e novas oportunidades, mas também novas e mais responsabilidades. Pela história, pela dimensão que temos e pela inovação que criamos, temos o dever e a responsabilidade de assumir o compromisso de o fazer de forma sustentável, pensando nas gerações vindouras, contribuindo para melhorar a vida das pessoas e da sociedade global.

Em concreto em termos de sustentabilidade ambiental, quais as vossas prioridades que assumem?

A protecção do ambiente e o combate às alterações climáticas são compromissos assumidos de forma clara e inequívoca pela Bosch a nível global. Assumimos o desafio de alcançar a descarbonização em 2020 e conseguimos atingir esse objectivo: fomos a primeira grande empresa industrial neutra na pegada de carbono. 

Além disso, mantemos os nossos esforços para a transição energética, continuando a investir em energias renováveis e na eficiência energética das nossas unidades em todo o mundo. 

Paralelamente a isso, e tendo em conta aquela que é a nossa actividade e estratégia de negócio, desenvolvemos e produzimos produtos que são seguros, amigos do ambiente e que contribuem para ajudar não só a melhorar a vida das pessoas, das cidades e das empresas, como também na redução dos impactos ambientais.

Dê exemplos de algumas ações que tenham promovido neste âmbito?

Para além do exemplo que já referi, de termos sido a primeira empresa industrial a alcançar a neutralidade carbónica no ano passado, temos desenvolvido diversas soluções e tecnologias que visam contribuir para um futuro mais sustentável. Por exemplo, na área da mobilidade, com as nossas inovações tecnológicas que tornam os motores de combustão mais eficientes exigindo um menor consumo de recursos, a apostas na tecnologia da electromobilidade, também nos produtos para uma maior eficiência energética na área da termotecnologia, entre muitos outros exemplos que poderíamos mencionar. Todos eles estão retratados na nossa campanha Live Sustainable #LikeABosch e mostram o nosso compromisso com esta missão.

Qual a importância que este tema assume na gestão do vosso negócio?

Assume uma importância bastante relevante. Na Bosch a sustentabilidade está presente em todo o lado, tanto nos produtos e nas soluções que desenvolvemos, como no dia-a-dia das empresas e dos nossos colaboradores. É algo que faz parte da nossa cultura de empresa. 

Quando dizemos que criamos “Tecnologia para a Vida”, significa disponibilizar produtos e serviços que melhorem a qualidade de vida a nível global e preservar os recursos. O exemplo de que a preocupação pela protecção do ambiente é algo muito relevante para nós está nas acções concretas: assumimos o compromisso de alcançar a neutralidade carbónica, e cumprimos com a nossa palavra na Primavera de 2020. Mesmo em plena pandemia não nos deixámos abater e mantivemo-nos focados nesse objectivo. E já temos definida uma próxima meta que passa pela redução de 15% nas emissões de CO2 ao longo da cadeia de abastecimento até 2030. 

E na gestão das vossas pessoas, essa aposta é igualmente importante? A consciência ambiental é um fator de atracção e retenção de talento?

Sim, sem dúvida que é importante, até porque, sendo esse um dos nossos valores e uma linha de orientação quer da nossa estratégia de negócio, quer daquela que é a cultura organizacional, só faz sentido se as nossas pessoas estiverem alinhadas com essa mentalidade e consciência. 

Sabemos que cada vez mais as pessoas se preocupam com o ambiente, e em fazer a sua parte para contribuir para um futuro mais sustentável. E na Bosch temos a oportunidade de transformar essa visão em realidade, de inovar, de criar algo que faz a diferença e que acrescenta algo positivo na qualidade de vida e na segurança das pessoas. 

Por isso, para nós enquanto empresa é importante haver este alinhamento com a nossa identidade, e para as pessoas que têm esta consciência e que partilham destes mesmos valores, sentem-se bem por poder fazer parte de uma empresa que tem esta mentalidade e postura.

De que forma os vossos colaboradores contribuem para o vosso compromisso ambiental?

A missão da Bosch expressa-se no statement “We are Bosch”, que é simples e compacto, mas mostra de forma clara como nos vemos enquanto empresa. No fundo, dá-nos um mote de entendimento daquilo que somos e daquela que é a nossa estratégia. É fundamental que todos estejamos alinhados com esta missão. 

A nível prático, uso racional dos recursos e um ambiente limpo são princípios básicos da nossa política. Todos os colaboradores são responsáveis pela ajuda na prevenção dos riscos para as pessoas e o ambiente, assim como pelo cumprimento dos requisitos legais e outros aplicáveis à protecção do ambiente, à segurança e à saúde. 

Que outros factores acredita que vos torna uma empresa atractiva para trabalhar?

A preocupação com as pessoas é algo que está na nossa génese, o melhor exemplo está no nosso fundador, Robert Bosch, que foi um dos primeiros empresários a implementar a jornada de trabalho de oito horas diárias. Essa preocupação com as pessoas manteve-se ao longo dos anos, continua a ser vivida nos dias de hoje e está bastante presente nas nossas políticas de Recursos Humanos, nomeadamente nas condições de trabalho e nos benefícios que oferecemos aos nossos colaboradores. 

Para além disso, damos muito valor ao equilíbrio saudável entre os objectivos profissionais e pessoais, e dentro da empresa encorajamos de diversas formas para que isso aconteça, porque acreditamos que é algo fundamental para a promoção da criatividade, produtividade e da satisfação no emprego. Para nós, “homeoffice”, “horário flexível”, “work life balance” já eram uma realidade, mesmo desde antes da pandemia.



 Por outro lado, apostamos também na formação das pessoas. Quando se diz que o sucesso de qualquer organização reside no investimento na capacitação das suas pessoas, isso nunca foi tão importante como agora. 

A juntar a tudo isto, promovemos uma comunicação aberta e transparente entre todas as áreas, e de diversas ferramentas de comunicação interna que utilizamos para manter os nossos colaboradores informados, envolvidos e, em última instância, para que sejam eles os nossos principais embaixadores. 

Quais são as vossas prioridades em termos de Gestão de Pessoas? A pandemia veio alterar a vossa estratégia neste âmbito?

Na Bosch já tínhamos a modalidade de teletrabalho antes da pandemia, embora não fosse utilizada de forma generalizada. A pandemia trouxe a generalização desta modalidade nas áreas/funções cuja natureza assim o permite. Numa fase inicial, os principais desafios estiveram sobretudo relacionados com as questões logísticas, burocracias legais e com a liderança de equipas mistas (uns à distância e outros presenciais). 

A partir daí, e o grande desafio neste momento está na manutenção da cultura e identidade organizacional que nos caracteriza. Por muitos contactos virtuais que as equipas mantenham, o contacto humano, a conversa no momento do café, a interacção de um modo geral e tudo o que ela proporciona ao nível da cooperação e do bom ambiente de trabalho, ficam mais frágeis, não pelo teletrabalho por si só, mas por toda a situação que estamos a viver e que não nos permite compensar esta falta de contacto presencial. 

Além disso, não nos podemos esquecer das actividades de produção que praticamente não pararam – excluindo as abrangidas por cercos sanitários e pelo efeito do confinamento global –, e que nos fizeram adoptar medidas de protecção da saúde das pessoas nunca vistas e gerir um dia-a-dia que vai muito para além daquilo que era o habitual.  

O que acredita que os profissionais mais valorizam actualmente?

Com esta questão da pandemia que fez com que a grande maioria das pessoas se visse confrontada com uma realidade que não era o seu normal, ou seja, o de estar todos os dias a trabalhar a partir de casa, muitas com crianças a cargo, e toda a gestão entre a vida pessoal e profissional que isso acarreta, acredito que atcualmente aquilo que mais aprendemos a valorizar é precisamente esse equilíbrio entre o pessoal e o profissional. Saber que fazemos parte de uma organização para a qual isso é muito relevante é algo que os profissionais valorizam. 

Que tendências perspectiva, quer para a Gestão de Pessoas, quer em termos de Sustentabilidade?

No que diz respeito à Gestão de Pessoas, acredito que no futuro, os Recursos Humanos desempenharão um papel cada vez mais estratégico. A transformação digital está aí, é uma realidade inevitável, e o processo passa não só pela aplicação das ferramentas tecnológicas, mas também pela mudança do mindset em que a experiência do colaborador terá uma preponderância cada vez relevante. 

A sustentabilidade terá, obrigatoriamente, de estar cada vez mais presente na estratégia das empresas. No caso da Bosch, há muito que faz parte do nosso dia-a-dia, quer a nível de política, quer de estratégia de negócio. O futuro passa pela sustentabilidade, e isso reflectir-se-á na mobilidade com uma maior aposta na electromobilidade, na produção de energia e eficiência energética e na inovação e desenvolvimento de projetos relacionados com a economia circular e redução de desperdícios. 

 

entrevista a
Joana Lino, Bosh
Joana Lino, Bosh

Joana Lino

directora de recursos humanos da bosch termotecnologia, aveiro